Impossível.
- Eu quase tive certeza de que não viria!- Disse Kai.
- Haha, nunca pensei nisso!- Mas que mentira...
- Boa tarde Corin! Fiquei tão feliz quando Kai disse que você viria.- Falou Ayla enquanto me abraçava.
- Eu não!- Disse Riley, em tom de deboche, enquanto se sentava.
- Eu fiquei feliz pelo convite. Foi... inesperado.
- Haha, o Kai da dessas às vezes- Disse Ayla.
- Vejo que gostaram daqui.
- Gostamos sim. O lugar é bom e a comida muito gostosa.- Kai falou, de forma inexpressiva, enquanto se sentava.
- Bem, o que pretendem pedir?
- Eu vou de carne! Vi ontem que fazem um bife gigante e quase pulei na mesa do lado!- Riley disse, mostrando os dentes.
- Eu quero macarrão!- Ayla disse de forma convicta.
- Nossa, mesmo morando aqui por anos nunca pensei que esse lugar teria tantas opções... E você, Kai?
- Hum. Acho que vou de frango mesmo.
- Entendi... Bem, nesse caso, eu vou pegar essa salada com frango completa. Parece boa, eu acho.Todos fizeram seus pedidos e começaram a conversar sobre trivialidades da vida. Bom, todos menos eu, claro. Se coloque no meu lugar: você está sentado numa mesa junto à três pessoas que conheceu por acaso e de primeira não se deu bem, mas tem que manter a postura porque, no fundo, tem medo de que o maldito livro te restreie e te mate. O que eu faço agora? Deveria evitar livros para o resto da minha vida? Vou ter que conviver com essas pessoas por anos? Mas eu já não estou aguentando dez minutos disso! Enfim, tenho que me acalmar. É impossível que aquele livro estranho seja real e que ele me persiga para o resto da vida. Vou apenas permanecer quieto, terminar minha salada e ir para casa. Vou esquecer essa história.
Um tempo depois, a garçonete que fez nossos pedidos se aproximou com uma bandeja cheia em mãos e entregou nossos respectivos pratos, me dando a oportunidade de realizar meu plano com perfeição. Uma coisa que descobri sobre esse grupo é que eles gostam mesmo de falar. Bem, quase todos.. Ayla estava à minha direita e Riley à sua frente. Os dois falavam sem parar sobre todos os assuntos possíveis. Kai, que ficou à minha frente, não falava tanto quanto os outros, mas ainda sim gostava de conversar. Confesso que, por um momento, a aura animada daquele lugar me cativou tanto que quase joguei meu plano por água abaixo e abri minha boca, por sorte me lembrei de meu objetivo a tempo.- E você, Corin. Não é de falar muito? Parece que é pior que o Kai.
- Deixa de ser chato, Riley.- Kai retrucou, brincando.
- Não estou sendo chato, só quero saber um pouco mais sobre nosso amigo- Disse Riley, esboçando um sorriso de canto no rosto.
- Tudo bem. Eu geralmente não falo muito mesmo.- Que pena, acho que não vou conseguir fugir da conversa.
- Hum. Pra quem não é de falar muito até que conversou bem com o Kai ontem, né?
- Eu poderia ir embora a qualquer momento. Que vergonha.
- N-não é nada disso!- Respondi rapidamente, afoito.
- Riley! Onde estão os modos?- Retrucou Ayla, irritada.
- Vou te falar onde eles estão. Hehe.- Disse Riley, com intenção de provocar.
- Nada aconteceu ontem, ok? Nós apenas nos encontramos do nada e eu o convidei, como agradecimento.- Disse Kai, em tom sério.
- Claro, claro. Então qual o motivo das bochechas vermelhas, Corin?- Riley perguntou.
- Nada de mais! Você apenas me pegou de surpresa!- Minha vergonha está ultrapassando todos os limites agora.
- Hehehe.
