Escritores e seus processos criativos (parte 1)

378 9 0
                                    

Kenai, um homem de vinte e dois anos e  descendência indígena,  terminava de fumar um cigarro Lucky Strike na frente de um bar. Com a sola do All-Stars branco na parede do estabelecimento, puxou a manga da jaqueta customizada e conferiu a hora. Inclinou a cabeça para o interior do bar, o que fez seu cabelo preto e liso escorrer por sua pele vermelha. Ajeitando a armação redonda dos óculos, deu um último trago, então soltou a bituca no chão, apagando-a com a sola do calçado.

As buzinas dos carros estavam furiosas, expressando a indignação dos motoristas que só queriam chegar em casa após uma noite de trabalho. Ao menos, por aquilo, Kenai não precisava passar. Ele era um escritor independente e trabalhava no conforto de seu apartamento, situado a alguns metros daquele bar.

Ele aguardou que duas mulheres entrassem e acompanhou-as até o interior. “Eles já devem estar por perto”, pensou, procurando o melhor lugar para se sentar. Logo avistou Shawn, o funcionário grandalhão barbudo, passando entre os clientes com uma bandeja vazia debaixo do braço e um pano jogado sobre o ombro. 

Ao vê-lo, o homem apontou para o canto em que ficava a área dos fliperamas e sinuca, sinalizando que havia uma mesa vaga. Kenai sorriu em agradecimento e sentou-se. A decoração, com quadros de bandas de Rock, das mais antigas até as mais recentes, era o que Kenai mais gostava de admirar no salão.

Sempre que concluía algum de seus contos eróticos, publicados em uma plataforma de escrita gratuita com o pseudônimo Kyle Finch, gostava de sentar naquele bar para tomar uma cerveja gelada e curtir o ambiente retrô. Seus olhos pretos percorriam as trilhas neon que ligavam os quadros, enquanto ele mexia no pingente de presa de onça de seu cordão quando avistou Todrick, um dos amigos escritores por quem ele aguardava.

Todrick tinha vinte e seis anos, a pele negra com tatuagens que lhe cobriam ambos os braços musculosos, cultivados pelas horas que passava na academia, quando não estava escrevendo ou em alguma orgia pela cidade. Abriu o zíper da jaqueta branca que usava, revelando ainda mais seu físico, embalado a vácuo pela camisa lilás com um decote em V que mostrava bem o rasgo entre seu peitoral. 

Kenai estendeu o braço, atraindo a atenção do amigo, e apreciou o máximo que pôde aquelas coxas, apertadas pelo jeans escuro, enquanto ele se aproximava com um sorriso largo. Aproveitando-se do aperto de mãos que davam, Todrick puxou  Kenai para um abraço. Seu perfume Dior estava na medida certa, o que o deixava ainda mais atraente.

   – Tá aqui há muito tempo? – Todrick olhou para a mesa, percebendo a ausência da cerveja. – Pelo visto, não. A Sasha já deu sinal de vida?

Kenai negou com a cabeça, procurando por Shawn no salão. 

   – Ela nunca dá notícias, Tod. Mas é certo que ela vem. – Ele sinalizou para que Shawn trouxesse duas Budweiser e sentou-se.

Enquanto Todrick se ajeitava na cadeira, percebeu que duas coisinhas pontiagudas marcavam seu mamilo direito.

   – Nada escapa desses olhos, não é, cara? – Todrick tocou o peito. – Gostou?

   – Sempre dando um jeito de ficar mais gostoso. – Kenai recebeu as cervejas de Shawn, que saiu depressa em direção à mesa ao lado. – Saúde.

Os dois brindaram com as garrafas, então deram o primeiro gole. Antes mesmo que Sasha abrisse a boca, Kenai soube que ela havia entrado no ambiente. Seu perfume era inconfundível.

   – Eu não acredito que já começaram sem mim! – Ela gritou, caminhando até a mesa deles.

