Mudando de Vida

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Ângela narrando:

Não acredito que estou aqui nesse hospital infernal, com essas pessoas que nem me deixam ir embora. Quero ver meu pai, já que agora estou sem minha mãe. Eu não gosto muito dele, mas é a única pessoa nesse mundo com quem eu posso contar agora. Que dor em meu peito, não consigo segurar nem as lágrimas, estou muito triste só de ficar trancada nesse quarto morrendo de aflição. Como será que o André está? Penso comigo mesma.

Nesse momento alguém bate na porta e abre-a devagarinho. Era uma enfermeira com um rapaz.

Eu arregálei meus olhos assustada ao ver a enfermeira entrando no quarto, e vi que o rapaz era o André, ele me olhou e sorriu perguntando:
- Oi Ângela, como você está?

Não acreditei que ele estava ali me visitando, e estava finalmente bem. Eu queria lhe falar tantas naquele momento, queria pedir desculpas por tudo que o fiz passar. Sem tirar a parte da briga que foi a pior de todas as formas possíveis. Eu não sentia dó, nem muito menos pena do André, eu não gostava de sentir esses sentimentos por ninguém, da mesma forma que eu não gostaria que sentissem isso por mim. A vontade que eu sentia era de pular daquela cama, e abraçar ele. Eu não sei o que ele fez comigo, mas, de alguma forma, eu sentia algo muito forte por ele. Eu apenas respirei fundo enquanto milhares de coisas passavam-se pela minha cabeça, olhei para o André e respondi:
- Oi, como você pode ver a situação que eu estou, então eu não estou bem nesse hospital, estarei melhor quando sair daqui e você? Recebeu alta hoje?

Ele me olhou e sorriu respondendo:
- Eu recebi alta hoje sim, e já soube o que aconteceu com seus pais, sinto muito.

O que? Eu não entendi o que ele quis dizer com aquilo de "eu soube o que aconteceu com seus pais", fiquei sem reação alguma, nenhuma palavra saía da minha boca, mesmo que eu quisesse. Eu apenas olhei para o André que nesse momento estava sentado do meu lado na cama. Respondi com um aperto no coração e lágrimas já escorrendo pelos meus olhos:
- Com meus pais? Eu sei que minha mãe infelizmente faleceu, mas o que aconteceu com meu pai?

Ele olhou rapidamente para a enfermeira que lhe fez um sinal negativo com a cabeça, parece que ela não queria que o André me falasse o porque que eu estava ali, o porque de tanto suspense pelo o que teria acontecido com meu pai. Parecia ser algo bastante grave.

O André começou a gagueijar e quase não conseguia me falar nada, ele surtou e saiu correndo do quarto. Eu tentei me levantar da cama e ir atrás dele, mas aquela maldita enfermeira me impedia de tudo, eu à olhei furiosa e falei:
- Me solta! Ou você vai querer levar agulhada novamente?

Ela nem pensou duas vezes e me soltou. Sai pela porta do quarto onde estava, e tentei avistar o André. Ele estava sentado em uma cadeira em frente ao quarto, chorando e olhando para mim. Eu sentei-me do seu lado e perguntei o que estava acontecendo. Ele me olhou nos olhos e parece que sua expressão agora estava ainda mais triste. Eu queria saber o que estava acontecendo, queria saber o porque de tantas lágrimas. Finalmente o André me segurou nas mãos e ainda olhando em meus olhos, me disse:
- Ângela, eu sinto muito por tudo.

Mas o que? Ele estava ficando louco? Por que estava falando que sentia muito?

Ele continuou interrompendo meus pensamentos:
- Os seus pais se foram Ângela, não foi só a sua mãe que faleceu...

Eu o interrompi falando:
- O que? Meus pais morreram?!!

Eu não estou sendo insensível, mas nesse instante não tem como não reagir dessa forma.

Até o André se assustou com a minha reação. Ele não falou mais nada, apenas balançou a cabeça afirmando o que eu perguntei. Não! Eu não podia acreditar que agora estava sozinha nesse mundo estúpido. Porque isso era o que eu pensava do universo. Que era estúpido e que no mundo sempre haveria alguém que me faria sofrer.

