Sejam bem-vindes ao prólogo de ALÉM DA MAGIA, intitulado como: "A magia não anula a dor".
Embora os próximos eventos neste capítulo sejam um pouco impactantes, juro que os próximos não serão assim. Mas, claro, é para estarem preparados para tudo, já que estamos nos referindo as minhas histórias — é notável que não vou deixar tão fácil as coisas.
Espero que se divirtam daqui para frente!
Nos vemos, de verdade, no dia 20/08.
Capítulo betado pela laymagal
Boa leitura 💜
Já ouvi muito o que as pessoas falam sobre perdas.
Quando eu tinha 8 anos, sentei-me na sala de velório do meu avô com a minha avó, sem mais nenhum adulto por perto. Era perceptível o quão abatida ela estava, sobretudo por ter se tratado de uma ida muito abrupta. Num instante, vovô Jae-Hyun estava aqui, contando histórias engraçadas e nos enchendo de carinhos e puxões de orelhas, e no outro, sua existência havia evaporado da terra e restado apenas seu corpo para a própria devorar aos poucos até não sobrar mais nada, como sempre fazia, no final das contas.
Permaneci sentado, mal tendo coragem de encará-la direito ou tentar confortá-la de alguma forma decente. Nunca fui muito aberto para o emocional (não insensível, talvez o termo técnico para melhor compreensão é "introvertido"), e a perda também me abalava, não tanto quanto o resto, mas doía. Portanto, o silêncio perdurou o tempo que fiquei naquele compartimento. Em um momento, enquanto eu me assistia brincar com os dedos em desconforto, uma leve fungada me fez erguer a cabeça. Era vovó Haru: ela ainda estava imóvel do mesmo jeito desde que eu chegara, mas chorava baixinho. As lágrimas escorrendo pelas bochechas e molhando o pescoço, deixando rastros inócuos remanescentes e as mãos apertando o chão com força ao ponto das unhas arranharem a madeira.
Quando mamãe voltou para me buscar, mesmo conforme deixávamos a sala, meus olhos não saíram dela. Da sua pose petrificada, da sua dor incisiva e muda, nas lágrimas silenciosas que derramava, quase imperceptíveis, mas que eu senti como se fossem um grito ensurdecedor.
Nunca entendi o motivo de ela não ter surtado como as outras famílias nas outras salas, histéricas e inconsoláveis, e porque ficou naquela mesma posição, como se toda sua alma tivesse sido sugada do corpo e sobrado apenas a carcaça vazia e descartável. Por anos, me fiz essa pergunta, mas nunca tive uma resposta concreta e satisfatória.
Até este momento.
Pois enquanto meus olhos ardem pelas lágrimas que não param de vazar por eles e meu coração está se despedaçando dentro do peito, consigo entender tudo. Consigo compreender porque vovó Haru sofreu em silêncio: porque gritar, espernear ou entrar em negação não o traria de volta, embora soubesse que nem a morte poderia mudar o destino dos dois de não ficarem juntos pela eternidade prometida.
E é isso que não consigo entender. Por que duas pessoas que estão predestinadas a ficarem juntas precisam sofrer tanto no amor?
Porque a dor é a resposta de tudo, óbvio. Às vezes, dói ser feliz; dói ser triste; ter raiva é doloroso; machucar o seu físico e emocional pode te despedaçar em centenas de pedaços; e, se parecer impossível, amar pode até querer te fazer desistir de todo o resto. A dor te lembra que há sangue bombeando em seu coração, ar circulando em seus pulmões e um cérebro ativo mandando pensamentos, funções motoras e reações mentais para o resto do corpo.
A dor te lembra a vida.
Nunca é fácil aceitar a verdade, sobretudo quando aquela frase tão simplista e ao mesmo tempo dilacerante ecoa, incessante, em sua mente, como um mantra cruel que insiste em esfregar na sua cara o que você perdeu, ou talvez pior, o que nunca pôde ter.
"Amar é deixar ir, mesmo que machuque", repetem os mais velhos, como se fosse somente uma questão de decisão, quando na verdade é uma jornada de dor e aprendizado, uma cicatriz que se forma com cada despedida.
Não deveria ser assim. Amar não deveria ser um fardo, uma carga que pesa sobre os ombros. Amar deveria ser como uma brisa suave, uma canção alegre que embala nossos sonhos, uma luz cálida que nos guia através das trevas da incerteza e do medo, até alcançarmos o conforto de um novo amanhecer.
Amar deveria ser a essência da felicidade, a própria razão para sorrir mesmo nos momentos mais sombrios. Deveria ser a cura para todas as feridas, o remédio que acalma as dores mais profundas da alma. Mas ainda assim, apesar de todas as dificuldades, de todos os obstáculos que encontramos pelo caminho, continuamos a amar. Porque, no final das contas, é o amor que nos mantém vivos, que nos dá forças para continuar lutando, mesmo quando tudo parece perdido. É esse sentimento que nos faz humanos, que nos conecta uns aos outros, nos lembra que, apesar das falhas, somos capazes de senti-lo e experimentá-lo. E é essa esperança que nos faz seguir em frente, embora o mundo ao redor desabe.
No entanto, enquanto assisto a pessoa que amo ir embora e, por fim, sou atacado pelo sentimento lancinante de perda, percebo o quão quebrada vovó Haru estava por dentro e o quão forte foi para não deixar cada parte da sua dor extravasar. Porque é isso que quero fazer: quero arrebentar minhas cordas vocais e confessar o que está me corroendo há tempo.
Só que ainda não sou corajoso o suficiente para isso, portanto, como o bom covarde de sempre, que nunca está apto a mudanças, assisto Jimin dar as costas e seguir para o futuro que estava ansiando. E eu fico aqui.
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Além da Magia | JIKOOK
FanfictionDentro da grande Seul, os Jeons podem ser considerados uma típica família coreana modelo. No entanto, eles são tão excêntricos quanto seus vizinhos imaginam: de algum modo desconhecido, a linhagem feminina materna da família é toda constituída por b...