Capítulo 8

192 21 106
                                    

Quando Malu era Penélope, houve um tempo que não sabia diferenciar o real do irreal. Era uma criança com muita imaginação, que acreditava que era uma princesa fada em seu lindo palácio de cristal. Parecia bobo naquele tempo, que uma criança de cinco anos acreditava fielmente que estava presa como a princesa Rapunzel e que uma hora ou outra alguém viria lhe salvar.

Até mesmo seus pais acreditavam que ela tinha uma doença mental ou algo do tipo.

E então se passou um dia, seis meses, 475 dias, vinte e três anos, e a princesa fada nunca foi salva, pois ficou anos e anos esperando que alguém viesse, ao invés de tentar salvar a si mesma sozinha.

Sequer era capaz de salvar a si mesma pois nunca soube se expressar da forma certa ou tomar decisões para o bem de si. A princesa havia se tornado uma mulher teimosa, que estava sempre escorregando diretamente para o perigo. Era briguenta e irresponsável, às vezes até meio preconceituosa.

Odiava pobres, mas amava ler orgulho e preconceito.

A hipocrisia da gata.

Nunca fez nada para aprender a sobreviver se um dia fosse morar sozinha, pois sequer nunca tocou numa pia.

E falando em pia, neste exato momento estava sonhando que lavava uma montanha de louça gigantesca. Usava um avental esfarrapado e chorava com as mãos cheias de sabão, odiando ser pobre. Os cabelos sem pentear e o rosto sujo sem nenhuma maquiagem que mostrasse sua beleza. A tela do sistema brilhando e a acertando com um chicote para que lavasse a louça mais rápido e Mateus chegando com uma travessa enorme de pratos sujos e jogando na pia.

Malu abriu os olhos desesperada e ofegante, seu corpo estava suando frio e ensopava o lençol da cama. Ela levantou olhando para o lençol com cara de nojo e sentiu náusea, se apoiou na cabeceira da cama para não cair já que tinha levantado muito rápido. Estava sozinha no quarto, embora se lembrasse de tudo ficando escuro após ser beijada por Lucas.

Riu ao pensar que ele tinha um beijo potente com efeito ao contrário do que os contos de fadas diziam. Ao invés de reviver alguém o beijo dele matava.

Malu gargalhou com o pensamento mesmo sabendo que o beijo não foi a causa de seu desmaio. Só então percebeu que não estava usando a mesma roupa que se lembrava mas sim uma camisa branca e enorme que chegava na metade de suas coxas. Malu respirou fundo, ainda sentindo tudo girar e se sentou na ponta da cama, sentindo fraqueza no próprio corpo. Viu que ao lado da cama tinha um jarro com água e um copo, bebeu três vezes quase se sentindo melhor.

– Abrir banner…- Ela disse e buscou por imagens, e ali estava uma linda foto desenhada de Lucas correndo com ela em seus braços, Alice e Felipe com expressões preocupadas e Malu parecendo um defunto. Ela sorriu curiosa pra foto, ele havia mesmo feito aquela expressão de desespero por ela?

Abriu a pasta de objetivos, entre as conquistas estava a simpatia de Lucas, a afeição de Felipe e o interesse de João?

A missão de lavar a louça do jantar ainda estava lá, Malu sentiu calafrios só de lembrar do sonho e soltou um resmungo alto. Assim que se sentiu melhor para se levantar, ela andou na direção do banheiro, se apoiando nas paredes, tirou a camisa suada e se lavou na água quente pois estava com muito frio em plena semana de calor. Havia pensado que não prestava pra ficar doente, e ali estava ela, tendo que se apoiar nas paredes pra não cair pois suas pernas estavam piores que gelatina.

Malu colocou apenas uma camisa xadrez de Mateus que cobria bem sua lingerie rosa e não deixava nem a poupa da bunda a mostra, mas ainda assim era meio sensual. Ao sair do banheiro, teve a surpresa de ver Felipe entrando no quarto segurando uma bandeja nas mãos, ele ergueu os olhos e a fitou da cabeça aos pés completamente corado.

Entre Laços & EmbaraçosOnde histórias criam vida. Descubra agora