Capítulo 28

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          Rebecca Armstrong Point Of View 
Aqueles dias foram turbulentos, foram dias de intrigas entre os alunos com Freen, discussões entre mim e minha mãe, de confusão do meu povo com meu reinado, era como uma tempestade por um só motivo.
 
E a cada fim de dia eu me pegava com lágrimas nos olhos, não pelas ofensas das pessoas ou pelas acusações de minha mãe, mas sim, porque tudo tinha saído do controle, do meu controle e eu não fazia a menor ideia de como conquistar isso novamente.
 
Todos no castelo tinham muito respeito com a minha pessoa, graças a isso não foram dirigidos nenhuma palavra sobre o atual assunto, entretanto, Freen foi muito confrontada pela maioria dos alunos, por ciúmes ou inveja, ou talvez por serem homofóbicos. Isso me magoava, mas ela não parecia se importar.
 
— Quer mais chá? – Lee me tirou dos meus pensamentos.
 
Limpei a lágrima solitária e confirmei com a cabeça. Minha xícara foi novamente preenchida, olhei para o céu escuro e senti a brisa gelada vir de encontro ao meu rosto, suspirei e me acomodei melhor na cadeira.
 
Ali da sacada do terceiro andar eu me sentia mais perto do céu e longe dos problemas, como se tudo ficasse nos meus pés, todos meus problemas, minhas preocupações, minhas tristezas.
 
Olhei no relógio pela segunda vez e já se marcava seis e meia, meu pai estava mais do que atrasado. Tomei um gole do meu chá e logo escutei os passos atrás de mim.
 
— Filha. – Ele fez uma leve reverência com a cabeça e se sentou na cadeira a minha frente.
 
— Está atrasado. – Continuei a olhar o céu.
 
— Sim, estava em uma ligação.
 
— Problemas?
 
— Você sabe... – Ele suspirou. – Eu li seu depoimento, achei perfeito. Amanhã de manhã estaremos ao vivo com todo o mundo. – Balancei a cabeça monótona. – Rebecca...
 
Virei o rosto para olhar para o homem, ele enrugou a testa em um semblante de pai preocupado, suas mãos pegaram a minha mão livre onde ele apertou trazendo uma certa confiança.
 
— Não tenha medo, não fique triste, não esconda quem você é de verdade, seja sincera, apenas seja a minha pequena Rebecca Armstrong. – Ele sorriu. – Você está lidando com isso muito bem e Freen também.
 
Neguei com a cabeça e desviei o olhar, eu via como todos julgavam Freen, com olhares e palavras afiadas, como se ela fosse culpada por eu amá-la, de alguma forma ela era, quem não amaria Freen Sarocha?
 
— Eles estão a maltratando, papai, os alunos. – Meus olhos lacrimejaram.
 
— Eles estão confusos e com inveja, filha, você não tem culpa.
 
— Nem ela!
 
— Sabíamos que não seria fácil. – Ele afagou minha mão.
 
— Conseguiu falar com o Joaquim DeSantos? – Mudei de assunto.
 
— Sim, ele virá para cá depois de amanhã.
 
— Mande trazer o Nop também. Eu quero saber o que eles têm a dizer. – Falei entre dentes.
 
— Não sabemos se foi o Nop.
 
— Quem mais iria querer me atingir, papai? – Meu pai respirou profundamente. – Ele é meu principal suspeito.
 
— Certo!
 
— E o Dilton?
 
— Os pais dele já vieram buscá-lo e provavelmente está em segurança em sua casa.
 
— Tomou alguma medida para que ele não repita o que fez? – Bebi meu chá que já estava frio.
 
— Sim, ele ficará um mês sem vir para Londres, seu passaporte foi confiscado. Seus pais pagaram uma multa para o garoto não ser preso. – Balancei a cabeça.
 
Olhamos para o horizonte quando o silêncio fez presença, não era desagradável, era necessário para pensar e colocar tudo em ordem.
 
— Os Russos ligaram para mim. – Meu pai falou sem me olhar. – Eles não te querem como Rainha.
 
— O que? – Olhei assustada para meu pai.
 
— Eles disseram que você é fraca e tem o coração muito bom.
 
— Mas o que isso tem haver? Papai, você também tem coração bom.
 
