31 "Nova Identidade"

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Oliver observava o fundo da xícara de café enquanto a voz grave ecoava suavemente pela cozinha. A luz fraca da manhã mal iluminava o ambiente, mas o clima já estava carregado demais para depender da claridade do dia.

— Eu pensei bastante e... temos que pensar na sua segurança. Essa é a prioridade agora — disse ele, sem desviar o olhar da mesa.

Stella ergueu os olhos, sentindo o estômago apertar. Desde que soube que estava sendo caçada, seus nervos haviam se transformado em uma corda esticada prestes a arrebentar. Ela não sabia o que era mais assustador: ser capturada pelas autoridades, com seus jalecos e seringas, para ser reduzida a uma cobaia outra vez, ou cair nas mãos dos vampiros, que a tratavam como um simples receptáculo de sangue.

— Do que você está falando? — Sua voz saiu baixa, quase infantil, como se temesse ouvir a resposta.

Oliver demorou a responder. Evitava os olhos dela, e isso a consumia por dentro. Que verdade ele estava escondendo agora? Quanta dor ainda guardava sob o silêncio?

— Não pode mais ficar aqui — disse, por fim. — Não é seguro continuar em Guilford. Pelo menos, não por enquanto.

Ela engoliu em seco, tentando conter o pânico crescente.

— E para onde iremos?

A pausa dele foi longa demais. Stella pôde sentir a tensão se formando entre cada batida do coração. Era como se ele escolhesse cada palavra a dedo, com medo do impacto que teria sobre ela.

— Iremos para Bournemouth. Lá, terei certeza de que ficará segura.

Havia algo na forma como ele disse isso. Um traço de dúvida, de medo, de alguém que estava fazendo promessas que talvez não pudesse cumprir. Mas ela preferia acreditar. Confiar nele era o que a mantinha em pé.

— Tudo bem. Eu confio em você — respondeu, com um pequeno aceno.

Ele soltou um leve suspiro de alívio e se levantou.

— Pode subir e preparar a sua mala. Eu comprei uma para você, está no seu quarto.

— Agora...? Quando iremos?

— O quanto antes. — Dessa vez, ele a olhou nos olhos. E nos olhos dele, Stella viu muito mais que preocupação. Viu o peso de uma decisão, a sombra da urgência, e um sentimento que talvez ainda não tivesse coragem de nomear. — Eu preciso ir até a cidade pegar seus documentos novos... e teremos que pintar o seu cabelo também, só por precaução.

Stella levou a mão instintivamente aos cabelos loiros. As madeixas que sempre conheceu, que faziam parte de sua identidade. Mudá-los era como abandonar uma parte de si mesma.

 Mudá-los era como abandonar uma parte de si mesma

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— O meu cabelo...

Ele apenas observava, em silêncio. Aguardava sua reação.

— Eu não me importo, contanto que isso nos mantenha bem. E longe dessas pessoas.

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