Capítulo 4 - Proteção

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Pov's Camila

Acordei com o barulho causado pela movimentação no quarto, esse que aumentava quando era minha vez de ir tomar banho e que eu sabia que seria frequente durante os próximos dias.

- Sua vez, Mila. - Ouvi ao ser atingida por um pato de pelúcia, que havia nos sido apresentado na noite anterior como "Bichinho de apoio" da Hailee.

- Pra quem tem um apego por essa coisa você está sendo muito descuidada. Poderia tirar todo esse enchimento dele facinho. - A ameacei de brincadeira enquanto me levantava.

- E aí você acidentalmente acordaria numa banheira com a barriga aberta. - Todas paramos o que estávamos fazendo com um olhar assustado. - Cami, é brincadeira, me desculpa. - Veio na minha direção com uma expressão de culpa.

Cami. Esse seria o apelido que na noite anterior ela escolheu para me chamar, enquanto Ally permaneceria com o Mila, o qual eu estava habituada. Não entendi todo esse conceito de exclusividade mas Lauren com certeza havia superado todas os limites porque disse que pensaria em algum especial com o tempo e não queria se contentar com um daqueles. Essa troca que deveria ser recíproca não aconteceu porque não tive criatividade para pensar em nada diferente para as chamar, apenas o que já estava me acostumando.

- Não se preocupa, Steinfeld, ironia é o meu forte. Sabe o que mais?

- O que? - Perguntou aliviada.

- Fazer cócegas em mulher bonita. - Com uma risada maquiavélica, corri em sua direção com as mãos estendidas em tom de ameaça, fazendo a correr desesperada.

Na noite anterior nos conhecemos melhor, à partir dali descobri que Lauren tinha medo do Michael Jackson no clipe de thriller porque seus primos mais velhos colocavam na televisão para que ela saísse de perto deles, que Ally tinha medo de agulhas e um dia ameaçou bater na enfermeira se ela a vacinasse (Orgulho dos antivacinas) e que Hailee tinha pavor de cócegas porque lembra de uma experiência de quase morte, da qual ela caiu de cima do escorregador quando seus amigos quiseram a provocar com isso. Altura nesse caso não era uma questão traumática, o que ao meu ver teria mais sentido. Dividi com elas que tinha medo de ter paralisia do sono, pois quando mais nova tinha com frequência, o que não imaginavam é que inventei isso porque não iria mostrar uma vulnerabilidade que poderia ser usada contra mim, como eu estava fazendo naquela hora.

- Pois é, querida, fica esperta que quando menos esperar minhas mãos entrarão em ação. - Continuei enquanto pegava minha toalha.

- Quem me dera, Camila.

- Desculpa? Não entendi. - Ergui minha sobrancelha para ela.

- O que minha amiga Hailee quis dizer, é que está na hora da gente descer, não é? Então agiliza aí que vamos te esperar lá embaixo. - Lauren falou sorridente, se posicionado ao seu lado e envolvendo o braço ao redor do pescoço dela.

- Ah, claro, podem ir, daqui a pouco eu desço. - Adentrei o banheiro, pensando no que acabou de acontecer.

Costumava me fazer de sonsa para que pudesse pegar as coisas no ar, aquela era apenas uma situação adicional a minha lista. Removi a roupa quando ouvi sussurros vindos do quarto.

- Cara, você tem que parar de flertar com a Camila, uma hora vai apanhar dela.

- Se quer que eu pare, não me dê mais motivos para eu continuar. - Respondeu e as duas saíram rindo escandalosamente, batendo a porta.

Era um traço tóxico meu, mas ser bajulada até mesmo por alguém que não haveria chances de eu ter alguma troca alimentava o meu ego, principalmente naqueles dias que minha auto estima estava meio abalada. Me considero uma mulher acima da média mas é inevitável que às vezes me sinta a pessoa mais feia do mundo, mesmo que nunca tenha passado credibilidade para as poucas pessoas com quem compartilhei isso. A verdade é que nem sempre as coisas foram fáceis, principalmente quando me tratavam como a patinho feio na escola, época que a única coisa que pensava que poderia oferecer a alguém era algumas risadas e nada além disso. Acredito que algumas amarras e bagagens são difíceis de serem deixadas para trás e essa mágoa tenho carregado há muitos anos.

Casamento às CegasOnde histórias criam vida. Descubra agora