1. O número um

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Ano 3261

Em algum lugar na Via Láctea

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O terceiro e último turno era sempre o mais tranquilo. Enquanto o restante da tripulação descansava nas cabines do dormitório, a equipe responsável pela operação da nave trabalhava sossegada na Sala de Comando. Eram os melhores profissionais do esquadrão, os cérebros por trás de tudo o que acontecia ali. Agora, uns monitoravam e analisavam os dados de navegação, os quais eram atualizados a todo instante, e outros realizavam as rotinas de manutenção dos sistemas. Mesmo entediados por fazerem as mesmas atividades de sempre, desempenhavam suas funções perfeitamente. Naturais como seres humanos, ágeis como máquinas.

De vez em quando, ouviam-se cochichos. Porém, era sob o império do silêncio que ficavam a maior parte do tempo. Por isso, foi uma completa surpresa quando o major Kim Minseok gritou:

Intervalo! — O anúncio ia contra o enorme relógio digital projetado no painel central. Faltavam longos minutos até o horário costumeiro da pausa programada para comer algo e esticar as pernas. — Fui avisado que receberemos uma visita importante em breve — o major explicou e, então, aquilo fez sentido. — Pausem o que estão fazendo imediatamente e aguardem.

Obedecendo o seu superior, o capitão Kim Jongdae parou de prestar atenção nas linhas do código que revisava e afastou a cadeira giratória da mesa. Levantou-se e alongou-se, aproveitando a boa oportunidade de aliviar a dor na coluna e nos ombros. Olhou ao redor e viu que seus colegas faziam o mesmo, enquanto bocejavam ou grunhiam baixo, reclamando implicitamente da fadiga que sentiam — já não era mais tão prazeroso passar horas em frente ao computador.

O conforto da equipe de operação não durou muito tempo. Assim que Jongdae, sem propósito nenhum, virou-se em direção à porta metálica robusta que dava acesso à Sala de Comando, viu-a se partindo ao meio. Dali, surgiu a imponente figura do coronel Park Chanyeol.

Como os demais, o coronel trajava o uniforme mais básico da Força Especial, cor de caqui e com manchas rajadas em branco e cinza. As calças cheias de bolsos davam mais volume às suas pernas e, na parte superior, ele usava uma jaqueta fechada até o último botão, que servia principalmente para sustentar as insígnias e medalhas de condecorações que carregava do lado esquerdo do peito.

A maior autoridade do esquadrão avançou firme. As botas pesadas trepidavam o chão, fazendo ecoar um barulho que perturbou o ambiente quieto. Ele parou poucos metros depois da entrada da sala. E, enquanto se dedicava a buscar o major Kim Minseok entre os demais membros da equipe, tirou a boina da cabeça e a colocou debaixo do braço esquerdo. Seus cabelos pretos, sempre bem cortados, com a lateral rala e o topo com fios curtos organizados em um topete, brilhavam mesmo diante da pouca luz.

— Atenção! — Foi o tenente-coronel Oh Sehun quem exclamou, em alto e bom som, iniciando a saudação formal ao coronel. A sua presença ao lado de Park Chanyeol era algo mais certo do que os cálculos dos engenheiros mais experientes do universo. — Sentido! — Logo, sincronizados, todos bateram continência.

— Descansar. — O próprio coronel Park deu fim ao ato de respeito. Uma avaliação rápida de sua feição foi o bastante para que os presentes entendessem que nada de bom estava por vir. — Preparem-se. Teremos uma reunião em cinco minutos. — A voz firme foi motivo de mais preocupação.

Oh Sehun, que até o momento mantinha um olhar diminuto e um discreto finco entre as sobrancelhas, deu poucos passos até o painel de controle do ambiente e pressionou a mão direita no leitor biométrico. Em segundos, a Sala de Comando se personalizou de acordo com as configurações cadastradas no seu perfil. Todas as luzes acenderam em potência máxima, de modo que a extrema claridade ofendeu os olhos dos membros da equipe de operação, habituados a trabalhar sob a penumbra. Depois, os sistemas dos supercomputadores e dos painéis digitais foram suspensos, restando somente o símbolo do Primeiro Esquadrão vagando nas telas de descanso dos dispositivos eletrônicos.

Olhos no HorizonteWhere stories live. Discover now