Capítulo 10

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(Sara)

Respiro fundo olhando pela janela. O carro do Thomás continua estacionado na porta da casa, e apesar de não dizer isso em voz alta, todos os dias espero animada para vê-los, mesmo que de longe. Depois daquela viagem de carro mais do que desconfortável, tenho conseguido evitar ter qualquer contato físico com eles. Nem mesmo fui visitar a Manu na casa dela ainda. Falamos diversas vezes por chamada de vídeo para ter certeza que a minha amiga estava bem, mas não tive coragem de me arriscar indo até a casa dela. Até consegui convencer os meus professores a me deixarem ter aula online por um tempo, alegando que estou com uma virose horrorosa.

Sei que é covardia, mas para a minha defesa, estou só tentando me proteger.

- Querida, até quando você vai se esconder dentro de casa? - vó Lena me pergunta enquanto entra na sala em que estou fingindo ler - Estou começando a achar que você está fugindo de alguma coisa.

Ela me lança um sorriso irônico indo em direção a janela e espiando lá fora. Reviro os olhos para a sua risadinha animada, porque sei bem como vó Lena está amando essa situação com os gêmeos. Estou morando com ela há um bom tempo, e é impressionante como já sinto que ela é também a minha avó. Ela me acolheu como família e me trata com mais amor e carinho do que o meu pai já me tratou a vida inteira.

- Não estou fugindo, só estou... - penso em que palavra descreve melhor o meu estado mental - me fazendo escassa.

Ela ri ainda mais me fazendo sorrir, e fechando o livro, já espero pela ladainha que ela vai arrumar para me tirar de casa.

- Se você se fizer escassa o bastante, em algum momento acabam te substituindo. - ela dá de ombros se sentando em uma poltrona na minha frente e bebericando o seu chá.

- Seria o ideal.

Isso é obviamente uma mentira e vó Lena sabe bem disso. Não tenho como continuar mentindo que não quero os gêmeos, eu sei que é mentira, as minhas amigas sabem que é uma mentira e Thomás e Thiago fazem questão de me dizer diariamente que é uma mentira. Mesmo quando bloqueio os números de telefone que eles usam, eles só continuam pegando novos e me contatando de qualquer maneira. Os dois não ficam mais do que uma hora sem me mandar alguma mensagem, e depois que consegui tirar aquela câmera absurda do meu quarto, eles têm ficado de plantão na porta da minha casa. É ridículo, mas esse comportamento está começando a funcionar. Tenho me pego cada vez mais feliz quando os vejo, fico animada ao receber as inúmeras flores e presentes que eles mandam, e espero ansiosa por suas ligações de boa noite e bom dia.

Então por que não concordo de uma vez em ser deles? Por que sou uma idiota que está morrendo de medo.

- Seria mesmo? - seu olhar afiado me deixa ansiosa.

- Como você pode estar tão bem com isso? - falo exasperada tentando procurar mais motivos para os dois serem um erro para mim - Os dois querem ter um relacionamento comigo, isso é estranho.

Para a minha surpresa, vó Lena me encara com uma expressão decepcionada. Balançando a cabeça, ela fala com uma voz de censura.

- Querida, estamos em dois mil e vinte e quatro, não seja tão antiquada. Hoje em dia o amor tem várias formas, e você é uma sortuda. Queria eu que dois homens lindos se apaixonassem por mim.

Seu olhar sonhador me faz rir. É claro que a vó Lena falaria algo assim, ela jamais é contrária ao amor. Sendo ele de qualquer formato, ela só quer ver um final feliz.

- Ainda assim, vai ser melhor para todos se eles seguirem em frente.

- Então você pode estar bem perto do que tanto deseja. - vó Lena dá de ombros novamente, não dizendo mais nada.

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