O Antes.

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ABRIL ANTERIOR

ANTES DE EU SABER QUE PRECISAVA IR EMBORA

É ASSIM QUE a história continua quando sou eu que estou contando: James Olsen e eu nos apaixonamos um dia no parque, quando o vento arrancou o chapéu que eu estava usando. Sou provavelmente a pior pessoa do mundo para bater papo, mas James não queria jogar conversa fora.

Quando eu contei que o chapéu tinha sido um presente da minha mãe, ele quis saber se nós duas éramos próximas, onde ela morava, qual tinha sido o motivo do presente e, a propósito, Parabéns, você gosta de fazer aniversário? E quando eu respondi: Obrigada, e, sim, eu gosto, James logo adiantou que também gostava, que a família dele sempre tinha tratado aniversários como grandes conquistas pessoais, em vez de simples marcadores de tempo. E quando eu comentei que isso parecia lindo, tanto os aniversários quanto a família dele, James falou: Eles são a razão pela qual eu sempre desejei ter uma família grande um dia, e àquela altura eu já estava entregue, mesmo se ele não tivesse me perguntado na mesma hora, como se não houvesse lixo pendurado no meu cabelo: E você? Quer ter uma família grande?

Os namoros até eu completar trinta anos tinham sido um inferno. Esse era o tipo de pergunta que eu normalmente faria pouco antes de o cara do outro lado da linha desaparecer sem deixar vestígios. Como se eu estivesse fazendo um convite formal: Vamos pular a parte de tomar um drinque e quem sabe já congelar logo alguns embriões, só para garantir?

James era diferente. Estável, determinado, prático. O tipo de pessoa em quem eu conseguia me imaginar confiando, o que não era natural para mim.

Cinco semanas depois daquele dia no parque, já estávamos morando juntos, tendo sincronizado nossa vida, nosso grupo de amigos e nossa agenda.

Na primeira festa de arromba que organizei no aniversário de James, Winn, o melhor amigo dele, e Lira, minha melhor amiga, se encantaram um com o outro e também começaram a namorar.

Um ano depois, James me pediu em casamento. Eu aceitei. Um ano depois disso, enquanto organizávamos o casamento, começamos a procurar uma casa para comprar. Os pais de James, duas das pessoas mais fofas que eu já conheci, mandaram para ele o anúncio de uma linda casa antiga, não muito longe da deles, na cidade onde ele havia crescido.

James sempre teve vontade de voltar a morar lá, e, agora que seu emprego de desenvolvedor de software era remoto, nada o impedia. Minha mãe morava em Maryland àquela altura. Meu pai - que supermerece aspas de ironia nessa designação - morava no sul da Califórnia. Lira e Winn estavam avaliando a possibilidade de se mudar para Denver.

E, por mais que amasse o meu trabalho, o que eu mais queria - o que eu sempre quis - era ser uma bibliotecária que trabalha com crianças, e por incrível que pareça a biblioteca pública de National City estava procurando alguém para preencher exatamente essa vaga.

Assim, compramos a casa.

Bom, James comprou a casa. Eu tinha um péssimo histórico de crédito e economias bem magras. Ele pagou a entrada e insistiu em assumir as parcelas da hipoteca.

James sempre tinha sido bastante generoso, mas aquilo me pareceu excessivo. Lira não entendia meu escrúpulo - Eu deixo o Winn pagar literalmente tudo, ela falou, afinal ele ganha muito mais do que eu -, mas Lira não tinha sido criada por Elizabeth Walsh.

Não havia como minha mãe durona e hiperautossuficiente aprovar uma dependência tão completa em relação ao meu noivo, então eu também não aprovava.

Nem te conto - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora