LAMÚRIA IX

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Como seres humanos, arriscamos e falhamos, intermitentemente, com nossos pais, com quem amamos, com Deus, com o Diabo e com nós mesmos. Como um ser ingenuamente perverso, apostamos tudo sem temer naufragar.

A noite escura abrigava, em seus céus, estrelas brilhantes, assim como o teto do quarto de Yoko. Fitá-las sempre foi uma espécie de vício, passatempo: observar o brilho falso proveniente delas, desejando que fossem reais; contar uma a uma até que pudesse, então, fechar as pálpebras e pegar no sono.

Os olhinhos molhados com lágrimas grossas, as quais faziam um percurso por todo rosto bonito e delicado, evidenciavam uma gigante angústia. Yoko odiava sentir-se assim.

Seu pai não lhe dirigiu a palavra pela noite inteira e proibiu-a de frequentar a igreja, pelo menos naquela noite. E lá estava Apasra, sozinha, deitada,

culpando-se severamente.

_ Deus, eu gostaria de ser diferente.. - A expressão extremamente chorona mostrava o quanto a morena estava mal. _ Eu não queria ser assim, sentir isso... - pronunciou baixo, sentindo a garganta raspar e as lágrimas intensificarem. Era uma cachoeira de sentimentos.

O solilóquio nunca foi tão doloroso. Falar com Deus deveria ser um momento de paz e bênção, porém se tornou um verdadeiro marasmo.

A sensação de remorso apertava o peito, quase sufocando.

_ Mas eu sou assim, sou errada. - concluiu, fechando os lumes com força, dobrando o choro sincero.

Seu cerne implorava perdão.

_ Senhor, eu sei que sou uma abominação. - Cobriu a face com as palmas pequenas, apertando.

Não parava de soluçar e balbuciar "perdão". Se pudesse escolher, jamais seria de tal maneira, faria tudo diferente. Iria dar o que seu pai sempre desejou e entregaria orgulho à sua mãe. Todavia, ela, definitivamente, não era capaz disso.

Não era a filha dos sonhos.

Virou-se e enfiou o rosto no travesseiro branco, continuando todo aquele choro. O barulho era abafado pelo alifafe, por isso o silêncio pesaroso estava instalado por todo quarto, quase zumbindo. Tudo dentro de Yoko gritava. Dessa vez, havia ido longe demais.

Implorava o perdão, mas, acima de tudo, seu coração clamava por Lúcifer.

Apasra estava sofrendo, padecendo por sua cura ser o motivo da doença.

                                               •

A limusine Roll Royce de cor preta estava preenchida de luzes coloridas que piscavam simultaneamente, uma música excessivamente alta e bebidas de cores, sabores e marcas variadas. As mulheres dançavam e desfrutavam de tal luxo, sempre sensuais. Um ambiente agudamente indecente.

Faye parecia se divertir, tinha um sorriso ladino para a morena que dançava e exibia-se para ela. Completamente erotizada, sentou-se sobre seu colo e rebolou lentamente.

A Diaba vivia de luxúria, não havia quem resistisse aos seus doces encantos.

Segurava a taça, de forma etiquetada, levando-a aos seus lábios grossos, provando da bebida amarga enquanto a mulher de cabelos longos e castanhos fazia uma carícia nada inocente em sua mandíbula. Fitava-a completamente encantada e desejosa. Esticou-se com intenção de degustar a boca alheia, tão atrativa e delineada.

Peraya era uma mulher deslumbrante, sedutora, não apenas por sua aparência bela ou por todo seu dinheiro, mas sim pela sensualidade e charme que exalava em tudo que fazia, despertando desejos sujos e intensos.

No Limiar do Inferno (Adaptação Fayeyoko) Onde histórias criam vida. Descubra agora