Vila Fagundes, Viaporã, 03:30 PM
— Bença, Maroto. — Pediu Leonardo —
— Deus te abençoe. — Respondeu Maroto —
— Bença. — Pediu também Jardel estendendo a mão para segurar a mão do velho —
— Deus te abençoe. — Disse Maroto —
Maroto sentou-se no sofá da sala de estar da casa de Ivan e Olivia, Maroto morava ali perto, então era comum ele visitar a casa de sua sobrinha, Olivia, de tempos em tempos.
— Cadê o rest do pôv? — Perguntou Maroto se referindo a Olivia e Ivan —
— Pai tá pra Tanque Novo, foi comprar uns fumo lá, mãe tá na rua, daqui a pouco ela deve tá chegando. — Respondeu Leonardo —
Maroto balançou a cabeça levemente em sinal de compreensão.
— Ô leonard... ocê separa um real de fumm do mais fórt que tivé, que é pra mim fazê um tórrad (rapé). — Pediu Maroto —
Leonardo atendeu ao pedido do tio-avô e foi ao depósito onde o fumo de corda era armazenado, lá ele cortou a medida correspondente a um real e enrolou num pedaço de papel e colocou dentro de uma pequena sacola plástica. De volta a sala de estar, Leonardo entregou o fumo a Maroto, este guardou o produto no bolso lateral da calça e enfiou a mão no outro bolso lateral para retirar algumas moedas, Maroto entregou exatamente duas moedas de 50 centavos a Leonardo.
— Ô de casa! — Chamou uma voz feminina —
Jardel levantou-se e foi atender ao chamado, tratava-se de Raimunda, uma antiga cliente.
— Ô meu fi, eu vô querê 2 real de fumm. — Disse ela —
— Certo, senhora, espera um pouco. — Disse Jardel —
Jardel entrou novamente e avisou a ao primo sobre o pedido da cliente, Leonardo foi ao depósito novamente para buscar o que foi pedido. Após Raimunda ter ido embora houve um tempo de calmaria, não apareceu mais ninguém para comprar até às seis horas da tarde.
— O Bahia ganhô do Botafogo semana passada. — Comentou Maroto —
Leonardo que era torcedor do Bahia sorriu.
— Foi, eu assisti, o Bahia tava bom demais naquele dia. — Disse Leonardo —
— O que ajudô o Bahia também foi que o Botafogo tava com um a menos que foi expulso. — Comentou Maroto —
— É verdade. — Concordou Leonardo —
O assunto sobre futebol durou mais algum tempo, Jardel ficou apenas escutando e não comentou nada por não gostar e nem entender muito do assunto. Naturalmente e gradativamente o tema da conversa foi mudando até que eles estavam falando sobre livuzias (aparições fantasmagóricas).
— O pôv mais véi contava uma história de um hôm que não tinha mêd de nada, era uma pessoa sem comparação no mund, o bich infrentava o que aparecesse pela frent... uma veiz, falaro pra êl de um tal pôt de ôro incantád que tinha num casa véa, mas esse pôt de ôro só aparicia se a pessoa passasse a nôit intrera nessa casa véa, num pudia saí, se a pessoa ponhasse o pé pra fora dispôis de escurecê, o pôt de ôro não aparecia de manhã cêd. — Explicou Maroto —
— Conta essa história pra nóis, Maroto, eu já escutei ela quando era criança, mas não lembro direto como era. — Pediu Leonardo —
— Tá cert, eu vô contá pro cêis o causo do hôm que não tinha mêd de nada. — Anunciou Maroto —

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Gurunga 7
Aktuelle LiteraturAcesse esse link para consultar o dicionário da Gurunga https://rangeloblivion.blogspot.com/2020/06/dicioario-da-gurunga.html Baseado em eventos reais NOTA DO AUTOR Este é o sétimo livro da série Histórias da Gurunga e desta vez, com certa dificulda...