A Toca

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Eu estava caindo. Sentia um turbilhão de emoções ao mesmo tempo. Senti minhas roupas flutuando no ar, meu cabelo estava sendo levados pela gravidade. Era como se eu pudesse voar e não pudesse voar.

O mundo ao meu redor começou a girar, a realidade se distorcendo em um turbilhão de cores e sensações. Eu estava caindo, mas a sensação não era de medo, e sim de entrega. Eu não sabia onde a queda me levaria, mas, de alguma forma, sentia que Casper sabia.

A queda parecia não ter fim. Ao invés de um simples despencar, era como se eu estivesse sendo sugado por um vórtice infinito, um túnel de sensações e imagens distorcidas. As paredes da toca, que inicialmente pareciam feitas de terra e raízes, começaram a se transformar. Elas se esticavam e torciam em padrões caleidoscópicos, mudando de cor e textura a cada segundo.

Era como se eu estivesse caindo dentro de uma pintura surrealista, onde a realidade não tinha mais peso. Objetos estranhos e familiares flutuavam ao meu redor: relógios, livros voadores, brinquedos antigos, e dos mais diversos objetos que você pode imaginar, todos girando lentamente enquanto eu passava por eles. A cada metro que eu descia, as cores se intensificavam, os sons se multiplicavam, e a noção de tempo se diluía.

Eu sentia medo ao mesmo tempo que não sentia, parecia que aquilo era natural pra mim. Era como um deja vu, eu sentia que conhecia esse lugar, ou, que já tinha ouvido falar sobre. Eu sentia a morte ao meu lado, mas ao mesmo tempo, eu me sentia seguro.

Casper estava lá, eu podia senti-lo. Ele não era apenas uma presença, mas uma força ativa, moldando o ambiente ao nosso redor. O turbilhão de imagens que desfilava diante de mim eram reflexos dos cantos mais obscuros da minha mente, mas sob a influência de Casper, tornavam-se distorcidos, irreais, quase macabros.

"Você está indo pra casa Anthony" bradou a voz de Casper na minha mente. Eu me senti livre, eu apenas abri os meus braços, e deixei a gravidade (se é que existe gravidade nesse lugar) me guiar.

Abaixo de mim eu podia ver o coelho, ele parecia tranquilo. Eu contemplava como ele descia com graça e elegância, parecia que ele já estava acostumado a andar, ou melhor, cair por esse caminho.

- Deus do céu - a voz do coelho bradava pelas paredes - A rainha vai me matar!!

As figuras que surgiam ao meu redor não eram apenas visões, mas manifestações de pessoas que Casper podia conhecer (e eu sentia isso). Via rostos conhecidos se retorcendo em expressões de dor e alegria, sombras que dançavam com um ritmo frenético, enquanto sussurros e risadas ecoavam ao longe, carregando segredos que eu nunca quis ouvir.

Enquanto caía, meu corpo parecia tanto leve como uma pena quanto pesado como tábua. Eu não tinha controle algum sobre a direção, a velocidade, ou sobre o que iria aparecer a seguir. Era uma descida profunda, não só fisicamente, mas mentalmente também. Era como se eu estivesse explorando as profundezas do meu próprio subconsciente, guiado por Casper, que agora dominava completamente.

Em um momento, o túnel ao meu redor começou a se alargar, as imagens e sensações se intensificaram, e eu me senti sendo envolvido por uma escuridão suave, quase acolhedora. As cores se esvaneceram, e tudo ao meu redor tornou-se um nada absoluto, um vazio que me abraçava enquanto eu continuava a cair, cada vez mais rápido.

Então, de repente, tudo parou. Não foi uma parada brusca, mas sim uma transição suave, como se eu estivesse flutuando no espaço, sem gravidade, sem som, sem luz. Estava em algum lugar, mas ao mesmo tempo, em lugar nenhum. Não havia mais queda, apenas uma quietude profunda.

Foi nesse silêncio absoluto que Casper finalmente falou, sua voz um eco sussurrante dentro da minha cabeça, "Agora, estamos onde precisamos estar."

Eu não sabia o que ele queria dizer, mas uma coisa era certa: a verdadeira jornada estava apenas começando.

E então, tudo se apagou. A última coisa que senti foi a presença de Casper, firme e dominante, enquanto eu desaparecia nas profundezas da minha própria mente, indo aonde quer que o coelho branco e ele quisessem me levar.

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