— Rebecca, ser Rei não é apenas dar ordens de melhorias para o país, ser Rei tem seus lados cruéis e egoístas, às vezes eu preciso fechar os olhos para algo que realmente é importante e passar por cima. Quando você está no domínio qualquer coisinha pode te fazer cair, e quanto maior você subir, maior será a queda.
 
— Papai...
 
— Me pergunto se você terá forças para ignorar pessoas que morrem na rua para dar apoio aos outros países. Se você terá coragem de exonerar refugiados para longe de Londres...
 
— Não, papai. Você fez isso?! – Ele não respondeu. – Meu Deus!
 
— Meu trabalho não é fácil, Rebecca. Você sabe disso. – Ele se levantou e colocou as mãos no bolso de sua calça. – Você será Rainha e fará o mesmo, seja forte e então você será uma ótima Rainha.
 
— Por que não ajudar todos? Nosso país é grande, temos bons investimentos...
 
— Não podemos. Se ajudarmos um grupo de refugiados, viriam mais para cá e mais, cada vez mais, não teríamos condições.
 
— Não estou acreditando nisso.
 
— Passe mais tempo comigo, te mostrarei tudo do que precisa aprender e entender. A burocracia é cruel, fique ciente disso.
 
Passei a mão no rosto e voltei a olhar o céu escuro, a lua tentava aparecer no meio de tantas nuvens, seu brilho estava ofuscado, mas ainda resistia.
 
— Vá descansar, amanhã será um dia importante. – Meu pai beijou minha testa. – Seja forte minha filha.
 
O Rei saiu sem dizer mais nada, fiquei um bom tempo ali sentindo o vento gelado e quando meu chá ficou frio por completo, me pus a voltar para meu quarto.
 
— Alteza, Freen veio aqui e a senhorita não estava. – Dave me informou.
 
— Se ela vier de novo, mande ela entrar, estarei aguardando por ela. – Falei entrando no meu quarto.
 
— Sim, Alteza.
 
Fechei a porta e caminhei para o banheiro, tomei um banho demorado e quente, passei creme no meu corpo e fiz massagem em algumas partes. Meu corpo estava tenso e dolorido. Me cobri com meu roupão e sai do meu banheiro, sorri ao ver Freen mexendo nas coisas da minha penteadeira.
 
— Você foi mais rápida do que eu pensei. – Falei enquanto entrava no meu closet.
 
— Eu estava vindo aqui de cinco em cinco minutos. – Ela riu.
 
Coloquei meu pijama de seda, e voltei para meu quarto, Freen estava com minha escova de cabelo na mão, ela me olhou e levantou as sobrancelhas.
 
— Isso aqui é de ouro?
 
— Claro que não, sua boba. – Me deitei na cama.
 
— Que pena, pensei que poderia vender. – Ela colocou no lugar e se deitou ao meu lado.
 
Me aconcheguei ao seu corpo sentindo seu perfume maravilhoso, Freen beijou o topo da minha cabeça e começou a fazer um carinho ritmado no meu braço.
 
— Não vai jantar hoje?
 
— Não, preciso dormir. – Passei o nariz no seu pescoço. – Amanhã eu irei falar com todo o mundo.
 
— Está ansiosa?
 
— Estou com medo. – Me apoiei sobre meu cotovelo e olhei para seu rosto. – Estou com medo deles não me aceitar...
 
— Eles não precisam te aceitar, amor. Quem tem que aceitar o jeito que você é, é você mesma. – Ela afagou meu rosto. – Eu amo você, amo seu jeito, sem pôr e sem tirar nada.
 
Sorri sentindo meus olhos encherem de lágrimas.
 
— Você é mais do que eu preciso, Freenk. Eu te amo! – Beijei seus lábios. – Obrigada por tudo!
 
Freen sorriu percebi que suas bochechas coraram, subi no seu colo e a beijei com paixão, eu queria demostrar o quanto eu estava grata por tê-la em minha vida, por todas as vezes que ela me fez sorrir, por toda vez que sua presença fez meu coração disparar. Freen segurou firmemente minha cintura, ela sorriu entre o beijo e se afastou.
 
— BecBec, eu não vou te deixar dormir se você não parar agora. – Ela falou ofegante.
 
