Gurunga 3 de 10

1 0 0
                                        


Vila Fagundes, Viaporã, 03:30 PM

— Bença, Maroto. — Pediu Leonardo —

— Deus te abençoe. — Respondeu Maroto —

— Bença. — Pediu também Jardel estendendo a mão para segurar a mão do velho —

— Deus te abençoe. — Disse Maroto —

Maroto sentou-se no sofá da sala de estar da casa de Ivan e Olivia, Maroto morava ali perto, então era comum ele visitar a casa de sua sobrinha, Olivia, de tempos em tempos.

— Cadê o rest do pôv? — Perguntou Maroto se referindo a Olivia e Ivan —

— Pai tá pra Tanque Novo, foi comprar uns fumo lá, mãe tá na rua, daqui a pouco ela deve tá chegando. — Respondeu Leonardo —

Maroto balançou a cabeça levemente em sinal de compreensão.

— Ô leonard... ocê separa um real de fumm do mais fórt que tivé, que é pra mim fazê um tórrad (rapé). — Pediu Maroto —

Leonardo atendeu ao pedido do tio-avô e foi ao depósito onde o fumo de corda era armazenado, lá ele cortou a medida correspondente a um real e enrolou num pedaço de papel e colocou dentro de uma pequena sacola plástica. De volta a sala de estar, Leonardo entregou o fumo a Maroto, este guardou o produto no bolso lateral da calça e enfiou a mão no outro bolso lateral para retirar algumas moedas, Maroto entregou exatamente duas moedas de 50 centavos a Leonardo.

— Ô de casa! — Chamou uma voz feminina —

Jardel levantou-se e foi atender ao chamado, tratava-se de Raimunda, uma antiga cliente.

— Ô meu fi, eu vô querê 2 real de fumm. — Disse ela —

— Certo, senhora, espera um pouco. — Disse Jardel —

Jardel entrou novamente e avisou a ao primo sobre o pedido da cliente, Leonardo foi ao depósito novamente para buscar o que foi pedido. Após Raimunda ter ido embora houve um tempo de calmaria, não apareceu mais ninguém para comprar até às seis horas da tarde.

— O Bahia ganhô do Botafogo semana passada. — Comentou Maroto —

Leonardo que era torcedor do Bahia sorriu.

— Foi, eu assisti, o Bahia tava bom demais naquele dia. — Disse Leonardo —

— O que ajudô o Bahia também foi que o Botafogo tava com um a menos que foi expulso. — Comentou Maroto —

— É verdade. — Concordou Leonardo —

O assunto sobre futebol durou mais algum tempo, Jardel ficou apenas escutando e não comentou nada por não gostar e nem entender muito do assunto. Naturalmente e gradativamente o tema da conversa foi mudando até que eles estavam falando sobre livuzias (aparições fantasmagóricas).

— O pôv mais véi contava uma história de um hôm que não tinha mêd de nada, era uma pessoa sem comparação no mund, o bich infrentava o que aparecesse pela frent... uma veiz, falaro pra êl de um tal pôt de ôro incantád que tinha num casa véa, mas esse pôt de ôro só aparicia se a pessoa passasse a nôit intrera nessa casa véa, num pudia saí, se a pessoa ponhasse o pé pra fora dispôis de escurecê, o pôt de ôro não aparecia de manhã cêd. — Explicou Maroto —

— Conta essa história pra nóis, Maroto, eu já escutei ela quando era criança, mas não lembro direto como era. — Pediu Leonardo —

— Tá cert, eu vô contá pro cêis o causo do hôm que não tinha mêd de nada. — Anunciou Maroto —

Gurunga 7Onde histórias criam vida. Descubra agora