Azaléia

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— Mamãe, como você conheceu o papai?

— Seu pai? — Ela suspirou, piscando algumas vezes com a imagem dele em mente, tentando não se deixar levar pelo sentimento bom — Ah filho, era pra ser

— Então você não gosta dele?

— Claro que gosto — Rebateu indignada com tal ameaça — Eu sempre amei seu pai, desde o momento em que descobri seu nome. Quando você crescer, vai encontrar alguém e vai entender do que eu estou falando — Cantarolou sacudindo a criança curiosa em piruetas apaixonadas.

Parados, ela se desfez do colo que oferecia deixando o pequeno Woonhak sentado sobre sua cama, enquanto procurava pelo pequeno sapato do filho.

— Mãnhe

— Oi, amor

— Mas e se a pessoa que eu gostar não gostar de mim?

— Unaki, isso não vai acontecer filho, fique tranquilo.

— Como você sabe?

— Você tem que ser paciente, sua hora vai chegar, amor

— Mas mãe-

— Ah, Woonhak. — Cortou impaciente com a insistência — Sempre foi assim, com você não será diferente, tá bem? 

Levemente assustado com a irritação da mãe, o pequeno entendeu que era melhor evitar o assunto, conhecendo ainda novo o maior tabu já existente.

Na terra do amor, não se fala sobre incompatibilidade.

— Mamãe vai arrumar o cabelo, você pode me esperar na sala que já já a titia vem com o seu primo.

— O Sungho vem brincar comigo?

— Ele vem, Unaki. Espera a mamãe lá no sofá, hum?

Sem pensar muito, ele foi. Queria ouvir seu primo favorito chegar desde seus primeiros passos no condomínio, por isso estava em silêncio absoluto.

Tudo que ouvia era a mãe mexendo nos acessórios que mantinha no banheiro, buscava conforto para passar um dia com duas crianças no sol, portanto isso incluía prender seu cabelo longo.

No parque, as mães jovens se sentavam em um banco próximo aos brinquedos, enquanto os pequenos tomavam sorvete no balanço.

— Sungho, você não tem medo de não ter ninguém para namorar?

— Não.

— Minha mãe disse que todo mundo tem alguém, que não é como nas novelas. — Ainda mastigava quando voltou a falar de rosto melecado com o doce derretido —  Ela não sabe dizer porque, é estranho.

— Você quer namorar alguém, Woonhak?

— Eu não sei.

— Então estou torcendo para que você encontre a resposta antes de encontrar a pessoa certa.

Sungho tinha os olhos brilhantes contra os confusos de seu primo mais novo. Os dois balançavam pouco, tentavam mais não derrubar o sorvete.

Se tinha algo que Sungho temia era o amor e seu imediatismo, apesar de não conhecer tal palavra, ele viria a descrever assim alguns anos depois. Imediato.

Agora o ensino médio era deixado para trás, quem também ficava era o querido primo que simplesmente passava de ano.

Foi naquela virada de ano que o peito de Sungho apertou ao ver na beleza dos fogos de artifício a permanência de uma tal memória, a primeira vez que viu Myung Jaehyun.

Nunca tinha trocado uma palavra sequer com o rapaz, mas pensar nele o dava um frio na barriga e destruía todos seus questionamentos sobre compatibilidade.

Mas não se engane, ele não agia como um bobo apaixonado. Sungho estava passando raiva, não tinha problemas em admitir que estava errado, mas isso era diferente.

Ele tinha mordido a própria língua de tal forma que todo o seu comportamento contra tal normalização dos sentimentos românticos recíprocos deixava de fazer sentido.

Se perguntava em que momento Jaehyun tinha se apaixonado por ele, já que eram confidentes, nunca tinham se falado antes.

Apesar disso, era notório sua mudança de comportamento quando podia pensar apenas em como queria um encontro com o tal Myung.

Se isso exigia contato então talvez esperasse a pressa alfinetar seu bumbum, talvez assim tentaria se aproximar do garoto que tinha alugado seus pensamentos sem a pretensão de se mudar.

Estava aéreo de tal forma que não se permitia notar muito além do que havia melhorado com o romance que tomava espaço em seu âmago como um inquilino folgado.

Sentia e sentia tanto que se arrepiava ao falar o nome do garoto em voz alta e isso era assustador.

— Não acredito!

— Nem eu.

— Caraca quem diria que o seu correspondente seria Myu-

Com a boca tapada, Rio foi impedido pelo melhor amigo de manifestar arrepios pelo corpo alheio.

— Você é a primeira pessoa pra quem eu contei, meus pais ainda não sabem. — Disse Sungho se levantando só para fechar a porta de seu quarto.

— Ah, foi mal — Lamentou pensando por um instante — Mas como foi que você descobriu?

— Bom, depois que virou o ano que eu percebi, foi bizarro.

— Para, vai. Não foi bizarro, é meio fofo! — Ele riu suavemente — Nunca achei que fosse te ver apaixonadinho por alguém.

— Eu não sei o que pensar sobre essa tal informação, não. — Disse um tanto desconfiado.

— Hum, continua

— Então, eu já tinha sentido isso antes, mas achei que fosse coisa da minha cabeça, até porque eu nunca tinha nem visto a cara dele.

— Que papo mais esquisito, Sung!

— Eu sei, mas aí que tá, quando eu me dei conta que ele existia, ficou tudo mais forte. Parece que eu vou parar de funcionar toda vez que a gente se esbarra sem querer.

Riwoo não conseguia aceitar, já tinha ouvido sobre amor à primeira vista, gente que se apaixona pelo cheiro e varia outras breguices, mas essa era nova.

A única explicação lógica foi a que eles adotaram, Park provavelmente tinha visto ele em algum lugar, mas não se lembrava da primeira vez.

— Mas essa história de amor ainda parece tão, sei lá.

— Injusta? — Completou Sungho.

— É… você tem 18 anos, sabe? E meio que a sua vida daqui pra frente vai ser em torno dessa pessoa.

Desencorajado, Park deixou a euforia de lado para pensar sobre isso mais um pouco. E se estar ao lado da pessoa com quem ele dividiria a vida significasse deixar a pessoa em quem mais confiava para trás? No fim, ele não tinha escolha.

Nada lá era plausível de dúvida, tudo era aceito, arriscadamente eles admitiam que se tratava de predestinação e odiavam isso.

— Acho que tô com medo, mas eu sinto uma urgência tão grande em estar ao lado dele. Igual aquela coisa que você disse uma vez, como se a gente fosse fantoche do show de alguém.

— Bom, mas se você quer estar perto dele, acho que essa é a resposta. — Ele sorriu serenamente, como costumava fazer.

Riwoo ofereceu um abraço, que durou mais do que o de costume. Na verdade, a depender dos costumes eles nem se abraçariam, mas as coisas pareciam bagunçadas demais naquele momento.

Lapsos De Nossas PétalasOnde histórias criam vida. Descubra agora