Gurunga 7 de 10

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Bairro São Sebastião, Beija Flor, 04:24 PM

Rafael, Ricardo e Rogerio estavam sentados na calçada da frente da casa de Rogerio, aquele era o ponto de encontro deles. Eles se reuniam ali já faziam anos, começou de maneira bem natural já que Ricardo e Rogerio eram vizinhos (as casas ficavam lado a lado). Eles se reuniam ali para conversar, jogar dominó, ficar observando o que acontecia na vizinhança e comentar sobre, normalmente de maneira jocosa (a boa e velha fofoca misturada com zombaria). Uns tempos atrás eles também jogavam alguns jogos com bola de gude e bex (taco), mas com o passar do tempo esses jogos/esportes foram sendo menos praticados, principalmente quando Rafael e Rogerio adquiriram computadores, no caso de Rafael o computador não era só dele, mas sim de toda a família, apesar de ser Rafael quem mais o utilizava. Ricardo era o que tinha a família mais pobre entre os três, então ele não tinha computador em casa, (futuramente ele trabalharia muito para poder comprar um) então Ricardo enchia o saco dos amigos para poder jogar nos computadores deles (basicamente o GTA Vice City), Rogerio até deixou que Ricardo jogasse em seu computador algumas vezes, mas Ricardo acabara por abusar dessa generosidade querendo jogar todo dia, então Rogerio parou de permitir, Ricardo então passou a ir à casa de Rafael nos dias que os pais de Rafael viajavam a trabalho para poder jogar. Rafael às vezes achava Ricardo folgado demais, mas deixava o amigo usar o computador, como Rafael tinha um Nintendo 64, ele podia jogar alguma coisa enquanto seu computador estava sendo usado por Ricardo ao invés de simplesmente ficar olhando Ricardo jogar GTA Vice City ou Need for Speed Underground 2.

— Fui na casa de Pêu ônti, o bich parecia que tava infézad, num mim chamô pra entrar. — Comentou Ricardo —

— Mais também você fica indo pertubá o cara direto. — Disse Rogerio —

Peu era um outro amigo de Ricardo que morava no bairro Paraíso.

— Que pertubá o quê Chirimóia! — Retrucou Ricardo —

"Chirimóia" era um dos apelidos que Ricardo usava para se referir a Rogerio, normalmente quando queria provocá-lo, no entanto, o apelido padrão de Rogerio era "Ró". Ricardo tinha o habito de apelidar quase todo mundo, principalmente as pessoas que ele não gostava muito. Ricardo também tinha um habito peculiar de inventar palavras e expressões e usá-las como se fossem algo popular que todo mundo fosse compreender.

— Que nada! Eu não pertub ninguém não! — Disse Ricardo —

— Não me faça rir. — Disse Rogerio rindo —

Rafael também riu.

— Ei Rafael, esse sábado eu vô na sua casa pra jogá um Nidi for Spid. — Disse Ricardo —

— Pronto! Minha casa virô Lan House agora? — Protestou Rafael em tom meio de brincadeira e meio sério —

— Começa a cobrar por hora. — Sugeriu Rogerio —

— Que isso pô, tem que ajudá os amig! — Disse Ricardo —

— A gente vai vê se vai dá. — Disse Rafael —

Apesar de falar aquilo, Rafael sabia que acabaria cedendo, Ricardo, apesar de às vezes ser meio sem noção, era um amigo de longa data, um dos poucos amigos de verdade que Rafael tinha.

Os três amigos conversavam sobre diversos assuntos, porém computadores e jogos era o assunto principal das conversas, ocasionalmente algum conhecido deles se juntava ao trio para bater papo, dependendo de quem fosse, a pessoa podia ser mais ou menos bem recebida. Se a pessoa fosse mais bem quista e tentasse mudar o rumo da conversa, ela podia ser bem-sucedida, caso contrário, normalmente o trio esnobava e zombava do intruso. Um pivete certa vez chegou a se indignar dizendo: "Por quê cêis só fala diss?!", ao ouvir isso, os demais comentaram coisas como: "Os incomodados que se retirem." "Sai fora!". O assunto ao qual o moleque se referia era justamente informática e jogos, um assunto que o garoto não entendia e não tinha interesse.

