8. Armistício

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Kim Jongin ficou em choque. Assustou-se com o barulho do disparo e com o potente recuo da pistola, que fez seu antebraço tremer. Abaixou a arma, o braço pendendo ao lado do seu corpo, e engoliu em seco. Respirar foi uma tarefa muito difícil nos segundos posteriores aos gemidos de dor de Park Chanyeol, que, com os olhos estreitos, contorceu-se no chão até que a munição dopada fizesse efeito e ele cedesse ao coma induzido.

A bem da verdade, Kim pensou que se sentiria melhor ao fazer aquilo. Pensou que saciaria a sua sede de vingança e mostraria ao coronel o quanto ficou ofendido ao ser submetido à mira dele logo depois de trocarem um beijo apaixonado — o qual, por mais que fingisse fazer parte da armadilha que estruturou detalhadamente, jurou que marcaria o fim das desavenças entre eles. Ou o começo das negociações de uma trégua.

Porém, por mais que Jongin tentasse muito, foi um sacrifício lidar com o seu feito. Talvez tivesse se desacostumado com aquele tipo de brutalidade súbita, afinal fazia um bom tempo que ele não usava uma arma de fogo contra um ser vivo. Treinava tiro ao alvo em placas de metal, só para não perder a habilidade. Evitava violência, cometer atos tão atrozes. Assim, também evitava colher o seu fruto mais impiedoso: o arrependimento.

Não era mais do tipo que sujava as mãos facilmente, como foi em seus anos nas Forças Especiais. Desde que assistiu Byun Baekhyun morrer, Kim resolveu se afastar dos combates. Da linha de frente. Ao colaborar com os Revolucionários, atuava em partes mais estratégicas. Quase sempre podia ser encontrado enfurnado nos laboratórios que ajudou a otimizar, supervisionando os mais variados tipos de experimentos de adulteração de amostras que eram executados no universo afora pelos povos que queriam sumir aos olhos do Governo Universal. Seus dias se passavam todos assim, ou preenchidos por outros compromissos exaustivos da agenda dos líderes dos Revolucionários. Quaisquer atividades que envolvessem violência física (que não deixavam de existir aos montes só porque ele estava do lado oposto ao governo) ficavam a cargo de outros.

Existia ainda, é claro, a reles possibilidade do enorme incômodo que rapidamente cresceu em Jongin ser causado pelo fato dele ter machucado alguém que amava tanto.

— Jongin? — Doh Kyungsoo o chamou e, como não obteve nenhuma resposta, foi até ele. Kim continuava parado no mesmo lugar de onde disparou em Park, os olhos vidrados no corpo do coronel estirado no chão sobre uma poça de sangue que se alastrava, pintando o cimento queimado. Uma bagunça. — Ele vai ficar bem. — O prefeito levou uma mão ao ombro do amigo, deixando um aperto para confortá-lo.

— Eu quase... — Jongin murmurou, nervoso. — Uns dois centímetros para o lado e eu teria... — Não completou.

Ficou de joelhos ao lado de Chanyeol. Soltou um suspiro pesado e tocou o ferimento dele, que minava o líquido morno e espesso. A bala havia acertado o braço esquerdo de Park, de modo que, por pouco, não atingiu o tórax — e, se tivesse atingido, acertaria bem no coração.

— Mas não errou — Kyungsoo afirmou. — E Park Chanyeol é um cara forte. Um tiro no braço não fará nem cócegas nele.

Jongin tentou se apegar à conclusão do prefeito ao observar Park, que estava estranhamente pacífico em meio à mancha vermelha que molhava a manga de seu uniforme de combate. Parecia dormir um sono profundo e calmo.

A serenidade com que Chanyeol se entregou ao desmaio resultava do uso de uma munição dopada, um tipo de bala metálica cuja superfície era embebida com substâncias anestésicas, desenvolvida para neutralizar oponentes sem necessariamente matá-los.

— Posso te fazer uma pergunta? — Doh recolheu a pistola da mão gélida de Kim e a colocou sobre a mesa. — Por que fez isso? — Assim que soltou o questionamento, arrependeu-se. Sabia que compreender aquilo, as decisões de Jongin, não era da sua conta. Contudo, sendo teimoso até para ouvir as próprias opiniões, reformulou: — Digo, se sabia que o coronel Park não ia machucar você, por que atirou nele?

Olhos no HorizonteWhere stories live. Discover now