Between Waves and Secrets

02

Apenas algumas horas tinham se passado, mas James suspeitava que o tritão não aguentaria aquela situação por muito mais tempo. Sua pele estava ainda mais pálida, os cortes causados pelos cacos de vidro não haviam parado de sangrar e sua cabeça pendia languidamente para a frente. Ainda assim, o tritão não disse sequer uma palavra quando o capitão Riddle perguntou repetidamente sobre a fonte da vida. A única resposta que eles obtiveram até agora foi uma expressão fria e um revirar de olhos ocasional.

Quando o tritão começou a tremer descontroladamente James decidiu que já estava farto de toda essa merda. Não era certo que eles mantivessem um ser vivo assim, mesmo que fosse uma sereia. Contrariando as ordens do capitão Riddle, ele pegou um pouco de água do mar e se aproximou lentamente da criatura.

James pegou suavemente no queixo do tritão, erguendo sua cabeça para cima e encostando a tigela de água em seus lábios. O tritão o olhou com os olhos arregalados, mas não tentou se afastar e nem beber.

— É só água. Não estou tentando te envenenar nem nada.

— A recepção calorosa que eu tive poderia me fazer acreditar no contrário — a criatura respondeu com a voz fraca, apenas um sussurro seco.

— Então você consegue falar...

— Obviamente.

— Você vai beber ou não? Você está literalmente secando sob esse sol.

— E você parece gostar de apontar as coisas mais óbvias... — o sarcasmo em suas palavras foi abafado por uma tosse seca, característica de alguém sofrendo de desidratação intensa. James forçou a vasilha sobre seus lábios e o tritão bebeu a água desesperadamente — você está tentando prolongar meu tormento? Ou seu capitão resolveu testar um pouco de gentileza para que eu me abrisse sobre os segredos do oceano?

— Meu capitão não é um monstro desalmado...

— As circunstâncias certamente não ajudam a provar o seu ponto de vista.

— Tudo bem. Talvez ele seja um pouco excêntrico. Mas ele busca o tesouro do oceano há mais tempo do que eu posso dizer que estou vivo, talvez ele esteja um pouco desesperado...

— Comportamentos atrozes não podem ser justificados por motivações egoístas. Ou todos os tiranos seriam considerados apenas homens com um desejo forte de alcançar seus objetivos.

— As sereias também têm tiranos com quem lidar?

— Nós também temos nossos monstros — o brilho em seus olhos fez James pensar que talvez o tritão soubesse disso por experiência própria — não somos tão diferentes dos humanos quanto vocês parecem acreditar.... Você já conseguiu aliviar sua consciência?

— O quê?

— Você estava me encarando como se estivesse sofrendo ao me ver nesta situação. Você me trouxe água e conversou comigo como se eu fosse um ser humano digno da sua atenção... Você se sente melhor consigo mesmo? Depois de fazer sua boa ação do dia?

— Não estou tentando provar que eu sou uma boa pessoa. Na verdade não estou tentando provar nada, nem tentando conseguir alguma informação... Você estava sofrendo e eu simplesmente não acho isso justo. E se você quiser mesmo saber eu estava te encarando porque você é de longe a coisa mais linda que eu já vi... E eu gosto de falar com você, você é inteligente e irônico de um jeito divertido...

O tritão ficou em silêncio e um rubor avermelhado se espalhou por suas bochechas. James só conseguiu pensar que ele ficava ainda mais adorável assim.

— Você quer mais água?

— Eu quero ficar sozinho — o tritão disse piscando rapidamente, como se estivesse voltando a si — não preciso de um maldito pirata me cercando como um abutre.

— Nem mesmo um tão charmoso e bonito assim?

— Como você consegue ficar de pé tendo que sustentar um ego tão grande sobre sua cabeça?

— Você é engraçado... — James disse com uma risadinha enquanto se afastava em busca de mais água e talvez um pedaço de pano para limpar o sangue dos pequenos cortes.

Enquanto ele procurava por algum tecido limpo, o que é relativamente difícil de encontrar num navio pirata, seu melhor amigo Peter se aproximou dele com uma expressão de puro horror nos olhos.

— O que você acha que está fazendo? — Peter praticamente gritou, fazendo James pular alguns centímetros no ar.

— Caramba, Peter! Eu nem vi você chegando, às vezes você é mais silencioso que um rato num colchão...

— Nem tente desviar da minha pergunta. Eu vi você dando água para a sereia... Você vai acabar amarrado ao mastro com o capitão Riddle ordenando que alguém açoite suas costas.

— Primeiramente, o capitão Riddle nunca faria algo assim. E em segundo lugar, eu só estou sendo gentil. Aquele tritão também é um ser vivo, ele está com medo e preso...

— Só tome cuidado. Você tenta ver o bem em lugares onde ele não existe e as pessoas se aproveitam disso.

— Eu não acho que ele está tentando se aproveitar de mim — James explicou com um suspiro profundo — Ele disse claramente que não queria um maldito pirata perto dele...

— Oh meu Deus!

— O quê?

— Você está apaixonado pela sereia...

— Não seja ridículo, Peter. Eu nem sei o nome dele.

— James, cara, eu te amo, de verdade, mas você tem a sutileza de um cervo louco numa loja de cerâmicas.

— Eu não estou apaixonado! Eu admito que ele é ridiculamente lindo, mas eu não sou tolo ao ponto de ser enganado por uma criatura que usa a aparência para afogar homens desavisados.

— Mas você gosta quando ele diz coisas rudes para você?

— Cala a boca...

— Acho que você tem um tipo. Se bem me lembro você também ficou encantado quando aquela pirata, a senhorita Lily Evans, disse que ela preferia se jogar no mar congelante de Ravenclaw do que ser cortejada por você.

— Aquela é uma garota que sabe colocar os outros em seu devido lugar. Mas eu não pretendia cortejá-la, nós somos bons amigos...

— Você está perdendo o fio da meada, James — Peter resmungou esfregando os dedos nas têmporas, tentando invocar toda a paciência que pudesse para não acertar seu amigo com um chute — você não pode se envolver com uma sereia. Se o capitão Riddle não te matar, aquela coisa faria.

— Ninguém está me matando, porque eu não estou apaixonado. Só estou sendo gentil...

— Qualquer coisa que te ajude a dormir à noite, companheiro.