PÉLAGO XII

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O Inferno é a morada dos mortos, um buraco negro para as almas que o Deus do amor não quis mais.

O Corvette preto e brilhoso pelo bom polimento encontrava-se em uma velocidade descomunal, fazendo com que toda a poeira da estrada fosse fortemente levantada, ficando para trás. Peraya mantinha o total controle da direção, as três estavam correndo daquela forma há bons minutos.

_ Por que precisamos ir tão longe? - Lux questionou fastiosa.

Jogou a cabeça para trás e rolou os olhos. Podia sentir o vento forte atingir sua face, bagunçando os fios loiros.

_ Na verdade, não necessitamos, porém Faye sempre optou por tomar distância ao máximo. Abrir o portal não é difícil, mas o que pode entrar, com qualquer descuido, se mostra tão fácil quanto. - a voz do braço direito ecoou em uma explicação de timbre pouco amigável.

Suportar aquele maldito anjo era quase impossível para ela.

Lúcifer, de certo modo, evitava fazer quaisquer conexões entre o Inferno e determinadas áreas de Bangkok. A transgressão de um lugar tão distenso para outro, que carregava um adorno de tensão, poderia acarretar um enorme problema. Ir para longe não seria um transtorno, por isso todo cuidado ainda era pouco. Queria ter a garantia de que nada entraria nem sairia.

Peraya era extremamente prudente e, por esta razão, estava em busca de um lugar vazio, reservado, já quase ao fim da capital; e, de fato, o ambiente parecia um pouco mais deserto. Ainda existia um certo movimento de pessoas, mas nada que atrapalhasse.

Aos poucos, Lúcifer parou o conversível. No fundo, o anjo divino dava pulinhos de animação enquanto Abigail bufava de insatisfação.

Durante todo o percurso, a Diaba evitava utilizar as falas, sentia-se irritada por ter que ir ao Inferno, mesmo que fosse momentâneo.

Aquela era uma situação desnecessária, sabia que só concordara em ir para suprir a luxúria de Lux, afinal não custaria nada, além de sua curta paciência.

Situaram-se por detrás de um bar antigo que já não funcionava.

Faye mantinha uma expressão séria e concentrada. Retirou a moeda pentecostal do bolso, segurando-a firme. Seus lumes perjuros fitaram Abigail, vendo-a assentir vagarosamente, mostrando estar preparada.

Permitiu que o objeto redondo de ouro envelhecido flutuasse sobre sua palma e, em seguida, caísse no centro.

Apertou-a devagar, sentindo a moeda pentecostal queimar sua pele; a cada segundo, tornava-se absurdamente quente.

Não foi necessário tempo para que a moeda estivesse na tonalidade de brasa, e um carimbo em carne viva formar-se na palma. A ferida abria-se pouco a pouco enquanto os olhos de Peraya reviravam consecutivamente e sua boca murmurava palavras que não faziam parte de qualquer idioma conhecido ou estudado por seres humanos.

Os lábios grossos mexiam rapidamente e o som que saía deles era amedrontador como se houvesse cem pessoas sussurrando ao mesmo tempo. Sanches repetia as mesmas palavras lentamente.

Lux ficou um pouco mais recuada. Sentia um desconforto terrível, seu corpo pesava e a cabeça latejava de dor como se estivesse batendo-a contra uma parede. Porém, permanecia firme, apertando sua moeda que, naquele momento, não tinha serventia.

A Demônia segurou o objeto com os dedos, desenhando, lentamente, um triângulo e, dentro dele, uma cruz invertida. Uma fresta foi aberta e, no exato momento em que o triângulo girou, tudo que estava em volta parou. Uma atmosfera densa e violenta fundou-se e nada mais se moveu. O sol, que antes existia, parecia ter escurecido e todo o lugar parecia ainda mais deserto, como se estivessem envolvidas por uma aura diferente.

No Limiar do Inferno (Adaptação Fayeyoko) Onde histórias criam vida. Descubra agora