Colei minha testa na sua com um sorriso bobo nos lábios, olhei nos seus olhos castanhos e pude me sentir completa por estar ali, sobre seu corpo quente e confortável. Deitei na cama e puxei seu corpo para mim.
 
— Só me beija, por favor!
 
Não foi preciso repetir, seus lábios já estavam grudados nos meus e sua língua pedia passagem, eu rapidamente atendi seu pedido, sua língua aveludada entrou em contato com a minha, me fazendo gemer por sentir seu gosto único e viciante. Abracei seu pescoço me aprofundando mais no beijo, Freen apertava meu corpo contra o seu, suas mãos percorriam por todo meu corpo, deixando minha pele em chamas. E quando o fôlego nos faltou, seus lábios desceram para o meu pescoço.
 
— Sem marcas... – Ofeguei sentindo seus dentes raspar minha pele.
 
— Correção: sem marcas visíveis. – Ela se ajoelhou na cama e tirou a parte de cima do meu pijama. – Ah... BecBec. – Freen gemeu ao ver meus seios descobertos.
 
A morena mordeu os lábios e se curvou sobre mim, como uma leoa faminta ela abocanhou meu seio com volúpia, deitei a cabeça para trás e gemi roucamente, agarrei seus cabelos forçando ela a continuar com o trabalho, sua língua circulou o bico do meu seio e ela sugou para dentro da sua boca.
 
— Acho que... que vou dormir tarde hoje. – Ofeguei sentindo seu sorriso contra minha pele.
 
— Não, você vai dormir cedo, porém exausta. – Ela sussurrou contra meus lábios.
 
Sorri e assenti com a cabeça, senti sua mão deslizar lentamente sobre o meu abdômen e entrar dentro do meu shorts, suas sobrancelhas se levantaram quando ela percebeu que eu estava sem calcinha também, minhas bochechas coraram, Freen abriu um sorriso safado e tocou gentilmente meu clitóris.
 
[...]
 
Fui acordada hostilmente pela minha mãe abrindo as cortinas da minha janela, agradeci mentalmente por Freen ter saido antes de todos acordar, minha mãe andava de um lado para o outro no meu quarto, suas criadas entraram no meu banheiro e no meu closet, percebi que minha mãe ordenava milhares de coisas para as jovens moças, sua voz não passava de um zumbido irritante para mim.
 
— Levante-se, já amanheceu e você precisa estar pronta.
 
Minha mãe fez menção de tirar minhas cobertas, mas eu rapidamente me enrolei nelas. Eu estava nua e provavelmente com algumas marcas de chupões.
 
— Mamãe, por favor! Eu sei fazer tudo isso. – Senti meu rosto pegar fogo só de lembrar da noite anterior.
 
— Certo, se arrume. Minhas garotas vão te ajudar. – Ela saiu triunfante.

Revirei os olhos e deitei novamente, escutei as mulheres andando de um lado para o outro dentro do meu quarto, forcei os olhos e balancei a cabeça.
 
— Alteza, preparamos seu banho. – Uma das mulheres falou.
 
— Oh... sim. – Olhei em volta. – Pega meu roupão, por favor!
 
— Claro!
 
Me cobri rapidamente e caminhei para o banheiro, namorei minha banheira cheia com pétalas de rosas brancas e a fraca fumaça saindo da água. Inalei o perfume que fazia presente no banheiro e logo estaria na minha pele, entrei na banheira e afundei meu corpo na água quente.
 
— Alteza. – Me assustei com a voz repentina da jovem. – Perdão, não queria assustá-la.
 
— Tudo bem, prossiga.
 
— Vossa Majestade está lhe apressando. – Bufei e revirei os olhos. – Preparei seu traje para essa manhã.
 
— Obrigada!
 
— Iremos fazer seu penteado também.
 
— Obrigada! – Suspirei e comecei a me lavar.
 
[...]
 
Meus saltos ecoavam pelo corredor silencioso, logo atrás de mim meus guardas caminhavam calmamente. Virei a direita e entrei no salão de refeições, estava vazio a não ser pela presença dos meus pais e os governantes.
 
— Bom dia! – Falei para todos.
 
— Ótimo dia. – Meu pai sorriu. – Você está linda, minha filha.
 
— Obrigada, papai.
 
