- O senhor está bem, líder do culto?- Estou ótimo! - Douma acenou para um de seus serventes, sorrindo - irei me retirar para dormir um pouco, já que já está amanhecendo!
- Percebi que o rosto e as mãos do senhor suavam.
- Deve ter sido impressão sua! Agora vá!
Douma continuou acenando e sorrindo, e o servente finalmente se retirou, fechando a porta de papel do quarto. Douma suspirou forte, notando que suas mãos estavam trêmulas.
Começou na noite passada. O lua superior dois começou a lembrar de uma certa mulher com um bebê. O acontecimento foi a quinze anos atrás. Kotoha Hashibira, lembrou-se.
Aquela mulher nada mais era que uma humana engraçada. Douma não planejava matá-la, nem a ela, e nem ao filho; o que queria era mantê-la por perto até que envelhecesse, apenas por gostar genuinamente da mesma. Mas é claro que, quando Kotoha descobriu da identidade do oni, o mesmo não hesitou em matar a mulher e o filho. Douma não sentiu nada, como sempre, ao presenciar a moça morta entre uma poça de sangue, e o bebê afundando no lago abaixo do morro.
Então por que aquela mulher havia retornado ao seus pensamentos de repente? Na noite passada, Douma lembrou-se da expressão alegre de Kotoha, cuidando de seu filho. Inosuke, esse era o nome.
Seria tão bom ter uma família para cuidar. Eu nunca tive uma. Eu cuidaria de uma família como ninguém nunca cuidou de mim.
Douma balançara a cabeça, tratando de espantar aquele pensamento. Não deveriam ser coisas que um oni deveria pensar. Os pensamentos de Douma geralmente circulavam entre devorar mais e mais humanos e servir à Muzan. Ponderar sobre emoções já era péssimo o suficiente.
Ainda assim, sua mente parecia estar a mil. Junto a isso, Douma sentia-se tremer e suar frio. Era um tanto irônico para um oni que era frio de todas as formas, mas Douma jamais havia suado frio daquele jeito.
No amanhecer, Douma escondeu-se em seu aposento, sentindo os sintomas piorarem. Seu coração batia veloz, e sua respiração era rápida e falha. Seus olhos arco íris arregalaram-se, olhando para seu próprio corpo. Seu olhar vacilou para o espelho quebrado no canto da porta. E o vacilo pareceu piorar ainda mais sua situação.
Meus pais nunca me amaram, e eu nunca senti nada. Minha vida inteira foi um completo nada. Tudo o que faziam era me ver como um objeto. Ninguém nunca sequer importou-se comigo de verdade. Estou sozinho. Eu sou sozinho. Não tenho importância alguma. Sou um assassino.
Aqueles pensamentos inundavam sua cabeça. Coisas que Douma já havia pensado em algum momento de sua vida, mas que como sempre, não o afetavam. Mas naquele momento, parecia diferente. Era como se tais pensamentos agissem como raios de sol, queimando Douma dolorosamente pouco a pouco. Sua garganta se fechou, e o lua superior pensou em arrancar o próprio coração, que batia em polvorosa.
O oni sentou-se ao lado da cama, puxando o próprio cabelo, os olhos fechados com força.
Sabe que só se importavam com você pelos seus olhos, não é? Pela sua beleza. Pensavam que você ouvia os deuses, mas de resto, você era um nada. Ninguém queria lhe conhecer de verdade, ou ser seu amigo, ou mesmo te amar. Nem mesmo os seus pais, tamanha a sua inutilidade.Você é um psicopata sem sentimentos que só tem beleza. De resto, é inútil. Uma grande mentira. É um pedaço vazio de nada.
Lágrimas. Lágrimas reais caíam em cascata, salgadas. Douma estava nervoso e confuso demais para notá-las e senti-las. Ele não podia nem mesmo fugir ou tentar se distrair. Era dia e o culto estava lotado de pessoas que ele imaginava cuidar e abrigar.
O oni esperou até o anoitecer, em agonia.
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Human
FanfictionDepois de décadas servindo à Muzan, o lua superior 3 de repente recobra as memórias de quando era humano. Fora do controle de Kibutsuji, Hakuji decide vingar-se do rei demônio, unindo-se ao esquadrão de exterminadores e também a Douma, Gyutaro e Dak...