07 - CONSELHOS

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RICHARD ONSão Paulo, Barra FundaCentro de Treinamento Palmeiras

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RICHARD ON
São Paulo, Barra Funda
Centro de Treinamento Palmeiras

O treino havia sido intenso, como sempre, mas a energia estava lá em cima. Joaquín e eu acabamos de sair do campo, e a ideia de almoçar fora era tentadora. Decidimos ir a um restaurante próximo ao CT, e eu mandei uma mensagem para Laura, que estava por perto, para ver se ela queria se juntar a nós.

"Lauris, você quer almoçar comigo e com o Pique? Vamos no restaurante ali perto"

Enviei a mensagem e esperei a resposta enquanto Joaquín e eu conversávamos sobre o treino.

– E aí, Joaco, o que achou do treino? - perguntei, puxando assunto enquanto aguardava a resposta de Laura.

– Ah cara, o treino foi pesado hoje. Acho que todos estamos cansados, mas vamos arriba - respondeu Joaquín, ajeitando a mochila nas costas.

A resposta de Laura chegou quase que imediatamente.

"Claro, estou indo."

A resposta dela era breve, mas era o suficiente.

Nos encontramos na van e quando chegamos no restaurante, encontramos Juliana, que já estava lá e se ofereceu para se juntar a nós. No começo, foi meio estranho, mas acabamos aceitando à situação. Juliana até que era divertida e, apesar da surpresa, o almoço começou de forma leve e descontraída.

O restaurante tinha um ambiente agradável e a comida estava deliciosa. Entre risadas e conversas sobre tudo e mais um pouco, o tempo passou rápido.

Quando acabamos, pagamos a conta e saímos para esperar a van do clube que nos levaria de volta ao CT. O sol estava forte e a espera começou a se arrastar.

– Será que não precisamos mandar uma mensagem para o motorista? - perguntei, encostado em uma árvore, tentando encontrar alguma sombra.

Laura olhou para mim com um sorriso divertido.

– Ué, ele deixou a gente aqui. Ele vai vir buscar, pode ficar tranquilo - respondeu ela, com um tom leve.

– E você está esperando o quê? Que ele apareça do nada? - brinquei, mas sem receber uma resposta direta.

Laura percebeu meu olhar e imediatamente se retratou.

– Desculpa, não quis parecer grossa - disse ela, rindo um pouco.

– Tranquilo, só estava brincando - respondi, rindo também. – É que o sol está tão forte que estou começando a questionar a eficiência da van.

A conversa continuou com piadas e provocações amigáveis. Laura e eu começamos a nos alfinetar de leve, como costumamos fazer quando estamos de bom humor.

– Então carioca, quando você vai me ensinar a fazer aquele prato colombiano que você falou? - perguntou.

– Só quando você prometer não me chamar de "carioca" o tempo todo - respondi, dando um sorriso travesso.

– Ah, isso vai ser difícil. Você realmente parece um pouco carioca com esse jeito malandro - brincou.

Fiz uma cara de "não acredito", mas ri junto. Ela sabe que eu não gosto que me chamem assim por causa desses benditos edits do TikTok.

O tempo passou e, finalmente, a van chegou. Entramos e fomos levados de volta ao CT. Ao chegarmos, decidimos dar uma passada pelo jardim privado do centro de treinamento, um lugar tranquilo que gostamos de frequentar para relaxar um pouco antes de voltar do almoço.

– E aí, cadê suas amigas? - perguntei a Laura quando chegamos ao jardim.

– Estão na sua frente. Está enxergando ou está cego? - respondeu ela, com um tom brincalhão.

– Vou te bater, garota - falei, fazendo uma expressão ameaçadora, mas de brincadeira.

Laura, que estava um pouco à frente, começou a correr, gritando.

– MARCELA, ele está tentando me bater! Richard está tentando me agredir aqui ó - Marcela, que estava em algum lugar perto, riu da situação e veio até nós.

– O que está acontecendo aqui seus doidos? - Marcela perguntou, com um sorriso.

– Richard está tentando me agredir - Laura disse, sem parar de rir.

– E eu estou apenas tentando me defender - falei, seguindo o tom de brincadeira.

Nos acomodamos nas cadeiras de sol e o tempo no jardim foi leve e descontraído, com muitas risadas e conversas sobre coisas variadas.

– Você viu a nova chuteira que lançaram? Tô quase comprando, mas não sei se tô só gastando à toa. Compra uma pra mim? - pergunto, coçando a cabeça.

– Mais uma colombiano? Você já tem umas dez chuteiras.. Mas se essa aí vai te fazer jogar como o Messi, quem sou eu pra dizer não, né? - disse Laura, rindo.

– Engraçadinha... Pois é, quem sabe eu viro craque de uma vez! Mas, falando sério, acho que tô querendo comprar só pra esquecer umas coisas, sabe?

– Esquecer o quê? Tá com coisa aí, hein? - questionou, curiosa.

– Acho que eu sabia que ia chegar a esse ponto, mas tá sendo mais difícil do que eu imaginava. A gente briga por tudo, e nem sei mais se estou feliz. Parece que a cada dia que passa, estou mais distante. Tô começando a pensar que talvez a melhor coisa seja terminar, mas... não sei, Laura. Tenho medo.

– Richard, eu sei que não é fácil. Mas me diz uma coisa, por que você acha que tem medo de terminar?

– Acho que é por causa da dependência, sabe? A gente construiu uma vida juntos, criou hábitos, rotinas. E a ideia de perder tudo isso... de ficar sozinho no país, é assustadora.

– Eu vou falar por experiência própria, vai doer muito, mas vai passar. O sentimento de dependência vai ser difícil de lidar no começo, mas passa. Pode demorar um pouco, mas passa e vai ser libertador.

– Libertador, né? Acho que nunca pensei nessa possibilidade, só me prendi ao medo da dor e do vazio.

– E é normal sentir isso. A gente se apega ao conforto, mesmo quando ele não nos faz bem. Mas você precisa pensar no que realmente te faz feliz. Se você já não se vê nesse relacionamento, talvez seja hora de reavaliar.

– Você tem razão. Eu preciso me perguntar o que realmente quero e não o que acho que devo fazer por hábito ou por medo. Obrigada Lau... - Joaquín me interrompe chegando com um sorriso no rosto.

– E aí, pessoal! Tô organizando uma balada na sexta, bora?

– Tô dentro! - concorda Laura, animada.

– É disso que eu tô precisando. Bora lá, cara! - assenti. Parece que esse uruguaio safado sabia exatamente o que eu estava precisando.

Voltamos cada um às nossas tarefas, mas as palavras de Laura continuavam ecoando na minha mente. Eu sabia o que precisava fazer. E, pela primeira vez em muito tempo, me senti preparado para isso.

SEGREDO - RICHARD RÍOSOnde histórias criam vida. Descubra agora