Gurunga 10 de 10

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Bairro São Sebastião, Beija Flor, 08:38 PM

Rafael estava lendo comentários em um tópico de uma comunidade do Orkut quando uma mensagem chegou em seu MSN, era uma mensagem de Ricardo.

"Onde será que ele tá?... deve ser numa LAN House."

Pensou Rafael.

Na mensagem Ricardo dizia que tinha estado na casa de Peu no dia anterior e que Peu estava jogando um jogo muito bom, era um "GTA Overdose", (na verdade tratava-se do jogo Total Overdose: A Gunslinger's Tale in Mexico que não era da série Grand Theft Auto e não era da mesma empresa.) Porém, devido às semelhanças do jogo Total Overdose com outros jogos da série GTA, muita gente acabava chamando o jogo de "GTA Overdose". Ricardo explicou que Peu tinha pegando o jogo emprestado de um amigo e que não podia emprestar para mais ninguém, mas se eles fossem até a casa de Peu com um DVD virgem, Peu faria uma cópia do jogo para eles. Ricardo argumentou que como ele tinha arranjado essa oportunidade, então Rafael deveria arcar com a compra do DVD virgem, Rafael achou justo e disse que no dia seguinte ele iria comprar a mídia.

Na manhã seguinte, Quando Rafael saiu pelo portão, Ricardo já o estava esperando sentado na calçada.

— E aí! Bóra comprá logo esse DVD! — Disse Ricardo empolgado —

— Vambóra. — Disse Rafael —

— Vamo comprá numa papelaria perto do Hospital Regional, lá é mais barato, aqui no bairro o povo mete a faca. — Sugeriu Ricardo —

— Tá beleza, eu sei qual é essa papelaria. — Falou Rafael Fechando o portão —

Eles partiram a pé.

— Eu comecei a juntá um trocado pra comprá um computador, mais pelas conta que eu fiz vai demorá demais até eu podê dá entrada pra comprá parcelado. — Comentou Ricardo —

Eles já haviam comprado o DVD virgem e estavam descendo a rua DR. José Humberto Nunes.

— E aquele serviço naquela loja de bicicleta? — Perguntou Rafael —

— O dono tá enrolando, ele falô que quand tivesse psisân de gente pra trabáía ele ia mim chamá, mais já faiz mais de dois mêis que eu vô lá pra perguntá se já tem vaga e ele fala que ainda não tem. — Explicou Ricardo —

— É véi, então por enquanto cê vai juntando o que dê de grana até cê arrumá um serviço. — Disse Rafael —

— Eu tô juntân, às veiz minha vó me dá um diêro, aí eu guardo, eu tamém cato umas latinha, cobre e ferro pra vendê. — Contou Ricardo —

— Quanto que paga na loja de bicicleta? — Quis saber Rafael —

— 50 conto por semana, 200 pau por mêis. — Respondeu Ricardo —

— Tá bom hein. — Comentou Rafael —

— Tá! Se eu entá lá, no primêro mêis eu já dô entrada no computador lá na Insinuante! — Afirmou Ricardo —

Insinuante era uma grande loja de móveis e eletrodomésticos no centro da cidade.

— É, tomara que o dono te chama logo. — Desejou Rafael —

Eles rumaram para o bairro Paraíso, onde Peu morava, este bairro era onde a parcela mais abastada da cidade vivia, algumas mansões ocupavam um quarteirão inteiro, no entanto também havia algumas partes do bairro com residências mais humildes. Ao chegarem à casa de Peu, Ricardo bateu no botão, aguardou alguns instantes, porém ninguém veio atender, Ricardo bateu novamente e esperou.