Me sentei e Jefter rapidamente veio me servir uma xícara de café, sorri em agradecimento.
 
— Você quer repassar seu discurso? – Minha mãe perguntou.
 
— Não, tudo bem. – Comi uma torrada.
 
— Certo, vou explicar como as coisas vão ser, sim? –  Balancei a cabeça, meu pai arrumou a gravata. – Filha, haverá vários fotógrafos no jardim do castelo, você irá falar do segundo andar, a transmissão será tudo ao vivo, sem querer ser exigente, não erre.
 
— Haverá público?
 
— Bom... – Meu pai apontou para a janela.
 
Segui o seu olhar e apertei os olhos. Me levantei e olhei para os portões do castelo, tinha uma multidão olhando esperançosamente para o castelo carregando bandeiras e cartazes, notei dois telões na lateral do castelo onde iria passar o meu discurso ao vivo, estremeci por dentro, já tinham fotógrafos e jornalistas no jardim do castelo com as câmeras apontadas para a sacada do segundo andar.
 
— Termine seu café. – Minha mãe falou, continuei olhando para as pessoas na frente do castelo, elas não pareciam irritadas ou nervosas. – Rebecca.
 
— Sim. – Voltei a me sentar.
 
— Alice, não deixe Sophie aparecer. – Minha mãe falou para a mulher. – Muito menos a Freen.
 
— Eu preciso dela. – Olhei para minha mãe.
 
— Você precisa de juízo.
 
— Não vamos brigar agora. – Meu pai disse. – Não podemos proibir Freen de ficar longe da Rebecca. – Minha mãe desviou o olhar.
 
— Mas Freen está proibida de falar comigo. – Uni as sobrancelhas olhando para minha mãe.
 
— É para o seu bem.
 
— Você proibiu Freen de conversar a Rebecca? – Meu pai a encarou. – Sem me consultar?
 
— Sim. – Minha mãe tomou mais um gole do seu café.
 
— Phon! – Meu pai largou o guardanapo em cima da mesa.
 
— Eu sei o que é melhor para Rebecca.
 
— Já conversamos sobre isso. – o Rei falou irritado. – Tínhamos entrado em um acordo.
 
— Querido...
 
— Tínhamos entrado em um acordo!
 
Ficamos em silêncio por um bom tempo, o clima tinha ficado pesado ali, minha mãe mantinha a cabeça abaixada, enquanto meu pai respirava fundo diversas vezes, respirei fundo e olhei para os dois.
 
— Parem com isso, okay?! Me deixem viver um pouco com quem eu amo. – Falei. – Eu já estou nervosa e vocês não estão ajudando, eu só peço um tempo, por favor.
 
— Me desculpe, filha. Irei chamar Freen para ficar ao seu lado. – Meu pai beijou minha mão e se levantou. – Conversaremos depois, minha esposa. – Ele encarou minha mãe e se retirou.
 
Olhei para tia Alice e ela sorriu com compaixão, sorri sem mostrar os dentes.
 
— Mamãe...
 
— Isso é culpa sua. – Minha mãe se levantou bruscamente e saiu marchando.
 
Deitei a cabeça para trás e deixei todo ar sair do meu corpo, como se aquilo fosse me deixar mais leve.
 
Terminei meu café da manhã e segui para o segundo andar, comecei a repassar todo o meu discurso em voz alta enquanto eu andava de um lado para o outro. Quanto mais as horas passavam mais ansiosa eu ficava.
 
Os técnicos de eletrônicos estavam na sacada instalando os microfones, tinha cerca de cinquenta microfones em um só púlpito. Respirei fundo e bebi um pouco de água, minhas mãos tremiam e a água quase não desceu garganta abaixo. Os guardas pareciam preocupados comigo, era notável em seus olhares.
 
— Ei, Princesa. – Olhei para a porta e vi Freen andando na minha direção.
 
Não pensei duas vezes em sair correndo e abraçá-la com se minha vida dependesse daquele único abraço. Seus braços quentes me envolveram e seus lábios beijaram minha testa. Olhei para seu rosto e lhe dei um selinho.
 
— Fica calma, dá para ver que você está nervosa de longe. – Ela passou a costas da mão no meu rosto. – Eu vou ficar aqui com você.
 
