Orfanato

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Ângela narrando:

"Não acredito que estou em casa, queria nunca mais sair daqui" penso comigo mesma. Sair daquele hospital foi um alívio, agora só de pensar que gerei toda essa confusão e que terei que largar tudo o que tenho aqui, para mudar a minha vida em um orfanato, me dói muito o peito.

Nunca irei entender o porque dessas coisas estarem acontecendo comigo. Queria poder abraçar meus pais. Apesar de tudo, eu amava eles.

Escutei o barulho da buzina do carro, era o doutor que havia ne levado até minha casa, para que eu pudesse pegar o que pudesse e levar para o orfanato. O André também estava com ele e já me olhava com uma expressão triste. Apareci na janela da sala, fiz um sinal com a mão para que Eles me esperassem. Olhei por toda a sala e me despedi de tudo, é triste ter que mudar sua vida radicalmente, como eu estava mudando. Ir para um orfanato era o mais dolorido.

Eu saí com lágrimas nos olhos, ao fechar a porta, me virei e me deparei com alguém que eu não queria ver mais nunca na minha vida. A Thamires estava lá, parada me olhando séria e com um sorrisinho amargo. "O que essa vagabunda quer aqui?" cochichei comigo mesma. Ela veio andando na minha direção e eu já a interrompi falando:
- Ei, fica aí mesmo. O que você está fazendo aqui? Quer levar uma surra?

- Eu soube o que aconteceu e vim ver como você está... - Ela disse.

- Thamires, você não cansa de ser sinica? Quantas árvores você já desmatou para fazer essa sua cara de pau? Vaza daqui antes que eu perca a paciência com você. E eu já vou avisando que já está no limite. - Falei com uma expressão de raiva.

Ela tentou me abraçar, mas à empurrei. Depois disso ela não me disse mais nada e saiu andando olhando para trás. Fui rapidamente até o carro, pois não aguentava mais olhar a cara dela. O doutor me olhou e disse:
- Quem era?

- Ninguém. - Respondi.

Ele sorriu daquele mesmo jeito que me arrepiava, não sei porque mas de alguma forma, ele me metia medo.
- Vamos? - Falei franzindo a testa.

- Você está bem? - André me perguntou tocando em meu ombro.

- Sim estou, só quero sair daqui. - Respondi abaixando a cabeça.

O doutor deu partida no carro e saímos daquele lugar que talvez eu nunca voltaria à ver novamente. Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e eu me desabei. André me abraçou e me confortou em seus braços. Me senti segura novamente, meu corpo estremeceu e minhas lágrimas diminuíram conforme íamos chegando perto do orfanato. Não era distante da minha casa e eu poderia continuar estudando na mesma escola que o André. Pelo menos uma notícia boa!

Descemos do carro e o doutor me falou:
- Vamos, eu irei resolver sua papelada.

- Mas você não é nada meu, nem sei seu nome, como pode fazer isso? - Falei.

- Meu nome é Dr. Shyrer. Não sou nada seu, só estou te prestando um favor. - Ele respondeu com aquela cara que me fazia ter medo de olhar até em seus olhos.

- Então vamos? - André perguntou, segurando em uma das minhas mãos.

- É... vamos. - Respondi nervosa.

Ao entrarmos pela porta, vi alguns olhares vindo até mim, corei na hora e senti até meu rosto quente. O momento mais estranho foi quando o André ficou imóvel ainda segurando a minha mão. Perguntei olhando para seus olhos que olhavam fixamente para um certo lugar:
- André? Está tudo bem? Porque você parou?

Ele não me respondeu nada. Então quando virei meus olhos para ver o que o André tanto olhava, vi uma turma de garotas nos olhando. Umas delas me olhava fixamente furiosa, parecia que estava me matando dentro de sua mente. Virei-me para o André e perguntei:
- André, você conhece aquela garota ruiva ali? Por que ela está me olhando com aquele olhar de cobra?

- E... Ela... Ela é... é minha ex. - Ele respondeu quase que parando sua voz.

Eu fiquei curiosa, com vontade de dá um tapa na cara do André e perguntar "Qual é a sua? Você tá comigo e fica olhando pra sua ex?", mas eu me segurei. Apenas balancei o André e ele me olhou ainda paralisado.

- O que está acontecendo com você? - Perguntei.

- Nada, eu só quero sair logo daqui e acho melhor nós te colocarmos em outro orfanato que tal? O senhor não concorda doutor? - Ele respondeu, olhando para o Shyrer.

- Claro que não. Esse é o único orfanato perto da escola dela. - Shyrer respondeu me olhando.

Eu achava estranho, porque mesmo que o Dr. Shyrer me olhava e me deixava assustada, ele se preocupava demais comigo e isso era muito esquisito. O André segurou em meu rosto e disse:
- Eu não sei se vou poder vim te visitar Ângela.

- Mas porquê isso agora? Porque não pode mais? Isso é tudo por causa da sua ex? - Respondi questionando.

- Nada... Nada esquece Ângela. - Ele respondeu olhando novamente para a ruiva.

A vontade que eu senti agora era de socar a cara do André, e depois a dessa ruiva que eu nem sabia quem era. O grupo de garotas junto com a ruiva veio em nossa direção, e aquela voz horrível e ridícula de garota mimada saiu da boca da tal ruiva:
- Oiiii, Andrézinho!

Ah não! Chamar ele de André tudo bem, agora "Andrézinho"? Essa perua deve estar pedindo pra morrer!!! - Pensei comigo mesma já com o rosto vermelho de raiva.

- Oi Pâmela. - André respondeu olhando para mim e vendo minha fúria. - Essa aqui é minha namorada. - Ele complementou.

- Namorada? Isso ai é sua nova "namorada"? - Ela respondeu fazendo o gesto de aspas com os dedos.

- Sim fofa, sou a namorada dele. E você quem é? Deve ser a empregada dele, porque pela cara de escrava que você tem, não há dúvidas. - Respondi olhando furiosamente para ela, que agora estava acompanhada por mais 4 garotas, além das 3 que já estavam com ela. - Essas daí devem ser as substitutas não é? - Falei rindo.

Eu não sei o que me deu na hora, tudo ficou escuro. Só vi uma das amigas da Pâmela me atacando e dando socos no meu estômago e no meu rosto. Me vi caindo no chão, minha vista começou a escurecer, vi o André puxando a garota, umas pessoas tentando me chamar, mas eu não escutava nada, só observava os sinais e tudo que estava acontecendo. Vi a expressão no rosto da Pâmela e ela estava rindo, me vendo caída ao chão, suas amigas também estavam lá gargalhando.

O Dr. Shyrer me pegou pelos braços e levou-me para uma das salas. Vi o André correndo atrás de nós, até minha vista escurecer totalmente, não vi mais nada e acabei apagando.

A FalsidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora