Capítulo 1 - Crônicas da juventude

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"A guerra é a linguagem dos desesperados, um grito de dor em um mundo que se esqueceu de ouvir o sussurro da paz."

— O Antigo Livro dos Espíritos, escrito pelo Mestre dos Elementos

[Capital do reino de Outorya, vigésimo primeiro ano da Guerra dos Quatro Reinos, luas de julho]

O dia estava quente, como era esperado de uma manhã de verão, mas, ainda assim, era um incômodo. Jisung sentia o suor escorrer por suas costas enquanto caminhava pelos terrenos íngremes da floresta ao redor de sua casa. Ao seu lado, seu melhor amigo, Felix, indicava o caminho com um sorriso no rosto e com a respiração ofegante. Faziam vários minutos que eles caminhavam por aquele cenário de árvores repetitivas, era difícil saber onde estavam, mas o Han confiava nas habilidades do amigo.

Quando se encontraram naquela manhã, Felix insistiu para que eles fossem se refrescar em uma cachoeira que ele ia quando criança, alegando que sabia o caminho mais curto. Jisung hesitou, obviamente, afinal não tinha permissão para se aventurar na floresta quando bem queria, poderia ser seguro para outras pessoas, mas, para o herdeiro de um Lorde em guerra, seria além de perigoso. Mesmo assim, Jisung foi, acreditando que Felix saberia o que fazer em caso de algum problema, como ele sempre sabia.

Os dois eram amigos a anos e sua amizade era baseada completamente em confiança. Quando se conheceram, não se aproximaram de imediato. Apesar de encantado com os cabelos dourados do garoto, que não eram comuns naquela região, Jisung não conseguia evitar a desconfiança de ter um estrangeiro em suas terras. Afinal, seu pai lhe ensinou a agir assim com qualquer um que não fosse natural de Outorya. Já Felix detestava o jeito que os olhos castanhos, curiosos e inocentes o seguiam por todos os lados, como se ele fosse um intruso. Mas também, invejava como o moreno era protegido e não entendia nem um terço de como era o mundo real.

Ambos eram muito diferentes, viviam em situações diferentes, Felix era órfão de guerra, já o pai de Jisung era um dos motivos pelo qual aquele conflito continuava até os dias atuais, tinham todas as razões para não se gostarem. Entretanto, alguns segredos e confissões depois, perceberam que, na verdade, só podiam confiar um no outro naquela época. Bastou a compreensão mútua da situação um do outro para que se tornassem confidentes e depois melhores amigos. Jisung via Felix como um ombro amigo e alguém que estaria ali por ele sempre, e vice-versa. Por isso, não foi difícil seguir o dono dos fios dourados por aquela floresta, mesmo sabendo do perigo que isso representava. Jisung confiava que o amigo não o colocaria propositalmente em perigo e isso bastava.

A única coisa que acompanhava aquela confiança era a exaustão.

— A gente já está chegando? — indagou o moreno, ofegante. Suas pernas fraquejavam a cada passo que davam naquele terreno íngreme. Não estava fisicamente preparado para aquela caminhada.

— Falta pouco. Logo o caminho vai ficar mais plano, não se preocupa. — Felix parou e virou para o amigo, ainda com um sorriso grande e encantador no rosto. Era como se ele fosse a personificação de felicidade naquele momento.

Jisung apoiou as mãos no joelho, puxando o ar com força para os pulmões. Felix riu, antes de estender a mão para o Han.

— Você precisa se exercitar mais.

— Não é como se eu conseguisse fazer uma caminhada pelas montanhas todos os dias igual a você. — o moreno devolveu, pegando a mão que lhe fora oferecida.

Eles deram os próximos passos de mãos dadas, com o Felix basicamente arrastando Jisung consigo.

— Você até consegue, mas é certinho demais para desobedecer o seu pai. — a risada do loiro envolveu os dois.

O Escolhido do Ar - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora