Luas Superiores

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Gyutaro e Daki jamais chamaram a atenção de Hakuji. No passado, eram apenas um empecilho, uma dupla desinteressante qualquer, provavelmente uns dos protegidos de Kibutsuji. Mas naquele momento, Hakuji não sabia o que pensar. Eles claramente poderiam avisar Muzan sobre o paradeiro de Sumaru. Então, o que fariam a respeito? Lutariam contra os irmãos até o amanhecer para impedi-los?

- Sumaru! - Hakuji gritou ao chegar à casa isolada. Novamente, a área estava tão fria quanto a primeira vez em que Soyama a encontrou. Através de uma forte neblina, de costas, Sumaru segurava seu leque dourado, apoiando o queixo na ponta do mesmo.

- Isso deve ter sido um equívoco! Eu também não sei por que o senhor Muzan não está falando comigo! Eu iria tentar avisá-lo de alguma forma, mas às vezes, acho que ele me odeia! Poxa! - Exclamou Sumaru, animado, fazendo um beicinho triste com a última frase.

Por sorte, Sumaru ainda era ótimo em fingir emoções. Com os punhos cerrados, lentamente, Hakuji adentrou a neblina, percebendo a presença dos dois irmãos. Gyutaro e Daki observavam Sumaru em silêncio.

- Então o que fazia nesse lugar? - Perguntou Gyutaro, sussurrando.

- Não posso mais nem encontrar um lugar diferente pra jantar? Poxa, achei que vocês fossem mais compreensivos comigo!

- Então, já que afirma que não sabe o que houve, iremos avisar o senhor Muzan - Disse Daki. Ao falar, o olhar da lua superior finalmente encontrou o de Hakuji.

- Lorde Akaza?

- Ah, olha ele aí! Lorde Akaza, oi! - Sumaru acenou, ainda sorridente.

- Vocês não vão avisar ninguém - A expressão de Hakuji se endureceu, seu corpo adotando uma pose de combate. - Saiam daqui e não falem nada, e ninguém se machuca.

Os três se calaram. O sorriso falso de Sumaru sumira, dando espaço a uma expressão séria.

- Senhor Muzan precisa saber o que-

- Expulse eles daqui, Sumaru. Ou eu mesmo farei isso.

Os olhos furiosos de Hakuji fitaram os de Sumaru. O kanji de lua superior dois, que havia retornado aos olhos do mesmo, voltou a sumir. Durante o silêncio conflitante, Gyutaro apenas agarrou o braço de Daki e correu.

- Irmão! O que tá fazendo? A gente tem que levar eles!

- Eles vão nos matar, Daki. Eu não posso deixar isso acontecer - Nervoso, Gyutaro carregava a irmã em seus braços, correndo por entre as árvores - Não posso deixar que te machuquem, e sabe que não somos páreo.

- Mas...! Muzan pode muito bem nos matar também!

Gyutaro estremeceu. Era verdade. Não havia saída. Ou eram mortos por Akaza e Douma, ou por Muzan. Gyutaro não mais podia proteger a irmã. O sentimento de impotência quase o fez gritar.

Por um momento, a imagem de um Douma misericordioso passou por sua cabeça. Mas poderia ser uma grande mentira, afinal. Douma era um oni. Se nem mesmo um humano tinha piedade dos dois, não seria uma criatura vil como um lua superior que teria.

Duas mãos seguraram os pulsos dos irmãos no meio do caminho.

Era o fim.

- Ei. Eu sei que estão assustados. Mas voltem. Vamos conversar.

Na frente dos dois, em meio à floresta escura, Douma segurava os pulsos de ambos com delicadeza. Gyutaro não sabia o que a irmã pensava, mas sabia que o ato camuflava uma mentira. Eles até poderiam chamar Muzan, mas até lá, os dois estariam fadados à morte. O rei demônio obviamente não se importaria. Ninguém se importou e jamais se importaria.

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