Lírio Amarelo

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A intenção no fim das contas não era procurar por ninguém, mas quando se deu conta Woonhak já tinha mandado um pedido de socorro em forma de mensagem.

Acontece que “Se alguma coisa não acontecer, fala pra minha mãe que eu amo ela” não era o tipo de mensagem favorita de Sungho.

Ele corria já sem ar para alcançar o melhor amigo, que morava na metade do caminho até a casa do primo em apuros.

Mal se falavam, afinal não respirava o suficiente para tal coisa, quando alcançaram o portão da garagem entreaberto, que logo foi ultrapassado.

Lá era possível ver um garoto amedrontado e mais dois nervosos a sua frente.

— Olha eu não sei o que aconteceu, mas saiam agora ou eu vou chamar a polícia! — Anunciou Sungho em bom som.

— Eu não saio daqui enquanto ele não devolver meu dinheiro. — Protestou Jaehyun emburrado.

Como um gato assustado, o pobre Park quase saltou uma parede inteira ao perceber que era simplesmente seu correspondente quem ameaçava um menor de idade.

— Que dinheiro?  — Perguntou Riwoo confuso.

— Ele me pagou, mas foi pelo meu serviço! — Agora foi a vez do mais novo de protestar.

— Você nem sabe ler cartas, pivete. — Esnobou Leehan, um dos caras da dupla que vivia pendurada em Jaehyun.

Mais confusos do que nunca, os três continuavam a falar como se cada palavra dita fizesse sentido, quando na verdade os de fora não tinham nem ideia do que acontecia de fato.

— Você disse que eu estou azarado e tudo mais, retire o que disse e delvolve me dinheiro. — Bravejou Myung irritadiço.

— Não fui eu, foram as cartas do futuro! — Mistificou suas próprias palavras em sua defesa.

— O que caramba tá acontecendo, Woonhak? — Perguntou Sungho, olhando para ele.

— Eu paguei esse ladrão para ler o meu futuro, mas tudo que ele fez foi jogar duas pedras pra cima e virar as únicas três cartas que ele tem debaixo da mesa. — Jaehyun explicou olhando para Sungho.

O sorriso amarelo do mais novo apareceu, arrancando uma risada explosiva de Riwoo, que já não continha quão idiota achava os mais velhos.

— Woonhak. — Repreendeu Sungho, que era quase um irmão mais velho.

— Mas Sung-

— Devolve, por favor. — Pediu Park estendendo a mão para pegar o dinheiro.

Depois de bufar, ele entregou os poderosos cinco reais para o primo, que saiu acompanhado pelos dois intrusos, quase convidados, de garagem.

Num gesto simples de entregar o dinheiro as mãos se tocaram arrepiando ambos, que agora se encaravam mais atentamente.

— Eu te conheço?

— Acho que não — Respondeu nervoso, olhando para tudo, menos o rosto alheio.

—  Mas eu tenho certeza que já te vi em algum lugar.

— Deve ser do colégio, acho que já te vi por lá — Mentiu, afinal tinha certeza que eram do mesmo período.

A essa altura ele já se perguntava, será que era possível que Myung ainda não tivesse descoberto que era seu correspondente?

— Deve ser isso. De qualquer forma, obrigado pela ajuda, vocês são irmãos?

— Primos.

— Ah, desculpa te incomodar, eu só queria meu dinheiro.

— Tá tudo bem, vou conversar com o Woonhak.

— E o seu nome?

— Myung Jaehyun. — Respondeu erroneamente cabisbaixo.

— Hum?

— PARK SUNGHO! — Se corrigiu imediatamente.

— Certo, acho que você sabe meu nome. Então a gente se vê por aí! — Se despediu.

Dentro da garagem, Riwoo ria da falta de vergonha na cara do mais novo, que desejava ganhar dinheiro a todo custo para comprar a continuação de um dos seus jogos favoritos.

Ao se reunirem os três mais riram da cara pasma de Woonhak que propriamente conversaram sobre a atitude lamentável.

Acontece que ser responsável podia ser muito chato, três anos a mais não fazia tanta diferença no fim das contas, não para Sungho.

Atormentados pelo amargor do amontoado de informação absorvido em uma tarde, os três venceram o frio e foram até uma doceria próxima, provar bolos gelados se é que isso era possível de ser feito pela vigésima vez.

Riwoo e seu melhor amigo estavam sentados saboreando o mesmo sabor, mas o menor tinha ficado no balcão, aguardava o sabor aveludado do chocolate ser fatiado.

Os morangos estavam doces como nunca antes provado, mas subitamente ele sentia algo quase tomando o espaço em seu corpo, uma anomalia, um erro, um gosto de veneno invadia seu paladar, então de repente a dor cessou.

Mantinha um semblante alheio, assustado até, o que fez o rapaz que o acompanhava iniciar uma das conversas que teriam sozinhos.

— Não acho que o Jaehyun bateria no Woonhak — Revelou, tentando aliviar a expressão indecifrável do amigo.

— Que? Ah, também acho que não. — Respondeu apenas por responder

As coisas aos poucos voltavam a tomar sua cor de natureza, Sungho discretamente criou uma brecha assim que o primo se sentou e foi até o banheiro, onde se trancou por um tempo.

Tinha algo errado, ele podia sentir um pontinho de dor, se assemelhava a uma faca pequena que parecia abrir seu intestino conforme subia, isso era o mais assustador, subia.

Ele tinha mastigado tudo muito bem, como podia estar sentindo um pedaço se alojar em sua garganta?

Na tentativa desesperada de removê-lo começou a tossir, tanto que jurou ter cuspido sangue.

Realmente havia um líquido vermelho no canto de seus lábios. Com a respiração curta, um medo de desmaiar se alastrou pelo banheiro minusculamente branco, que o fazia duvidar de seu reflexo no espelho.

Sentia algo em cima de sua língua, um gosto nada comestível, foi quando enfiou a mão na boca, arrancando algo que parecia plástico maleável.

— Tá tudo bem? — Perguntou Riwoo, o assustando ao bater na porta.

Não respondeu, só pensava em lavar aquilo que não sabia dizer ao certo do que se tratava.

Seus braços estendidos tremiam, não sentia seus dedos manuseando aquela pétala.

Era uma pétala vermelha cor de sangue.

— Sungho?

Não pregaria os olhos naquela noite, não sabia se conseguiria comer tão cedo, não sabia como responder o amigo preocupado atrás da porta que era chacoalhada insistentemente.

Lavou todo seu rosto, incluindo os resquícios dos olhos marejados.

Em passos muito bem pensados saiu do quadrilhado esbranquiçado, voltando à mesa e alegrando Woonhak com um pedaço de bolo extra, seu bolo.

Lapsos De Nossas PétalasOnde histórias criam vida. Descubra agora