Deus e o Diabo podem ser bastante parecidos, quase idênticos, com uma sutil diferença: setenta vezes sete. Deus perdoa; o Diabo não.
Faye segurava a moeda pentecostal envelhecida, sentindo os desenhos em relevo, como uma distração. A noite havia sido um tanto engraçada e muitíssimo confusa. Era um misto de sentimentos que invadia a Tinhosa de um modo totalmente imoral.
Por alguns momentos, Peraya observava o corpo bem feito, as nádegas bem marcadas na calcinha azul-marinho. A estrutura magra vestia uma de suas camisetas comuns: era atraente. Yoko causava-lhe um desejo profundo, uma líbido descomunal. Mas, por vezes, era possível ver as marcas e feridas que ficavam expostas, e aquilo mudava seus pensamentos, trazendo um amargo nos lábios, um rancor perpetuado.
Outrora, fitava o rosto méleo que dormia tão tranquilamente.
Apasra agarrava seu corpo, depois embolava pela cama e apertava o travesseiro. No fim, retornava a abraçá-la e achava aconchego em seu calor. Completamente graciosa.
Podia, também, fitar os lábios macios, róseos, de um sabor já conhecido e doce, tão sexy e quebrantador. Porém, logo a imagem era destruída por uma microexpressão de dor que sustinha o Cão, fazendo-a lembrar do acontecido e a raiva tomar vida novamente. Uma recusa domava-a e seus planos tornavam-se ainda mais diabólicos.
Definitivamente, aquela madrugada estava sendo difícil. Algo tocava o seu cerne, sentia, mas não conhecia. Talvez, fosse o último resquício de compaixão e bondade que existia em seu coração ou qualquer coisa que havia no lugar de um.
A moeda que antes girava foi parada bruscamente. Faye continuou a fitar a parede, mantendo o olhar preso; sua face emanava seriedade.
Era uma mulher muito fria.
Yoko remexeu-se de modo preguiçoso, acordando aos poucos.
_ Bom dia, Faye... - falou calmamente. A voz, rouca pelo sono, mesmo que doce, era melodiosa para Lúcifer.
_ Bom dia, meu bem. Como foi o seu sono? - indagou, sem muito humor.
A expressão de Peraya emanava insatisfação, cólera, retidão.
Entretanto, sua face criou uma feição diferente quando pôs os olhos em Yoko. Era uma criatura linda: os fios bagunçados, lumes inchadinhos pelo sono, a face corada com sardas claras, livre de qualquer maquiagem, intensamente amável.
_ Dormi bem, só demorei a encontrar uma boa posição. - Sorriu tímida. _ Faye, eu... - Coçou a nuca, sentindo-se embaraçada.
Sentou-se sobre o acolchoado macio, abraçando um travesseiro. Seu corpo inteiro doía.
- Não tenha vergonha, não é necessário.
_ Estou com fome... - sussurrou, puxando o tecido fino e cobrindo as pernas.
_ Oh, sim, vamos à cozinha. - Convidou-a, colocando-se de pé.
Pôs-se a desamassar a camisa social preta, desabotoando os primeiros botões, deixando-a um pouco mais confortável.
Os mirantes de Yoko acompanharam cada movimento feito por Lúcifer, apreciando, discretamente, a pele clara que ficou exposta - amaldiçoando-se por isso. Apasra tinha um desejo enorme pela Diaba, uma vontade intensa de tocá-la, beijá-la, vê-la completamente nua. Um ótimo e delicioso almejo erótico, e se maldizia por tamanha líbido.
Peraya mostrava-se atenta a toda aquela profanidade e, rapidamente, sua face criou um riso cafajeste o suficiente para Yoko desviar o olhar e sentir o corpo inteiro queimar em uma mistura de febre e labéu.
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No Limiar do Inferno (Adaptação Fayeyoko)
FanfictionJá sentiram-se entediados ou simplesmente enjoados da fadiga rotina? Era exatamente assim que Faye Peraya, a poderosa e insatisfeita senhora do inferno, se sentia. Cansada de suas responsabilidades e da monotonia do submundo, ela decide fugir para a...