- Vamos mudar de assunto!- Interrompeu Ayla- Corin, você gosta de ler?
- Sim, gosto. Mas decidi ficar um tempo sem ler.
- Hum? Por que disso?
- O último livro que li não me agradou muito.
- E ele é tão ruim que você não pode ler outros livros?- Perguntou Ayla.
- Sim. Preciso de um tempo para me recuperar.
- Nossa. Mas que livro é esse? Acho que nunca li algo que fizesse isso comigo.
- Exílio o nome. Não recomendo que leia.
- Exílio?- Disse Riley, de subito.De repente, os três começaram a me encarar de uma forma estranha, embasbacados e sem soltar uma palavra sequer. Alguns segundos depois trocam olhares entre si e fazem uma expressão como se significasse "sim, vamos avançar!". Aquilo me deixou assustado, principalmente quando seus semblantes mudaram para um sombrio e seus corpos se aproximaram de mim com um interesse brutal.
- Você se importaria em responder algumas perguntas?- Perguntou Kai.
- Que tipo de pergunta?
- Nada de mais. Apenas sobre o livro mesmo...
- Claro...
- Perfeito. Quando você encontrou o livro?
- A uns dois dias atrás.
- E onde o encontrou?
- Na biblioteca da cidade.
- Claro, claro. Esse seria nosso próximo passo, não?- Perguntou Kai à Riley e Ayla.
- Próximo passo? Do que você está falando?- Eu perguntei, com um certo receio em escutar a resposta.
- Você poderia nos mostrar o livro?- Interrompeu Ayla.
- B-bem, ele não está mais comigo.
- Não está o que?- Perguntou Riley, que parecia irritado.
- Eu o entreguei de volta à biblioteca hoje mais cedo antes de vir para cá.- Meu medo estava ficando cada vez maior- Mas eu posso levar vocês até lá, se quiserem.
- Tudo bem. Vamos terminar o almoço primeiro e depois iremos.- Disse Kai.De súbito todos mudaram novamente seus semblantes, como se nada estivesse acontecido, voltando a comer e conversar sobre trivialidades. Naquele momento senti um frio na espinha, comparado ao que tinha sentido com o próprio livro, mas dessa vez com pessoas reais. Meu pressentimento estava certo. Eu deveria ter me afastado assim que tive a chance. Agora tudo que posso fazer é terminar de comer, levá-los até a biblioteca e fugir. Preciso me controlar e agir normalmente, mas tomar cuidado com o que faço e falo. Não sei se essas pessoas são, na verdade, um grupo de sequestradores ou assassinos. Ou até mesmo se fazem parte de uma seita que cultua aquele livro-demônio. Tudo que sei é que minha vida está em risco com eles e que preciso me distanciar.
Alguns minutos se passaram e eu me mantive em silêncio, mesmo com as tentativas deles de conversarem comigo. Por conta do medo que estava sentindo acabei terminando meu prato antes deles, o que piorou ainda mais minha ansiedade. Mas isso durou pouco, já que, alguns minutos depois, todos eles já tinham terminado de comer.
- Você tinha razão, Corin. A comida deste lugar é deliciosa.- Disse Riley, olhando no fundo dos meus olhos e mantendo sua aura sombria.
- Bem, já que todos acabamos podemos ir, certo?- Perguntou Kai.
- Com certeza.- Respondeu Riley.
- Vamos logo, não aguento mais esperar!- Disse Ayla.
- Corin? Nós mostre o caminho.- Disse Kai, fazendo um gesto com a mão em direção à porta.
- Claro...- Eu estou desesperado.
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Exílio
Ficción General"[...]O remédio para o tédio é a liberdade. Liberte-se de si mesmo e se sentirá completo. Foi um prazer conhecê-lo, garoto, nos veremos em breve.- E novamente na escuridão, o ser celestial se foi, me deixando sozinho naquela rua deserta, úmida, e fr...