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Luana💫
C

ésar — Você mal começou, Luana, e já se atrasa? Vai ter que fazer horas extras. — Ele diz sério, e eu me dou conta de que dormi mais do que devia.

Luana — Só hoje, por favor... pensei que o senhor fosse me acordar... não vai se repetir, prometo.

Mais tarde, meu pai me chama ao escritório. Passa um bom tempo falando da minha falta de responsabilidade. "Atrasar, Luana? E numa reunião importante? Luana! Luana!" Ele faz questão de repetir meu nome em cada frase.

César — Tolerar, Luana? — Eu sei meu próprio nome, credo. — Tá, hoje eu deixo passar. E amanhã, e depois de amanhã, também? — Agora ele se senta e começa a mexer nas gavetas, parecendo procurar algo.

Luana — Não vai se repetir, pai. Foi um deslize. Não precisa exagerar... — Ele me olha como se eu tivesse cometido o maior erro da minha vida.

César — Luana, você ouviu o que acabou de falar? — Eu devia ter ficado calada. — Luana, eu vivo te chamando de irresponsável pra ver se melhora, e você solta uma dessas... "E se eu não aparecesse?" Isso aqui não é brincadeira. Essa empresa não é creche! — Ele se altera. — Eu construí isso com muito sacrifício, mas você não vai entender.

Luana — Pai, calma. Não diga algo de que vá se arrepender. — Como se isso fosse do feitio dele...

César — Tô mentindo, por acaso?

Luana — Já não sou criança pra o senhor falar comigo assim. — Sinto o rosto quente, irritada. — Eu estou aqui e disse que não vai se repetir.

Ele tira alguns documentos da gaveta e me encara.

César — Senta aqui. — Hesito. — Vamos, Luana, senta logo.

Com toda a paciência do mundo, eu me sento. Ele me entrega os documentos.

Luana — Pra quê isso? — pergunto, ríspida.

César — Luana, não é porque você é minha filha que vou te poupar. Às vezes eu posso ser duro, falar coisas que machucam, mas se eu ignorar teus erros, você vai acabar mimada. E isso não é bom.

Ele se levanta e senta na cadeira ao meu lado, em um tom mais suave.

César — Olha pra mim, Lua. — É a primeira vez que ele me chama assim em muito tempo. — Eu posso ser rígido, mas não sou cego pra ver a mulher que você está se tornando. Se sua mãe estivesse aqui, estaria orgulhosa. Mas você ainda é um pouco ingênua. — Ele coloca os documentos na mesa e segura minha mão. — A vida não é fácil pra ninguém, Lua. Antes de ter você, eu não levava uma vida boa, e sei que não sou o exemplo que você queria.

Luana — Às vezes suas palavras são duras demais.

Ele sorri.

César — Filha, ser pai não é fácil. Você é uma das melhores coisas que me aconteceram. — Ele pisca diversas vezes, tentando segurar a emoção. — Lua, meu pai não foi presente na minha vida. Ele bebia, batia na minha mãe... e depois nos abandonou. — Ele limpa o rosto, engolindo o choro.

César — Eu tive que fazer algo pra sustentar a gente. Me envolvi em coisas que não devia, mas eu dizia a mim mesmo que um dia as coisas iriam mudar. — Ele olha pro nada, pensativo. — Lua, muitos fazem filhos, mas poucos são pais. Eu não queria ser mais um desses.

Luana — Você não é mais um, pai, garanto. — Tento passar segurança. — E sua mãe?

Ele suspira, pensativo.

César — Minha mãe trabalhava como doméstica, mas o que ganhava não era suficiente. Depois, ela adoeceu. Três anos depois... se foi.

Luana — Sinto muito, pai. — Pego sua mão e acaricio.

César — Eu também. — Uma lágrima escapa, e ele a seca imediatamente.

Luana — Como você deu a volta por cima? Como conseguiu construir tudo isso?

Ele sorri, melancólico.

César — Fiquei com meu avô, estudei, trabalhei... e as coisas começaram a mudar. — Ele me olha, como se quisesse me transmitir força. — Lua, não importa o quão difícil seja, desistir nunca é opção. Não se limite, nem se prenda aos padrões dos outros. Seja você, sempre.

Uma lágrima escapa. Ele se levanta, me abraça e seca meu rosto.

Luana — E se o meu sonho não for essa empresa? — Ele pega os documentos da mesa e me olha firme.

César — Ainda assim, estarei aqui para te apoiar. — Ele me entrega os documentos. — Agora, avalie esses papéis e me traga um resumo depois.

Ele quebrou o clima bonito, hein? Mas talvez gerenciar uma empresa não seja tão ruim assim...

Luana — Isso é por eu ter me atrasado? — Ele me encara por um segundo e então sorri.

César — Já disse que não vou passar pano nos teus erros. — Ele volta a se concentrar no trabalho.

Me levanto e, ao chegar à porta, olho para trás.

Luana — Pai... eu te amo.

César — Deixa de ser emotiva, Lua. — Ele sorri de canto. — E faça o resumo.

Saio da sala com um sorriso, são 5:50 da tarde. Acho que termino isso até as 7.

(...)

Pego o celular para ver a hora: 8:26. Droga, ainda não terminei, e algo me chama atenção... os números não estão batendo. Devo estar errando, vou revisar de novo.

Meu celular toca.

— E aí, piranha? — É a Nicole. Não falo com ela desde a festa.

— Sumida. — Ela ri.

— Bora pra boate hoje?

— Tô cansada. Tô na empresa.

— Fazendo o quê a essa hora?

— Estagiando.

— Ah, o papai dando uma mãozinha pra princesinha? — Ela debocha.

— Qual o problema, Nicole?

— Desculpa. A gente se fala depois. — Ela desliga na minha cara.

Tá todo mundo meio surtado ao meu redor, mas eu não posso endoidar junto. Arrumo minhas coisas, mando uma mensagem para o Lucas e espero que ele responda dessa vez...


WhatsApp on
Lucas💜

Eu: pode vir me pegar

Lucas: tou vindo🙂

WhatsApp off

Saio e quase não tem ninguém, só os seguranças. Logo vejo o carro do Lucas.

Lucas — Boa noite, senhorita. — Ele abre a porta para mim.

Luana — Lucas, é só Luana, tá?

Lucas — Difícil, senho... quer dizer, Luana. — Rio.

Luana — Você se acostuma. O que você faz no seu tempo livre?

Lucas — Gosto de jogar futebol e de passar tempo com meu moleque.

Luana — Você tem um filho? — Pergunto, surpresa.

Lucas — Tenho, sim, o Davi, de 9 anos. É a alegria de casa, bagunça tudo. A mãe dele vive reclamando, mas criança é assim.

Luana — Um dia você me apresenta? Adoro crianças.

Lucas — Claro, vai ser um prazer.

Olho pela janela do carro, a paisagem passando. Começo a criar histórias na minha cabeça...


Bjs😘

IRREVERENTE♡⁠⌓⁠♡ (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora