SEGREDO - RICHARD RÍOS

PRÓLOGO

LAURA ON
São Paulo, Barra Funda
Escritório Allianz Partners

Talvez por ser uma palmeirense fanática, daquelas que não perde um jogo e que conhece cada detalhe do time, eu tenha sido tão atraída por esse trabalho. E, para ser sincera, acho que isso tem me ajudado a me destacar por aqui.

Hoje está sendo um dia típico no escritório, mas não menos agitado. Meu trabalho envolve cuidar de praticamente tudo o que os jogadores precisam para se sentirem em casa. Além de ajudá-los a entender como as coisas funcionam no clube, minha equipe é responsável por fornecer tudo, desde uniformes e mochilas personalizadas até os materiais técnicos que eles usam no campo. Eu nunca imaginei que saberia tanto sobre faixas elásticas, bandagens compressivas, protetores bucais, ou até mesmo sobre as especificidades de um par de chuteiras. Eu posso parecer apenas mais uma assistente administrativa, mas sou a melhor no que faço, e isso não é apenas por amor ao Palmeiras.

Estava focada no computador, finalizando um relatório detalhado sobre os últimos suprimentos que enviamos para a academia dos jogadores, quando minha supervisora, Amanda, veio até a minha mesa. Amanda é o tipo de pessoa que sempre sabe o que está acontecendo, uma líder nata e extremamente competente. Mas, mais importante, é alguém que sabe reconhecer um bom trabalho quando vê um.

– Laura, pode vir até a minha sala? Preciso falar com você - ela disse, com o tom tranquilo, mas firme, que é sua marca registrada.

Assenti, finalizando rapidamente o que estava fazendo antes de me levantar. Caminhei até a sala dela, que fica no canto do escritório, com vista para o campo de treinamento que podia ser visto de longe. Amanda sempre teve essa aura de autoridade, mas sem ser intimidadora, e acho que isso é o que a faz ser tão respeitada.

– Feche a porta, por favor - ela pediu, assim que entrei.

Eu fiz o que ela pediu e me sentei na cadeira em frente à mesa dela. Amanda não demorou a começar a falar.

– Laura, o novo reforço do Palmeiras chega amanhã - ela começou, pegando um arquivo grosso que estava sobre a mesa. – E ele estará sob sua supervisão.

Meu coração deu um salto, e eu mal conseguia disfarçar a empolgação que corria pelas minhas veias. Ser responsável por um novo jogador era uma grande responsabilidade, e significava que Amanda confiava em mim para fazer o trabalho bem feito.

– Amanhã, ele terá que passar por todos os procedimentos padrão de adaptação. Isso inclui conhecer a equipe administrativa, familiarizar-se com as instalações do clube e, claro, garantir que ele receba todos os materiais de que vai precisar - Amanda continuou, sem levantar os olhos do arquivo.

Eu fiz que sim com a cabeça, enquanto ela falava. Já tinha feito esse tipo de trabalho antes, mas sempre com a supervisão dela ou de outra pessoa mais experiente. Ser a responsável direta por todo o processo era algo novo, e a responsabilidade que isso implicava me excitava e assustava ao mesmo tempo.

– O nome dele é Richard Ríos. Você vai acompanhá-lo durante os próximos dias, mostrando como nosso trabalho funciona, ajudando-o com o que precisar. Seu objetivo é garantir que ele se adapte bem e rápido, porque o clube está contando com ele para a próxima temporada - Amanda disse, enquanto empurrava o arquivo na minha direção.

Peguei o arquivo e comecei a folheá-lo, vendo detalhes sobre o jogador, seu histórico, e, claro, uma lista dos materiais que ele precisaria. Chuteiras personalizadas, uniformes de treino e jogo, bandagens elásticas específicas para os treinos, mochilas personalizadas com seu nome e número... a lista parecia interminável, mas eu já estava mentalmente organizando o que precisava ser feito.

– Uma das coisas que você precisa ter em mente é que a adaptação de um jogador não é só sobre os materiais que ele recebe. É também sobre fazê-lo sentir que está em casa, que faz parte do time. Muitos desses jogadores vêm de longe, e se eles não se sentirem bem acolhidos desde o começo, isso pode afetar seu desempenho em campo. E nós, da Allianz Partners, somos parte crucial nesse processo - Amanda explicou, cruzando as mãos sobre a mesa.

Eu concordei novamente. Amanda tinha razão. Já tinha visto o quão desafiador podia ser para os jogadores se adaptarem, especialmente aqueles que vinham de outros países. Entender a cultura, a língua, o jeito de viver aqui no Brasil... tudo isso era parte do que eles tinham que lidar, além da pressão de performar bem em campo.

– Você é a melhor nesse tipo de trabalho, Laura, e eu sei que posso confiar em você para garantir que Richard tenha tudo o que precisa. Além disso, ele vai passar muito tempo ao seu lado nos próximos dias, então aproveite para conhecê-lo melhor. Isso pode te ajudar a entender como lidar com ele -  Amanda acrescentou, com um leve sorriso.

Saí da sala dela sentindo o peso da responsabilidade sobre meus ombros, mas também uma adrenalina que não conseguia explicar. Eu sabia que isso era mais do que apenas mostrar o clube e entregar materiais, era sobre garantir que Richard Ríos se sentisse parte do Palmeiras, e isso era algo que eu levava muito a sério.

Voltei para minha mesa, ainda segurando o arquivo, e comecei a revisar cada detalhe. Precisaria me certificar de que tudo estivesse pronto para a chegada dele amanhã. Não podia haver erros. Cada peça de uniforme, cada par de chuteiras, cada item personalizado... tudo precisava estar perfeito.

Pensei no que Amanda havia dito sobre fazer Richard se sentir em casa. Havia algo de humano, de pessoal, em tudo isso. Não era apenas um trabalho técnico, era sobre pessoas, sobre garantir que alguém que estava deixando sua vida para trás para começar algo novo aqui em São Paulo se sentisse bem. E eu estava disposta a fazer tudo o que fosse necessário para que isso acontecesse.

Enquanto terminava de organizar meu plano de ação para o dia seguinte, não pude deixar de sentir uma pontada de curiosidade sobre Richard. Quem era ele, além das estatísticas que tinha lido no arquivo? Como ele lidaria com a pressão de ser o novo reforço do Palmeiras? E, mais importante, como eu conseguiria ajudá-lo a se adaptar, não apenas ao clube, mas à vida aqui?

Essas perguntas ficaram na minha mente enquanto terminava meu dia de trabalho. Amanhã seria um novo começo, tanto para Richard quanto para mim, e eu estava determinada a fazer o melhor trabalho possível.

Desliguei o computador e me preparei para sair. Amanhã seria um dia longo, mas também cheio de oportunidades. E, no fundo, eu sabia que estava pronta para enfrentar o desafio.