Capítulo 6
A sala estava impregnada de uma tensão delicada, quase palpável, quando todos os Bridgertons, mais uma vez, se reuniram na sala de visitas do castelo. Era uma noite especial, marcada pela expectativa da chegada de Penélope. Contudo, um elemento inesperado se fez presente: Cressida Cowper, ou melhor, Cressida Tower, como era conhecida desde seu casamento. Ela tinha se insinuado no noivado, aproveitando sua recente viuvez para se aproximar novamente de Eloise, sua antiga amiga e, talvez, antiga aliada.
Eloise, que outrora havia nutrido uma amizade fugaz com Cressida, encontrara nela um alívio passageiro para a dor e a raiva que sentira após o rompimento com Penélope. O afastamento de sua amiga de longa data havia deixado um vazio, e, na busca desesperada por uma substituta, Eloise acabara por se aproximar de Cressida. No entanto, a aliança entre as duas não perdurara, minada pelas diferenças de caráter e pelos princípios que Eloise não podia ignorar. Agora, anos depois, Cressida havia reaparecido, como um fantasma do passado, e se instalara entre os Bridgertons com a destreza de quem sabia como manipular a situação a seu favor.
A conversa na sala era suave, mas todos ali estavam, em maior ou menor grau, ansiosos pela chegada de Penélope. Colin, em particular, sentia o coração bater de maneira errática, o que ele atribuía à expectativa de rever aquela que, por tanto tempo, habitara seus pensamentos mais íntimos. Ele tinha, é claro, uma justificativa plausível para esse nervosismo: Penélope era uma amiga de infância, uma confidente, alguém que conhecia sua alma. Ou assim ele pensava.
Cressida, no entanto, parecia decidida a azedar a atmosfera. Ela se inclinou para Eloise, a voz baixa e repleta de veneno disfarçado de preocupação:
— Você não acha uma falta de elegância ela nos forçar a esperar por sua presença?
Eloise, ainda dividida entre o passado e o presente, respondeu com uma serenidade que surpreendeu a si mesma:
— Acredito que todos nós estamos adiantados, na verdade. Ansiosos pela presença dela.
Antes que Cressida pudesse elaborar mais alguma crítica, Penélope adentrou a sala, acompanhada por Agatha, sua filha. O silêncio que se seguiu à sua entrada foi imediato e profundo, como se todos ali estivessem prendendo a respiração ao vê-la. E então, como se um feitiço fosse quebrado, Michael se lançou à frente, um sorriso largo em seu rosto, para cumprimentar a amiga de longa data.
— Lady, estava começando a achar que tivesse fugido novamente — brincou ele, abaixando-se para falar com Agatha, que retribuiu a atenção com a graça natural de uma criança que, claramente, adorava ser o centro das atenções.
Penélope, por sua vez, manteve a compostura. Ela era, afinal, uma mulher acostumada a navegar por águas sociais traiçoeiras, mesmo que sua reputação em Londres fosse a de uma simples "flor de parede". Mas ali, cercada pelos Bridgertons, ela não era uma mulher tímida e apagada. Não mais.
E apenas olhou para o relógio de parede, que marcava exatamente as 18:00 horas e arqueou uma de suas perfeitas sobrancelhas.
— Estou bem, Lord Kilmartin — respondeu Agatha, sua voz infantil, mas já carregada de uma dignidade surpreendente para uma criança.
Michael, sempre o brincalhão, fingiu indignação:
— Oh, meu Deus! Como assim, 'Lord'? O que você anda ensinando a essa menina, Penélope?
A mãe, com um sorriso enigmático, respondeu:
— Deixo Agatha livre para escolher os próprios passatempos, Michael. No momento, ela está empenhada em ser uma grande dama.
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Bridgerton: Entre as linhas de Lady Whistledown
RomanceAnos após os eventos que abalaram suas vidas, Penélope Featherington retorna à Inglaterra, trazendo consigo segredos e um novo propósito. Fugindo das dolorosas memórias de sua juventude e do homem que jurou nunca mais ver, ela se tornou uma figura i...