Between Waves and Secrets

04

Quando todos finalmente começaram a se recolher para dormir, James se esgueirou de volta ao convés o mais silenciosamente que conseguia. Ele caiu de joelhos e começou a cortar as cordas que prendiam as mãos de Regulus, reparando no quão vermelhos seus pulsos haviam ficado com a força que os nós haviam sido feitos.

— Regulus? — James chamou quando viu que não houve nenhuma reação do outro com as cordas sendo cortadas.

— Eu estou vivo — uma voz rouca respondeu — mas não me sinto bem, minhas pernas estão tremendo...

— Não podemos perder tempo — James disse pegando o outro no colo como se fosse uma noiva — espero que não se importe que eu te carregue — a única resposta que ele teve foi uma mancha vermelha nas bochechas do outro.

James se moveu com relativa facilidade até a borda do navio, Regulus era muito mais leve do que ele imaginava.

— Tudo bem — James disse enquanto ajudava o tritão a se sentar na amurada do navio — suma daqui...

— Vem comigo.

— O quê?

— Posso fazer você respirar debaixo d'água... Por tempo suficiente para conseguirmos fugir pelo menos, não se arrisque ficando aqui, eles vão descobrir que você me ajudou.

— Regulus eu não...

— Nem mesmo o pequeno Jamie aqui seria tão estúpido — o capitão Riddle disse puxando James pelos cabelos — entrar na água junto com uma sereia?

— Regulus, fuja...

— Ele não vai fazer isso — o capitão Riddle disse com uma risada, enquanto puxava James ainda mais — o nosso pequeno Peter aqui — ele gesticulou para o pequeno homem escondido nas sombras — estava me contando sobre uma conversa muito interessante...

— Peter? — James perguntou com lágrimas nos olhos, ele nunca esperaria que seu amigo o traísse dessa maneira.

— Me desculpe, James, mas eu te disse para tomar cuidado, para não conversar com aquela sereia — Peter disse apontando para Regulus, que observava o aperto no cabelo de James com os olhos afiados — você não entende o que está em jogo, James. Eu... Eu só queria proteger você.

James tentou dar um passo à frente, os olhos brilhando de incredulidade e raiva— Proteger? Isso é o que você chama de traição agora? — As palavras saíam como veneno.

— Você está completamente cego! — Peter falou de volta — Esse monstro desgraçado entrou na sua cabeça e está virando você contra seus amigos... Deveríamos ter matado essa coisa...

— Cale a boca! — James gritou, agora com a voz embargada pelo ressentimento — Não ouse falar sobre ele! Tudo que ele fez foi me ajudar a ver a verdade...

— Já chega de discussão vocês dois — o capitão rosnou sacudindo James violentamente e fazendo Regulus mostrar um par de caninos afiados que, apesar do momento, James achou extremamente fofos — como eu estava dizendo, Peter aqui me contou algumas coisas interessantes. Parece que as sereias não são influenciadas por tortura, nós poderíamos fazer qualquer coisa e essa coisa ainda não nos diria onde o tesouro do oceano está... Mas ele parece ter um ponto fraco, não é mesmo sereia? — ele deu uma piscadela sugestiva para Regulus, recebendo um rosnado em troca — Nosso pequeno Jamie aqui parece ter conquistado sua afeição... Então se você não quiser ver a garganta dele ser cortada na sua frente eu sugiro que você volte para a porra do navio e nos diga onde está o tesouro do oceano — para enfatizar suas palavras Riddle apertou uma adaga no pescoço de James arrancando uma pequena gota de sangue.

— Não faça isso — James disse quando Regulus alternou seu olhar entre a lâmina e os olhos do capitão — ele não vai me machucar, vá embora daqui.

— Ele vai te machucar, James, eu te disse que ele mataria todos que estivessem no caminho dele...

— Não importa, você precisa fugir, peça ajuda ao seu irmão e desapareça no mar.

James assistiu horrorizado enquanto Regulus jogava suas pernas de volta para o navio e caía com um baque surdo aos pés do capitão Riddle

— Existe uma história sobre as sereias — Riddle começou a falar com um sorrisinho irônico no rosto, enquanto alguns homens da tripulação amarravam os braços de Regulus atrás das costas — é uma lenda pouco conhecida, eu mesmo só ouvi falar sobre isso duas vezes. Ela diz que as sereias são acostumadas a viverem em pares, que a própria magia do oceano escolhe duas almas que são compatíveis e cruza o destino deles para sempre. Eu achei que fosse alguma baboseira romântica de almas gêmeas, mas a lenda diz que quando uma sereia encontra seu par seus olhos ficam num tom de rosa ou violeta — James olhou os olhos de Regulus piscando lágrimas infindáveis, mas ainda com aquela cor púrpura linda — parece familiar, não é mesmo Jamie? Foi aí que eu percebi que a nossa pequena sereia ali não poderia simplesmente deixar que alguma coisa ruim acontecesse com você... Então ele vai nos dizer onde está o tesouro do oceano, ou então o pequeno Peter vai limpar o sangue do melhor amigo dele do convés...

— Ele não é meu melhor amigo — James rosnou de volta — e Regulus não vai te dizer nada. Ele não está apaixonado por mim, ele abominou minha presença a cada segundo em que esteve nesse navio...

— Talvez você seja mais ingênuo do que eu pensava, Jamie. Você não prestou atenção no que aconteceu quando você abriu a caixa de vidro em que colocamos essa coisa mais cedo? — o capitão Riddle parecia estar se divertindo muito com aquela situação, com o tritão amarrado e a adaga presa no pescoço de James tudo estava indo melhor do que ele esperava — quando você levantou a tampa da caixa, ele ficou absolutamente louco e se lançou sobre você... Não foi por falta de ar, querido, ele estava reconhecendo seu cheiro. Você não achou estranho ele te chamar pelo nome sem nunca ter visto você antes?

— Não... — os olhos deles se cruzaram e Regulus parecia ainda mais assustado do que em qualquer outro momento daquele dia — Regulus, não...

— Agora, você parece achar que eu estou brincando, mas a pequena sereia ali sabe que vou cortar sua garganta e deixar você sangrar até a morte se ele não me disser exatamente o que eu quero saber.

— Eu não posso... — Regulus respondeu com a voz tremendo e ainda mais lágrimas escapando de seus olhos — eu não posso...

— Você tem certeza? — Riddle apertou ainda mais sua adaga sobre a pele de James e fazendo Regulus tremer completamente.

— Eu não consigo dizer — Regulus parecia estar fisicamente com dor, tentando fazer as palavras saírem de sua boca. Se em algum momento James acreditou que o capitão Riddle não era um monstro, todas as suas dúvidas foram jogadas pela janela — a magia não nos deixaria falar, nem mesmo para salvar nossas vidas, por favor, por favor... solte-o.

A alegria do capitão Riddle pareceu sumir completamente naquele momento. Ele bateu com o cabo de sua adaga na cabeça de James com toda a força e o lançou junto a Regulus no chão, ignorando o grito que ele soltou.

— Coloquem os dois numa cela. Eu preciso pensar... Não vou deixar dois idiotas que acham que estão apaixonados estragarem nossa busca.

James e Regulus foram praticamente carregados até as celas, um completamente tonto depois da pancada na cabeça e o outro com as pernas tremendo descontroladamente por causa de desidratação.

As portas mal haviam sido trancadas quando Regulus se arrastou em direção a um James meio desacordado no chão. Ele deitou sua cabeça no peito dele tentando ouvir seus batimentos cardíacos e, embalado pelo ritmo constante, ele adormeceu rapidamente.