— Será que tem gente? — Questionou Rafael —

— Tem. — Respondeu Ricardo —

Ricardo falou com tanta convicção que Rafael ficou até surpreso, Ricardo provavelmente conhecia muito bem a rotina de Peu e de sua família ou estava simplesmente ouvindo alguém conversando ou fazendo algum barulho dentro da casa. Ricardo bateu no portão metálico novamente, dessa vez com um pouco mais de força e prolongando um pouco mais as batidas. Desta vez alguém ouviu, Ricardo escutou alguém caminhando a passos lentos, depois de alguns instantes o portão foi aberto, uma senhora idosa usando um andador para se equilibrar apareceu.

— Bom dia dona, discupa pertubá a sinhora, por acaso Peu já acordô? — Perguntou Ricardo —

— Não tem nada não meu fi, vamo entrá pra cá, Peu tá tománd café. — Explicou a avó de Peu —

— Ah tá bom intão, a gente espera aqui. — Disse Ricardo —

A avó de Peu ainda os convidou a entrar novamente, mas Ricardo recusou educadamente. Passaram-se uns 20 minutos e Peu não apareceu.

— Oxenti, mais que demora é essa de Peu pra tomá um café, eu vô lá vê o que ele tá fazend. — Disse a senhora —

A idosa entrou e seguiu caminhando com o auxílio do andador de alumínio. Passaram-se uns 5 minutos e Peu finalmente apareceu, ele estava sem camisa exibido sua pele morena clara, seu rosto ainda mostrava sinais de uma certa sonolência, ele cumprimentou Ricardo e Rafael tocando as palmas das mãos e depois batendo levemente os punhos fechados.

— A gente veio pra cê fazê a cópia do GTA Overdose, o DVD virge já tá aqui. — Disse Ricardo retirando o DVD do bolso para mostrá-lo —

— Ah tá beleza, entra aí! Eu vô ligá o PC. — Convidou Peu —

Eles entraram e foram para o quaro de Peu, Ricardo e Rafael sentaram-se na cama de Peu e Peu sentou-se numa cadeira diante de seu computador, após o Windows XP terminar de carregar, Peu abriu a bandeja do gravador de CD/DVD e colocou o disco do jogo, após o computador ler o conteúdo do disco, Peu abriu o programa Nero e iniciou o processo de cópia de disco, enquanto o processo ocorria, os rapazes ficaram trocando ideia.

— E aí Peu, tá tendo muita pratricinha gata lá no Modelo? — Perguntou Ricardo —

Ricardo se referia ao colégio Modelo, uma espécie de rede de colégios públicos que seguia um padrão, existindo em várias cidades.

— Tê até têm, mais é uma mais metida do que a ôtra, uns cara lascado que nem nóis, elas nem olha. — Respondeu Peu —

— Mais eu tô ligado que tem umas "patricinha" lá que é "paty pobre". — Disse Ricardo —

"Paty pobre" era a maneira como Ricardo se referia a garotas que se fingiam ser de família rica, mas na verdade não eram, isso só era possível pelo Modelo ser uma escola pública, apesar de ser de alto padrão. Então, (isso descreve a realidade e não a opinião do autor) bastava uma menina ser: jovem, branca, estar dentro do padrão de beleza estabelecido, se vestir com roupas de qualidade (isso se refere à parte inferior do corpo, pois na parte superior o uniforme era padronizado, com apenas algumas leves variações), com tudo isso tem-se uma "paty pobre" ou talvez uma paty genuína.

A bandeja do gravador de CD/DVD se abriu, Peu retirou o disco do jogo e colocou o DVD virgem na badeja e a fechou, o programa demorou uns poucos segundos para ler a mídia e o processo de cópia foi iniciado. Essa parte do processo era crítica, pois caso o PC fosse desligado, reiniciado ou faltasse energia elétrica, o DVD virgem ficaria inutilizado, então só restava torcer para nada disso acontecer até que a gravação fosse completada. Felizmente nenhum problema ocorreu e a gravação foi concluída com sucesso, Peu retirou o disco da bandeja e usou um canetão preto para escrever o nome do jogo no disco.

Gurunga 7Onde histórias criam vida. Descubra agora