Xandão passou na rua onde eles estavam, indo para seu rancho que ficava no fim da rua, ao passar ele os saudou bom uma buzinada.

— Esses dia êl mim pediu pra gravá uns trem de pulitica num CD, acho que é pra tocá ni carro de som, eu gravei e cobrei 10 conto fora o preço do CD virgi. — Comentou Ricardo —

— Ele não achou caro não? — Perguntou Rogerio —

— Não, êl tava chumbado na hora tamém, nem pediu desconto nem nada e já me pagô com uma nota de 10. — Respondeu Ricardo —

— Tem muita gente que não sabe fazê porra nenhuma num computador, então a gente pód ganhá uma grana com isso. — Comentou Rafael —

Ricardo riu e comentou.

— Até um primo meu que tem computador já faz temp não sáb nem descompactá um arquivo com o WinRAR, o bich é burro demais. — Falou Ricardo —

Os outros riram de maneira moderada, Ricardo tinha uma maneira muito única de se expressar, até mesmo quando ele falava de coisas banais, ele ainda conseguia ser engraçado.

— Eu lembro que que logo que a gente arrumô o CD do GTA Vice City com Pêu eu quebrei a cabeça pra abri o jogo, tava compactado e eu não sabia como descompactava, aí depois de pelejar eu abri o jogo direto do arquivo compactado, eu fiquei tão alegre que até chamei o pessoal lá de casa pra vê. Depois eu aprendi a descompactar certinho tudo numa pasta. — Contou Rafael —

— Eu sei que CD era esse, era um que o jogo já vinha em português né? — Comentou Rogerio —

— Era. — Respondeu Rafael —

— Se num fôss por mim tê arrumád esse CD de Pêu, cêis não tava jogân GTA. — Comentou Ricardo —

Rogerio riu desdenhando do comentário de Ricardo.

— Ah tá! Como se Pêu fosse a única pessoa que tivesse esse jogo, eu podia ter arranjado esse jogo de muitos outros jeitos. — Disse Rogerio em um tom um tanto arrogante —

— Conta aí pra gente onde cê arruma jogo, hein Ró? — Perguntou Ricardo —

— Ah! Isso é segredo, eu tenho uma fonte inesgotável de jogo. — Disse Rogerio de maneira exagerada —

— Eu vô descubri que fonte é essa. — Disse Ricardo —

— Ô coitado! Tá difícil! — Disse Rogerio —

Eu já fui num monte de lugá aqui em Beija Flor e quase não achei nada, só tem aquela banca de revista na Praça do Bradesco e aquela loja na Galeria Aquino descendo a rua do Banco do Brasil, nessa loja até que tem alguma coisa que presta, mais aquele véi lá é meio embasado. — Comentou Rafael —

— Avemaria daquele véi! Eu fui lá umas vezes e não quero saber de ir lá de novo. — Disse Rogerio —

O homem que atendia na loja comentada não era a simpatia em pessoa e nem entendia tanto do assunto assim, porém não era tão desagradável quanto descrito por Rafael e Rogerio, eles por alguma razão tinham uma implicância com o homem.

Eu comprei um jogo de Harry Potter lá antesmesmo da gente ter o computador, eu nem sábia se o jogo ia pegá, (Rafael riu aodescrever essa parte) mais mesmo assim comprei, o véi da loja me mostrou ummonte de coisa escrita na capa do CD do jogo e me perguntou se meu computadorera compatível, eu falei que era sem nem saber de nada, por sorte deu tudocerto. — Narrou Rafael —

Gurunga 7Onde histórias criam vida. Descubra agora