— Estou com medo de errar.
 
— Não tem problema errar, amor.
 
— Eu não posso errar, tudo será passado ao vivo para o mundo todo, literalmente. Olha só o tanto de microfones. – Olhei para a sacada. – Você viu o tanto de câmeras que estará apontadas para meu rosto?! São mais de cem!
 
Freen deu uma risada gostosa e balançou a cabeça.
 
— Amor, você já passou por isso.
 
— Isso é verdade, mas não tinha tanta pressão como está tendo hoje e eu era criança, não tinha medo de errar.
 
— Você vai se sair bem. – Ela afagou minhas costas.
 
— Espero! – Sorri e deitei a cabeça no seu ombro.
 
A porta foi aberta e um grupo de mulheres entraram rapidamente, elas usavam uniformes e carregavam maletas com florzinhas. Atrás delas vi Irin e Georgia com cara de sono.
 
— Alteza. – Uma mulher alta fez uma reverência e falou. – Meu nome é Olívia, nós vamos trabalhar na sua maquiagem.
 
— Oh...– Franzi o cenho.
 
— Não que a senhorita precise, mas vamos fazer uma maquiagem para não deixar a senhorita transpirar.
 
— Suor demonstra nervosismo. – Uma mulher baixinha falou.
 
— E nervosismo demonstra fraqueza, não queremos isso, não é? – Olívia falou.
 
— Definitivamente, não. – Sorri.
 
— Ótimo, você estará no ar em uma hora, iremos te deixar mais perfeita. – A mulher deu as costas e começou arrumar as coisas.
 
Olhei para Freen e percebi ela revirar os olhos, sorri e maneei com a cabeça. Minhas amigas se aproximaram sorrindo.
 
— Bom dia, casalzinho do ano. – Georgia falou animada.
 
— Bom dia. – Eu e Freen falamos ao mesmo tempo.
 
— Que sincronia! – Irin fez cara de nojo, acabei rindo.
 
— Irin, preciso que você tranque a Gê dentro de uma sala...
 
— O que eu fiz?! – Georgia me interrompeu, mas eu não dei ouvidos.
 
—... Não quero ver minha amiga correndo pelada no gramado. – Falei e as garotas riram. – Estou falando sério, ela vai roubar a cena.
 
— Eu sei que meu corpinho é maravilhoso. – Georgia falou alisando o próprio corpo.
 
— É mesmo, gostosa para caralho. – Irin falou irônica.
 
Gargalhei e neguei com a cabeça, as duas entraram em uma discussão para saber quem era mais gostosa, o que me rendeu boas risadas. Rapidamente a equipe de maquiagem me chamou e eu tive que ir.
 
[...]
 
— Vinte minutos! – Um dos homens gritou.
 
— Aí meu Deus, acho que eu vou desmaiar. – Falei nervosa e tremendo.
 
— Não vai não. – Freen segurou meus ombros.
 
— Como eu estou? – Alisei meu sobretudo na cor cinza escuro.
 
— Maravilhosa!
 
— Você está falando isso porque é minha namorada. Me veja como se não me reconhecesse.
 
Freen me olhou de cima a baixo e colocou a mão no queixo, ela deu a volta ao redor de mim olhando meu corpo e assobiou.
 
— Perdão, você está perdida? – Ela perguntou de repente.
 
— O que?!
 
— Estou tentando flertar com você. – Corei e dei um tapa no seu braço. – Você está linda e... – Ela chegou mais perto para sussurrar no meu ouvido. – Esse sobretudo deu uma grande avantajada no seu traseiro.
 
— Freen! – Olhei para os lados envergonhada.
 
— Só estou falando a verdade. – Ela levantou as mãos em rendição.
 
— Idiota. – Sorri e fiz um carinho no seu rosto.
 
— Dez minutos! – O homem gritou novamente.
 
— Vamos lá, filha. – Meu pai me puxou delicadamente.
 
— Boa sorte, BecBec. – Freen falou.
 
Balancei a cabeça sentindo minha garganta fechar e meu estômago embrulhar. Meu pai me conduziu até as grandes portas que dariam para a sacada. Olhei para baixo e vi que as pessoas tinham aumentado significativamente, os fotógrafos e jornalistas estavam no meio do jardim e aos lados duas fileiras guardas faziam uma barreira humana, estavam parados como estátuas. Engoli em seco e olhei para meu pai, ele parecia calmo e repassava tudo com seu assistente.
 
