PROFUNDAS XVIII

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Eu, Deus, fiz sair de você um fogo, que o consumiu, e reduzi você a cinzas no chão, à vista de todos os que estavam observando.

Ezequiel 28:18

A janela de madeira envelhecida e branca encontrava-se aberta, permitindo que o vento totalmente gélido da manhã chuvosa adentrasse o quarto, balançando veementemente as cortinas claras, fazendo com que a morena tremesse vagarosamente, puxando um pouco mais do lençol que cobria seu corpo nu.

Batiam exatamente oito horas da manhã, Yoko repousava sobre o colchão quentinho e macio. Havia acabado de acordar e mantinha-se, preguiçosamente, na mesma posição.

Apasra sabia que Faye já não estava mais lá, e esta era a causa de toda a sua melancolia. Sentia-se tão vazia sem a presença de Lúcifer... Aquilo a machucava, deixava-a vulnerável, de um modo indescritível.

Virou-se com extrema dificuldade, deitando-se em posição supina. Sentia cada parte do seu corpo dolorida, parecia que havia lutado contra um animal selvagem e perdido feio.

Espreguiçou-se devagar, bocejando e, em seguida, limpou os olhos. Não pôde negar que dormiu imensamente bem, afinal estava cercada pelos bracos quentes de Lúcifer que a protegiam.

Os mirantes preguiçosos fizeram questão de rondar o quarto, em um breve panorama, e o susto veio em seguida. O ambiente estava de cabeça para baixo: suas roupas encontravam-se pelo chão, alguns objetos caídos aos cantos, e sua cama, que outrora estava encostada na parede, encontrava-se no meio do quarto. Talvez, isso explicasse, detalhadamente, por que seu quadril doía tanto.

Sequer notou que, na noite anterior, ela e Peraya fizeram um sexo excêntrico demais, foram ágeis além do limite; e estava tanto no calor do momento que sequer notou que a Diaba quase a partiu ao meio.

No entanto, de algum modo bastante masoquista, a jovem sentiu-se bem, ficou feliz por ter entregado o seu corpo por completo, por ter os dedos da Demônia tão bem dentro de si, por tê-la feito uma mulher satisfeita, como nenhum outro fez e, acima disso, por ter o privilégio de provar o verdadeiro prazer.

Instantaneamente, as bochechas inchadinhas ficaram rubras e as mãos logo foram para o rosto angelical, cobrindo-o vergonhosamente.

_ Céus... - falou em um sussurro Não só pela dor em seu corpo, mas também pela enorme bagunça que teria que arrumar, antes que sua mãe ou seu pai batesse na porta, senão o castigo seria certo e sem qualquer piedade.

Sentou-se, exibindo um show de caretas. Franziu o cenho enquanto mordia o lábio inferior ressequida, no intuito de amenizar a dor. Seus olhos, por mais uma vez, rodearam o quarto, todavia pararam sobre o celular, que estava na mesa de cabeceira, notando que em cima existia um papelzinho vermelho.

A sobrancelha ergueu-se, um leve sorriso invadiu seu rosto e em seu coração desejou, milhões de vezes, que não fosse um papel qualquer.

Esticou-se, tocando com dificuldade o celular; com a pontinha dos dedos, foi puxando-o e, enfim, conseguiu pegá-lo. Sem delongas, colocou o smartphone ao seu lado e deu total atenção à folhinha, abrindo-a, ainda sorrindo:

" Babe, saiba que eu gosto muito de você... Sempre estarei no seu coração e você no meu. Por favor, cuide-se bem e lembre-se: Deus ainda a escuta, mas só o Diabo te responde."

A sobrancelha franziu, demonstrando uma face intrigada.

Yoko não entendia Faye, nunca entendeu. Talvez, faltasse um axioma maior no cerne da Diaba, para contá-la alguma verdade escondida. Mas, naquele instante, perguntou-se apenas uma coisa: por que "baby" com "e"?

Dobrou o pequeno papel e segurou-o com as duas mãos, levando-as ao peito. Já sentia sua face doer de tanto sorrir de orelha a orelha.

Fechou seus luzeiros e desejou somente a presença de Lúcifer, para que, em suma, ficasse completa.

No Limiar do Inferno (Adaptação Fayeyoko) Onde histórias criam vida. Descubra agora