PRÓLOGO

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KATHERINE MILDORAN

Eu sempre soube que havia algo de errado comigo. Talvez fosse a forma como eu via o mundo, um pouco distorcida, ou a maneira como eu lidava com minhas emoções, sempre no limite. Cresci sabendo que era diferente, que minha mente era um labirinto sombrio onde poucos se aventuravam. E agora, aos vinte e um anos, enquanto o fim da faculdade de Psicologia se aproximava, eu me encontrava mais perdida do que nunca.

Escolhi estudar Psicologia na tentativa de entender minha própria mente, um mistério para mim até aquele momento. No entanto, quanto mais eu aprendia, mais complexa e enigmática minha mente parecia se tornar.

Aos quatorze anos, eu já sabia que tinha algo de peculiar em mim. Meus pais perceberam isso cedo. A verdade é que eu gostava de sentir medo. Havia algo viciante na adrenalina que corria pelas minhas veias, no frio na espinha, na sensação de estar viva. Era como um vício que me consumia, e meus pais, desesperados, decidiram me levar a uma psicóloga.

Mas eu sabia como fingir. Eu sabia como parecer normal, como esconder as sombras que dançavam na minha mente. Na frente da psicóloga, eu fui a filha perfeita, a adolescente bem ajustada. E assim, fui liberada. Meus pais respiraram aliviados, mas eu sabia que o meu segredo estava seguro, escondido nas profundezas do meu ser.

Lembro-me de uma noite específica, pouco tempo depois daquelas sessões com a psicóloga, que consolidou o que eu já sabia sobre mim mesma. Eu estava em casa sozinha. Meus pais tinham saído para um jantar e minha irmã mais velha estava na casa de uma amiga. A casa estava mergulhada em silêncio, exceto pelo som do vento lá fora.

Decidi assistir a um filme de terror, um daqueles que prometem causar pesadelos. Sentei-me no sofá da sala, apaguei todas as luzes e deixei a escuridão me envolver. A cada cena, a tensão aumentava, meu coração batia mais rápido, e eu sentia aquele prazer mórbido crescendo dentro de mim.

A certa altura, ouvi um barulho vindo do andar de cima. Parecia que alguém estava andando pelo corredor. Meu corpo congelou, cada músculo tenso, mas eu não conseguia desligar o filme, não conseguia afastar aquele medo delicioso que me dominava.

Levantei-me devagar, tentando não fazer barulho, e fui em direção à escada. Cada degrau rangia sob meus pés, e a casa, antes familiar, parecia cheia de sombras e segredos. Quando cheguei ao topo da escada, o corredor estava escuro, iluminado apenas pela luz fraca que vinha do quarto dos meus pais.

Caminhei lentamente, meu coração batendo nos ouvidos, e parei na frente da porta do quarto. A porta estava entreaberta, e eu podia ouvir um som suave vindo de dentro. Um suspiro, talvez, ou o som de algo se movendo lentamente.

Eu deveria ter ficado com medo, deveria ter voltado para o sofá e chamado meus pais. Mas não fiz isso. Abri a porta devagar, sentindo a excitação e o terror crescendo dentro de mim. O quarto estava vazio. Nada além de sombras e o silêncio absoluto.

Fiquei ali, parada, sentindo o medo se dissipar lentamente, substituído por uma sensação de decepção. Não havia nada ali. Mas aquela noite confirmou o que eu sempre soube: eu não era como as outras pessoas. O medo, para mim, era uma espécie de refúgio, uma emoção que eu ansiava sentir.

E assim, continuei vivendo minha vida, escondendo meu segredo, navegando pelo labirinto sombrio da minha mente.

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