Capítulo 4

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Não tenho certeza de quanto tempo permaneci naquela mesma posição, mas foi o suficiente para que eu começasse a sentir a umidade da chuva em minhas roupas e o frio do vento gelado em minha pele, me congelando por dentro. De qualquer forma eu teria que me mexer e sair de lá, ou nunca mais iria embora. Então, retomando minha consciência, crio forças e lentamente me levanto, ainda me apoiando na parede. Quando me encontro completamente de pé, escondo o livro debaixo de minha roupa para que a chuva não o atinja ainda mais, dou uma olhada ao redor e retomo o mesmo caminho que havia feito para chegar até aqui. Ando em passos curtos e fadigados, tropeçando no vazio que se embrenhou nas ruas e em minha mente, lutando para chegar até minha casa. Depois de um tempo, de alguma forma consegui chegar, então peguei as chaves que estavam em meu bolso, abri a porta e entrei na escuridão que se instalou na sala. Meus pais já deviam estar dormindo, pois consegui chegar até meu quarto sem sua interferência, mesmo fazendo um barulho considerável.

Entro em meu quarto, ponho o livro sobre a mesa e imediatamente jogo o corpo em minha cama, com as roupas molhadas que estava, sem demora. Fecho os olhos, escuto minha respiração ofegante e falta de energia, mal consigo me mexer, mas por algum motivo também não consigo dormir, em vez disso estou apenas entrando em um novo estado de consciência. Com dificuldade, posiciono minha barriga para cima, a fim de melhorar minha respiração, e deixo minha mente vagar por onde sentir vontade. Nesse processo consigo finalmente relaxar e descansar meu corpo, mesmo sentindo que não estou completamente em minha realidade, dormindo profundamente as últimas horas que me restam. Acordo no dia seguinte às 13:37 da tarde, abro os olhos e sinto meu corpo destruído, junto a uma forte dor de cabeça. Apurando meus ouvidos consigo escutar sons de pessoas conversando no andar de baixo da casa, penso que são meus pais, então me esforço para levantar da cama, trocar de roupa e ir em direção ao banheiro. Quando foco meu rosto no espelho consigo perceber claramente as marcas do dia anterior, descritas nas olheiras que rodeiam meus olhos, então jogo um pouco de água fria em meu rosto, seco com uma toalha e saio do quarto.

Descendo as escadas, viro à esquerda e vou em direção à cozinha, encontrando meus pais guardando a louça do almoço enquanto conversam. Quando percebem minha presença se viram rapidamente em minha direção, com um sorriso meigo no rosto, e logo puxam assunto comigo.

- Bom dia meu filho. Como está se sentindo?- Pergunta minha mãe.
- Aparentemente acabado, não?- Diz meu pai num tom de brincadeira.
Mesmo não conseguindo pensar corretamente para responder a altura de suas perguntas, me esforço para colocar um sorriso no rosto e acalmá-los.
- Eu estou bem, mas talvez tenha exagerado ontem à noite.
- Você acordou tarde garoto, como vai almoçar a essa hora?- Pergunta meu pai.
- Acho melhor pular o almoço e ir direto para a próxima refeição. De qualquer forma não estou com fome agora.
- Faça o que achar melhor. Agora me conte logo como foi sua festa de despedida, quero saber sobre meu recém formado!- Diz minha mãe empolgada e curiosa.

Eu não poderia simplesmente dizer que havia me encontrado com um ser sinistro que me tirou de meu próprio corpo, me deixou sozinho na rua, debaixo de chuva, voltei desnorteado com um livro estranho nas roupas e dormi completamente ensopado. Então decidi contar até a parte da lanchonete, sem muitos detalhes, apenas o necessário.

- Vocês sabem, eu não sou muito fã de festas, então acabei saindo mais cedo de lá.- Digo isso enquanto me aproximo e sento em uma das cadeiras do balcão.
- Mas você chegou tarde em casa. Não me diga que arranjou uma namoradinha de uma noite, em!- Disse meu pai, dando tapinhas no meu ombro.
- Pare de falar essas coisas desse jeito com seu filho, Arturo! Não vê como ele ficou vermelho de vergonha?- Respondeu minha mãe como forma de bronca.
- Me desculpe, me desculpe! Pode continuar filho.

Eu nunca sei como responder meus pais quando eles me perguntam sobre namoradas ou amigos. Eu disse isso antes, sou uma pessoa quieta e reservada, não consigo simplesmente "chegar em alguém" e iniciar algo.

- Bem, na verdade depois disso eu passei em uma lanchonete e acabei me distraindo com o que passava nas reportagens.
- E o que passava?- Pergunta minha mãe.
- Uma garota de quinze anos está desaparecida há uns três dias. Parece que ela foi vista pela última vez atordoada no beco da avenida principal.
- Oh, mas isso não parece estranho? Uma garota tão jovem, aparentemente atordoada... será que estava sozinha?- Questionou meu pai.

Na hora eu não havia pensado nisso, mas a história dessa garota, estranhamente, se parece demais com a minha, com a diferença de que eu não desapareci- por pura sorte. Eu deveria saber mais sobre isso.

- Se estava ou não, isso só significa que nós devemos tomar muito cuidado a partir de agora. E você, mocinho, nada de chegar tarde em casa até as coisas se acalmarem, ouviu?- Disse minha mãe.
- Claro, claro. Eu estou tão cansado que nem se quisesse poderia passar mais uma noite fora.- Falo isso enquanto dou uma pequena tosse.- Minha garganta dói um pouco.
- Você pegou aquela chuva de ontem?- Pergunta minha mãe.
- Bem, sim, de certa forma...
- De certa forma? Explique isso melhor.- Fala meu pai.
- Na volta para casa.- Droga- Eu me descuidei e voltei ensopado.
- Mas você ao menos tirou as roupas antes de dormir?- Pergunta minha mãe.
- Bem, eu estava cansado...
- Pelo amor de Deus Corin! Me impressiona você conseguir ficar de pé depois disso tudo.- Impressiona a mim também mãe, acredite.
- Agora entendi o motivo das olheiras e da pele vermelha, você está pelando em febre! Leah, temos algum remédio para baixar isso?- Completa meu pai, indignado.
- Os remédios acabaram e os ingredientes para um xarope também, precisamos comprar mais- Diz minha mãe, completando a frase com um suspiro.
- Vocês tem um compromisso para hoje mais tarde, certo? Eu posso ir comprar as coisas e adiantar o processo.- Digo isso na intenção de acalmar os nervos.
- Veja, Isso não seria ruim, filho, mas pelo menos coloque uma roupa quente antes de sair. Depois da chuva de ontem a temperatura baixou.- Disse minha mãe, aceitando a situação.
- Ótimo, eu posso fazer isso.- Eu não posso fazer isso.
- Vá e volte rápido, quanto mais tempo demorar, mais frio ficará.- Diz meu pai, concordando com minha mãe.
- Certo.

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