— Cinco minutos! – O homem voltou a anunciar.
 
— Vamos lá. – O rei abriu as portas e todos começaram aplaudir.
 
Minha mãe se juntou ao meu pai, eles acenavam calmamente para as pessoas e para as câmeras, o homem tocou no meu ombro e me empurrou levemente, me posicionei na sacada ao lado dos meus pais e todos começaram a gritar. Eu não conseguia entender se eram xingamentos ou honra.
 
— Três, dois, um, estamos ao vivo. – Alguém falou.
 
— Bom dia a todos. – Meu pai falou sorrindo, levou um bom tempo para todos ficar em silêncio novamente. – Todos sabemos o motivo por estarmos juntos essa manhã, aconteceu um ocorrido que pode ter deixado muitas pessoas confusas e como nós, a família real, gostamos de tudo bem esclarecido, então iremos esclarecer. – Houve alguns gritos. – Essa semana, um fotógrafo tirou uma foto da Princesa Rebecca e foi parar em todas as redes sociais, ficamos tristes por termos nossa privacidade violada, mas não queremos deixar vocês sem saber o que está acontecendo.
 
Respirei fundo e ousei levantar a cabeça, olhei para o telão e vi meu rosto nele, meu coração acelerou.
 
— A Princesa Rebecca irá falar com todos sobre esse ocorrido. – Escutei palmas e assobios.
 
Meu pai deu um passo para o lado e me deu seu lugar atrás de todos aqueles microfones. Engoli em seco e olhei para frente, todos ficaram em silêncio, apenas os sons das câmeras tirando uma sequência de fotos.
 
— Bom dia a todos. – Saudei timidamente. – Como o Rei informou, essa semana uma foto minha foi tirada e repassada por toda a mídia. O que eu tenho a dizer sobre isso é que: não é montagem. Eu estava sim beijando Freen Sarocha . – Escutei vaios e palmas ao mesmo tempo. – Eu sou uma Princesa, mas eu não deixo de ser uma pessoa que tem sentimentos, e a muito tempo eu achei que eles não existiam dessa forma, aconteceu, Freen despertou isso em mim, ela me ensinou a amá-la acima de todas a coisas. – Vi algumas pessoas levantando bandeira da comunidade LGBT. – Me ensinaram que amor não depende de sexo, de raça, de gênero, de classe social, o amor simplesmente acontece, floresce dentro de você, eu estou feliz por estar amando. Sim, eu amo a Freen Sarocha. – Pelo canto do olho vi minha mãe abaixar a cabeça. – Peço perdão se eu não sou o que vocês queriam que eu fosse... – Alguém atirou um tomate no telão onde estava meu rosto.
 
Logo depois começou uma confusão, algumas pessoas jogando coisas no gramado na frente do castelo, outras gritando e tentando impedir.
 
— Parem, por favor. – Tentei pedir, mas ninguém me escutou.
 
Escutei uma bomba explodir, me abaixei e rapidamente meus guardas me tiraram dali meu pai passou o braço por cima dos meus ombros e sussurrou no meu ouvido que eu tinha ido bem. Olhei para trás e vi várias nuvens de fumaça subindo. Apertei os olhos tentando tirar aquela cena da mente.
 
— Kaius, resolva isso. – Meu pai disse.
 
A maioria dos guardas seguiram Kaius para fora da sala.
 
— Senhor, ainda estamos ao vivo. – O assistente do Rei falou.
 
— Calam a boca. – Arregalei os olhos ao escutar a voz de Freen.
 
Procurei a garota dentro da sala, mas não encontrei. Vi Irin e Georgia correr para a sacada.
 
— O que essa menina está fazendo? – Minha mãe falou entre dentes.
 
Olhei para trás e meu coração congelou ao ver Freen em cima do parapeito com um microfone na mão.
 
— Vocês são egoístas, só pensam em vocês, na felicidade de vocês. – Ela acusou apontando para as pessoas, todos ficaram em silêncio. – Eu nunca vi pessoa mais dedicada do que a Princesa Rebecca, ela pensa primeiro no povo dela do que nela mesma, ela tenta de tudo, dá o melhor de si, faz o possível e o impossível por vocês, passa por cima do próprio cansaço e é assim que vocês agradecem?!
 
