E então, o que quer me mostrar aqui? O que é tão importante?
Afraim estava sério e com a postura rígida. Seu semblante era duro e os olhos frios como gelo. Ele não precisou responder a pergunta de Ane, pois no instante seguinte ela sabia o que tinha vindo ver.
- Altair... - ela estendeu a mão como se pudesse tocá-lo quando ele passou lutando por ela, mas como em todas as lembranças, ela era apenas um fantasma - Ele está diferente - Ane se voltou para Afraim - em que ano estamos?
- Quase duzentos anos após a queda dos deuses.
Ane olhava a sua volta começava a identificar outros rostos conhecidos, como Theos e Argos, e sentiu um arrepio percorrer seu corpo ao ver Nero dando ordens nos portões destruídos do castelo. Por um tempo o mundo a volta dela pareceu acontecer em camera lenta, e só agora ela se dava conta da batalha, dos gritos e das chamas que se espalhavam por toda parte.
O fogo consumia tudo em seu caminho, lançando sombras dançantes nas paredes de pedra escura. A fumaça quente e espessa que enchia cada lacuna e corredor, tornava o ar difícil de respirar e medo e terror podia ser visto nos olhos de cada guerreiro presente ali.
Ane não precisava de muitas explicações para entender o que estava acontecendo. Se estavam duzentos anos a frente da queda dos deuses, então o mundo já estava em guerra, e aquele castelo acabara de tombar frente a avassaladora força dos vampiros de Viktor, liderados pelas legiões de Nero e os membros da Corte.
Em suas fragmentadas lembranças, Ane não havia se encontrado com eles ainda, e nas únicas vezes que encontrou Nero, o viu ser derrotado por Ane e por Altair de forma humilhante, mas ainda assim era alguém que lhe causava arrepios e agora entendia o porque.
Nero estava no centro da formação de uma parede de escudos. Todos os soldados milimetricamente alinhados, vestidos em armaduras reluzentes e pesadas, portando enormes escudos de batalha, lança e espada. Cada movimento deles era perfeitamente sincronizado com o ritmo das batidas de Nero no escudo e Ane se lembrava de quando ele fez isso na Fortaleza de Pedra, mas não eram suas legiões que estavam lá naquele dia, e agora ela entendia a diferença.
A parede de escudos avançava de forma lenta e paciente, e a cada metro podia-se ouvir o assustador som do trovão, criado pelo choque de um escudo encontrando o outro quando eles fechavam a formação, de onde lanças surgiam para estocar e matar os inimigos a frente. Metro a metro Nero e sua legiao matavam tudo que se movia, e diferente dos inimigos aterrorizados e desorganizados pelo caos do fogo a volta deles, Nero e seus homens pareciam não se importar.
Altair passou por ela novamente enfrentando um cavaleiro com armadura pesada. O rosto do homem estava coberto de fuligem e ódio, e ele avançava ferozmente com sua espada longa, porém Altair se limitava a desviar, e vez ou outra sua espada reta de lamina vermelha, se chocava com a do cavaleiro, lançando faíscas para todos os lados. Os dois levaram a batalha para dentro de um dos salões do castelo e Ane instintivamente os acompanhou. Altair como sempre não utilizava armadura, e com exceção ao cabelo um pouco mais curto e o rosto mais jovem, vestias as tradicionais roupas negras que Ane se lembrava, embora seus olhos não tivessem a mesma doçura que tanto amava nele. O cavaleiro seguia investindo com golpes pesados, e Altair teve que rolar para o lado para desviar de uma viga em chamas que caiu do teto, saltando sobre o cavaleiro em uma golpe rápido, que fez com que recuasse. O fogo a volta deles tornava o calor do lugar sufocante, e Ane podia ve-los transpirar.
Ela sabia como a luta terminaria. Altair era mais rápido, mais forte e mais leve, e o cavaleiro já dava sinais de cansaço. Sabendo disso, Altair avançou sobre seu oponente, desferindo golpes precisos e rápidos demais para serem aparados por ele, e vez após vez a lâmina de Altair penetrava no aço, tecidos, pele e músculos do cavaleiro. Ele era como uma sombra nas chamas e usava o caos a seu favor. fazendo com que o cavaleiro se aproximasse cada vez mais do fogo, até que por fim, em um passo em falso, a lâmina de altair penetrou e atravessou sua garganta.
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As Crônicas de Luz e Sombras - A Ascensão dos Deuses
FantasyEm a Ascensão dos Deuses seguimos a história de onde o primeiro livro parou.