Sasha era coreana, daquelas que, enquanto calada, parecia uma bonequinha, porém bastava ela abrir a boca e se movimentar para revelar que era um verdadeiro furacão. Ela vestia uma mini saia roxa, salto alto da finura de uma agulha, camisa de alguma marca que Kenai nem tentou reconhecer, visto que a garota nunca repetia peças de roupa, e segurava uma carteira preta com o símbolo da Prada. Acenando para Shawn, com as pulseiras e penduricalhos balançando loucamente, ela se aproximou.

   – Oi, Shawn. Tô na casa hoje, hein. Trás uma pra mim também, por favor. – Ela colou dois beijos no rosto de cada um dos rapazes à mesa e já foi se sentando. – Desculpem o atraso, eu me empolguei com uma ideia pra uma história que quero escrever e… Bem, vocês também escrevem, sabem como é.

Era impossível não sorrir com a energia que a garota passava. Ela pegou a garrafa, e Kenai percebeu que suas unhas estavam muito bem feitas, porém bem curtas. Estranhou, mas preferiu ignorar.

Os três compartilhavam suas ideias mais recentes, parcerias que conseguiram com alguns influenciadores literários, entre assuntos do dia a dia enquanto secavam as cervejas como se fossem meras garrafas de água mineral. Kenai dava indícios de seu lado mais saidinho, olhando para as pernas de Sasha a cada cruzada que ela dava. Todrick flertava com uma mulher mais velha, que mordiscava o cabinho da cereja, sorrindo de forma sugestiva para ele.

   – E aquele lance que você queria falar com a gente pessoalmente? – Todrick deu outro gole na cerveja, jogando a tampinha de um lado para o outro sobre a mesa.

Seu pomo de Adão subiu e desceu, vigiado pelo olhar de Kenai, que imaginava-se beijando aquele pescoço inteiro. Sasha colocou a garrafa vazia perto do maço de cigarros e isqueiro de Kenai, e disse, olhando de um para o outro, com uma carinha que fez a imaginação de Kenai trabalhar a todo vapor:

   – Eu andei fazendo umas pesquisas com os meus leitores pra saber se eles gostariam de um conto hot bissexual. 

Todrick ergueu a sobrancelha e assentiu, aguardando por mais informação. Kenai deslizava o polegar pelo rótulo da garrafa, atento ao que ela dizia.

   – Bom, o Kenai escreve super bem as cenas de hot bi. Inclusive, o último que você escreveu, que delícia! – Ela riu, depois olhou para Todrick. – E, Tod, você tem um jeito tão cafajeste de transformar suas vilãs e caras que não valem nem um centavo nos motivos das masturbações dos leitores.

   – Você quer que a gente te ajude a escrever algo unindo nossas habilidades. – sugeriu Kenai, olhando-a por cima dos óculos.

Ela deu outro sorriso daqueles que Kenai já a imaginara dar enquanto escrevia as cenas de sexo entre seus mafiosos e as mocinhas sequestradas. Todrick parecia estar começando a entender onde ela queria chegar. Cruzara os braços, provocando uma reação involuntária dentro da calça de Kenai.

   – Na verdade, eu estou com um bloqueio criativo. Eu só consigo escrever as minhas cenas exatamente da maneira que quero quando testo as posições e… Bem, nós três estamos solteiros. – Ela colocou as mãos sobre a coxa de cada um e apertou.

Todrick e Kenai se encararam, perplexos pela proposta, e, sincronizados, viraram suas garrafas de cerveja.

Apesar de sempre brincarem com frases de duplo sentido durante suas conversas, Kenai e Todrick nunca haviam pensado em ir além daquilo. Ao menos, nunca chegaram a verbalizar os seus desejos. Kenai, no entanto, por diversas vezes bateu punheta imaginando Sasha e Todrick nas mais diversas situações.

Contos para crescidinhos 🌶️Onde histórias criam vida. Descubra agora