— Tirem ela de lá. – Meu pai falou.
 
— Não! A audiência está subindo. – O técnico falou.
 
— Ela deveria ficar envergonhada de vocês, mas ela é boa demais para sentir isso, ela ama cada um sem saber ao menos seus nomes. – Freen olhou para mim e voltou a olhar para todos. – Eu sei que não sou a melhor pessoa para estar ao lado de uma Princesa, mas ela me faz querer ser melhor, ela me faz encontrar o meu melhor.
 
Todos estavam incrivelmente quietos, como se tivesse acabado de levar uma advertência da mãe. Limpei as lágrimas dos meus olhos e sorri para Freen, ela estava tão revoltada e isso a tornava sincera.
 
— A Princesa é a melhor pessoa que esse mundo poderia ter, não estraguem isso, não estraguem a minha Princesa por algo que vocês não aceitam, ela não tem culpa por vocês serem desumanos e homofóbicos. Não desconte seu ódio em alguém que vive e transborda amor. – Ela fez uma pausa. – Isso é tudo, tenham um ótimo dia. – Ela deixou o microfone cair no chão.
 
A garota desceu do parapeito e abriu os braços para me receber, seu abraço foi caloroso e reconfortante. Ela levantou meu queixo e me olhou nos olhos.
 
— Você foi muito bem, amor. Foi um lindo discurso. – Sorri sem conseguir pronunciar nada.
 
— Seu depoimento fez efeito. – Georgia falou olhando para a janela. – Parabéns, garotas.
 
— Não faça isso novamente. – Minha mãe falou para Freen.
 
Freen me abraçou de lado e me tirou do seu campo de visão, ela olhou friamente para minha mãe, vi sua mandíbula apertar várias vezes.
 
— Majestade, eu sei que a senhora não gosta de mim, mas eu não vou deixar quem quer que seja humilhar Rebecca daquele jeito, eu não vou simplesmente abaixar minha cabeça e ir embora. Então, se a senhora não gostou, sinto muito, porque isso vai se repetir sempre quando for necessário.
 
— John, como estamos? – Meu pai mudou de assunto.
 
— Senhor, atingimos o recorde de audiência e o vídeo da senhorita Sarocha está na internet em alta, um dos mais assistidos em cinco minutos. – O homem virou o notebook para nós.
 
— Bom... isso é bom. – Meu pai sorriu para nós duas. – Vamos esperar por uma resposta.
 
— Espero que seja positiva. – Sorri confiante.
 
— Duvido disso. – A Rainha disse ríspida. – Com licença.
 
Ela se retirou deixando a todos um clima desconfortável, meu pai suspirou e olhou para mim e para Freen.
 
— Sua mãe está ficando velha e rabugenta. – Dei risada. – Ela não faz por mal, vocês sabem disso, não? – Balancei a cabeça e Freen deu de ombros. – Eu admiro a coragem de vocês, assumir um amor que é discriminado por pessoas intolerantes, é realmente um tapa na cara da sociedade. Sempre acreditei que você iria mudar o mundo, filha.
 
— E mais uma vez o senhor está certo, Majestade. – Freen piscou um olho para mim.
 
— Estou impressionado com você também, Freen. Foi um tanto inesperado o que você fez e deu certo. Parabéns. – A garota sorriu.
 
— Não pensaria duas vezes em repetir de novo, só para proteger quem eu amo. – Senti meu peito estufar de amor, satisfação e paixão por ter achado a pessoa certa.
 
— Você me surpreende, Freen. – Meu pai riu dando dois tapinha no ombro da garota. – Gostaria de conversar mais, porém tenho assuntos importantes para tratar. Tire o dia para aliviar o estresse e fiquem longe das janelas, certo? Se cuidem, com licença.
 
Meu pai acenou com a cabeça e saiu levando com ele a maioria dos guardas. Freen beijou minha cabeça e abriu um lindo sorriso.
 
— Você está bem? – Balancei a cabeça.
 
— Vamos sair daqui. – Georgia arrastou Irin, e a loira puxou o braço de Freen. – Vem casal!
 