Por que estas coisas estão acontecendo comigo? Acho que eu era um alguém muito cruel nas vidas passadas, para ter que sofrer tanto nessa. Nesse momento eu não conseguia mais segurar as minhas lágrimas que caiam dos meus olhos mais do que chuva caindo do céu. O André me abraçou forte e esse foi o momento da minha vida que eu me senti mais segura. Nunca me senti tão segura e protegida assim.

Ele me olhou nos olhos e disse:
- Nós não nos conhecemos bem Ângela, mas eu sinto que devo ficar do seu lado. Eu prometo que mão irei te deixar sozinha. Confia em mim, eu nunca quebro promessas. Vem comigo.

Eu o olhei e levantei-me devagar da cadeira e ele me acompanhou. Fomos até a porta, quando um dos enfermeiros nos impediu de sair. O André o olhou com tanta furia, até parecia que queria voar naquele enfermeiro. Mas não deu tempo, pois um médico se aproximou também de nós na porta e me falou:
- Posso saber para onde os dois vão?

"Ué nós vamos sair", foi o que me deu vontade de falar. Mas se eles não queriam me deixar sair, era porque não era pra sair mesmo!

O André respondeu:
- Nós íamos sair, porque? Não pode? Aqui é prisão agora?

Eu olhei para ele e me deu uma vontade de rir, mesmo com toda aquela tristeza tomando conta de mim.

O médico o olhou estranho e aquilo me arrepiou toda na hora. Ele me olhou e respondeu:
- Você já deve estar sabendo sobre os seus pais, não é? Vamos te levar para um orfanato, já que consta nos seus registros da escola, que não tem nenhum familiar e muito menos seus pais, não é?

Nossa! O que foi isso? Sei que posso ser insensível às vezes, mas isso foi pior do que jogar um tijolo no meu pé. Não consegui segurar as lágrimas e o olhei falando irritada:
- Olha aqui seu maldito, cadê sua sensibilidade?

O André viu que eu não iria me segurar tanto a ponto de não avançar naquele médico imbecil. Ele me segurou e fez um sinal para que eu me acalmasse. Respirei fundo ainda chorando e parei com o surto. Ele olhou para o médico e perguntou:
- Ela não pode ir para a minha casa? Eu moro com os meus pais, mas com uma conversa, eles podem até deixá-la ficar lá até conseguir se sustentar sozinha.

O médico me olhou, mas agora de uma forma mais sombria. Aquele olhar me metia medo. Eu sentia até as minhas pernas tremer de medo e eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Me sustentei no André e ele me segurou perguntando-me se estava tudo bem. Eu fiz um sinal com a cabeça afirmando e o médico falou:
- Não. Ela deverá ir para o orfanato, são leis que decretam isso. Se ela não tem parentes para cuidar da própria, ela devera ir para um orfanato que tomara as providências.

Eu não conseguia sorrir, não conseguia fazer nada. Nem muito menos falar. Aquilo tudo estava acontecendo muito rápido, eu perdi meus pais em pouco espaço de tempo. Concerteza teria que sair da escola e me mudar para um lugar onde haveria pessoas estranhas, mal educadas e que concerteza não iriam gostar da minha personalidade chata e insuportável. Não sei se vou passar pelas mesmas coisas que passei com o meu pai. Se iria receber o desprezo do mesmo jeito que recebia da minha mãe. Eu não quero passar por tudo isso novamente, não quero sofrer mais.

Meu pai me estuprava desde os 6 anos, sim, isso é terrível. Ele sempre me ameaçou se contasse para alguém, e eu nunca tive a mínima coragem disso. Minha mãe era uma boa pessoa, mas depois do que passou com a traição do meu pai, ela teria mudado muito comigo, parecia que a culpa era toda minha. Tudo que acontecia, sempre a culpa caía nas minhas costas. Fiquei carregando culpas por muito tempo, por isso não quero passar por tudo de novo.

O André me olhou fundo nos olhos, segurou em meu rosto e disse:
- Fica calma. Vai dá tudo certo e eu prometo que irei te visitar sempre quando puder...

Eu perguntei o interrompendo:
- E quando não puder?

Ele me beijou calmamente e disse com os lábios encostados aos meus:
- Quando não puder, eu dou um jeito.

Eu o abracei por longos minutos, até ser chamada na recepção.

A FalsidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora