6. Procurado vivo ou morto

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Acatar o coronel Kim Jongwan custou muito à sanidade dos membros do Primeiro Esquadrão enviados naquela missão. Desovem o corpo. A ordem foi repetida várias vezes nas escutas até que enfim fosse obedecida. Demorou longos minutos para que seus subordinados criassem coragem de arrancar o corpo do sargento Byun dos braços do major Kim. Inclusive, para isso, foi necessário que três pessoas imobilizassem Jongin por um momento.

Ao ver Baekhyun sendo arrastado para fora do seu campo de visão, Kim Jongin se desesperou. Ele esperneava, gritava e chorava intensamente, como se estivesse sendo torturado — e, de certa forma, estava. O que fariam com Byun? Percebendo que nenhuma das respostas que encontrou para essa pergunta lhe satisfez, Jongin brandou com todas as suas forças, o baque do luto atingindo-o em cheio. Quando sua energia se esgotou, e já não tinha mais lágrimas para chorar, ele descansou os olhos em seu colo e mãos, enxergando não muito mais do que o uniforme sujo com o sangue do primo.

Não conseguir chegar perto de Jongin, abraçá-lo e chorar com ele, compartilhando a tristeza do acontecido, estraçalhou mais ainda Park Chanyeol. Não ousou se aproximar do noivo, acreditando que, depois do que fez, qualquer tentativa de consolá-lo seria hipocrisia. Portanto, o major Park continuava em pé exatamente no mesmo lugar de onde disparou os três tiros que atingiram o coração de Byun Baekhyun. Ele encarava o chão, onde Jongin ruía. Emocionalmente destruído, desligou-se do que acontecia ao seu redor. O olhar perdido ficava cada vez mais desfocado.

Ao perceberem o estado de choque de Park Chanyeol e Kim Jongin, os sargentos Kim Minseok e Kim Jongdae decidiram agir. Mesmo também devastados, ajudaram a guiar os majores para fora do bunker e, logo em seguida, de volta à NOVA do Primeiro Esquadrão. Tentaram agir com frieza, abdicando dos traços que os tornavam mais humanos do que máquinas de combate.

Durante o caminho até a nave auxiliar, Kim Jongin não sentiu nada. Nada. Seus pés tocavam o chão, em passos lentos, mas o vazio que lhe preenchia fazia prevalecer a sensação de flutuar em gravidade nula, à deriva da existência. Seguravam-lhe os braços, sustentando-o em pé, mas os apertos em sua carne pareciam falsos, frouxos, flácidos, como se seu corpo fosse feito de esponja. E os olhos inchados eram como uma tela que o separava da realidade.

Mas o que era real, afinal?

De Kim Jongin para fora, a vida continuava. Havia ordens a serem obedecidas, procedimentos a serem realizados, longos relatórios a serem redigidos. De Kim Jongin para dentro, um massivo buraco negro se agigantava, engolindo-o.

Ao embarcarem na nave auxiliar, uma pequena multidão se formou ao redor dos — agora nove — combatentes enviados para a segunda parte da missão de resgate. E, enquanto a condição de Jongin era verificada por uns três membros do esquadrão, foi Oh Sehun a única pessoa que trombou com Park Chanyeol.

— O senhor está bem, major? — Chanyeol não processou muito bem a pergunta de Sehun. Ao invés disso, analisou o rosto avermelhado do amigo, que denunciava que ele tinha chorado recentemente. Park nunca imaginou que Oh fosse lhe dirigir a palavra outra vez após ter sido o responsável pela morte de Byun. Então, tê-lo querendo verificar o seu estado foi, no mínimo, desconfortável. Fez Chanyeol se afogar em culpa.

— Sehun, e-eu... — Tentou falar. — Eu n-não... — Desistiu. O que viria a seguir? Um "eu matei seu namorado porque ele era um traidor"? "Eu estava só seguindo ordens"? Não, nada disso seria sincero.

Quando Park Chanyeol matou Byun Baekhyun, não teve tempo de pensar em mais nada além de aliviar o peso que cairia sobre a consciência de Kim Jongin se fosse ele a pessoa a puxar o gatilho. Agiu impulsivamente, porque sabia que Jongin jamais se perdoaria se acabasse matando o primo e melhor amigo — e ele estava prestes a fazer isso. Chanyeol considerou que, entre as desastrosas possibilidades, seria melhor Jongin lhe odiar do que odiar a si mesmo.

Olhos no HorizonteWhere stories live. Discover now