[...]
 
Todos na sala de jogos olhavam para a televisão, revendo momentos do meu discurso e das falas de Freen. Alice e Chelsea chegaram a nos parabenizar, assim como os funcionários do castelo e alguns alunos. E por falar nos alunos, eles pareciam arrependidos por terem excluído Freen, poucos deles chegaram a pedir desculpas, mas eu conseguia ver nos olhares.
 
Sábado era um dia calmo no castelo, os jovens ficavam em seus celulares matando a saudades da suas famílias. Estávamos sentadas no tapete felpudo rindo e conversando coisas aleatórias, eu me encontrava sentada entre as pernas de Freen e conversava com minhas amigas, enquanto a morena atrás de mim conversava com Noey e Bianca.
 
— As últimas coleções de outono estão magníficas. – Georgia falava sobre as novas peças de roupas que a senhora Mallee Sarocha tinha criado. – Bem que você poderia pedir para sua sogra, huh? – Ela mexeu as sobrancelhas.
 
— Verdade, Becky. – Irin apoiou. – Imagina você usando a marca da Sarocha, divulgando as roupas da sua sogra.
 
— Ainda não tive a oportunidade disso. – Sorri de lado.
 
— Vamos sair do castelo, faz tempo que você não faz isso.
 
— Sair agora poderá colocar nossas vidas em risco. Eu não sei o que as pessoas são capazes de fazer, agora que descobriram mais sobre mim.
 
— Hello! – Georgia estalou os dedos no meu rosto. – Você é uma Princesa. – Ela cantarolou. – Vamos levar os guardas, fechamos o shopping só para você.
 
— Preciso de roupas novas. – Irin choramingou.
 
— Certo, mas não hoje, nem amanhã.
 
— Porque? – As duas perguntaram juntas.
 
— Sábado e domingo são os dias que as pessoas vão mais nos shoppings, eu não posso tirar o lazer deles. – Elas me olharam como se eu tivesse falando grego. – Eles só têm o final de semana para curtir em família. Iremos na quarta feira. – Declarei.
 
— Você é tão certinha que me dá nos nervos. – Georgia revirou os olhos.
 
— Vou aceitar isso como um elogio. – Falei escorando meu corpo em Freen.
 
Freen pegou seu celular, não consegui me controlar em espionar sua conversa, ela conversava com Heng, seu irmão mandava milhões de perguntas sobre nós.
 
— Quer conversar com ele? – Freen falou baixo no meu ouvido.
 
— Quero! – Sorri animada.
 
Peguei o celular da sua mão e respondi as primeiras perguntas sem dizer que era eu quem estava respondendo. Freen voltou a conversar com as garotas tranquilamente.
 
(Heng: Eu sei que vocês já estavam namorando, mas não pensei que iriam se assumir para o mundo inteiro.)
 
Prendi o lábio nos meus dentes pensando naquilo, era realmente um absurdo, mas uma Princesa não poderia esconder nada.
 
(Freen: Heng, é a Rebecca.)
 
(Heng: Isso é sério? Freen você está me zoando?)
 
(Freen: Não, sou eu mesma. Quer que eu mande uma foto fazendo careta para você ter total certeza?)
 
(Heng: *emoji de risos*. Agora eu acredito.)
 
Dei risada com o jeito divertido de  Heng.
 
(Freen: Bom, eu só queria explicar, que como eu sou uma Princesa eu devo sempre manter a sinceridade com meu povo. Ou seja, eu não posso mentir.)
 
(Heng: Não pode mentir? *emoji da lua*)
 
Fiquei com medo de responder aquela mensagem, meus dedos dançavam sobre a tela, sem ter coragem para digitar algo.
 
(Heng: *emoji da lua*)
 
(Freen: É, eu não posso mentir.)
 
(Heng: Você acha minha irmã gostosa?)

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⏰ Última atualização: Aug 07 ⏰

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𝐃𝐞𝐬𝐭𝐢𝐧𝐚𝐭𝐢𝐨𝐧 𝐭𝐫𝐚𝐢𝐭𝐬 - 𝐅𝐫𝐞𝐞𝐧𝐛𝐞𝐜𝐤𝐲Onde histórias criam vida. Descubra agora