Como você sabe, sou Anthony Kingsleigh, filho de Alice, o que eu não contei é que desde os meus 15 anos que estou internado no hospital Rosewelle, lutando contra um câncer. Além de lidar com meus transtornos de dupla personalidade, raramente.
Vou contar um pouquinho da minha história: minha mãe, tempos depois que ela voltou do país das maravilhas (pela terceira vez), conheceu um cara, chamado Theophillus Miller, um chapeleiro considerado louco pela sociedade, mas querido entre os íntimos (eu e minha mãe). Eles se conheceram, se casaram, e... Me tiveram.
Nós vivíamos como uma família feliz, quando no auge dos meus 13 anos, minha mãe começou a ficar doente, nós sempre dávamos apoio para ela se tratar, ela tinha tuberculose, e foi bastante difícil conseguirmos os medicamentos ela conseguir se curar. Mas infelizmente, ela morreu 1 ano depois. A partir disso, só era eu e meu pai, ele tentou me criar da melhor maneira que ele pôde, mas também morreu no outro ano, de cólera.
Como eu não tinha mais parentes conhecidos, me bastou morar com meu tio Leroy no interior de Londres. Meses depois eu comecei a sentir fortes dores no meu corpo, e fomos as pressas pro hospital, quando descobrimos que eu estava com câncer, eu não sabia como reagir a isso.
Meu tio Leroy vem me visitar as vezes, porque ele sempre anda muito ocupado no trabalho dele, mas, felizmente, o trabalho dele fica aqui mesmo na capital de Londres. Mas mesmo assim me sinto sozinho, até que gosto, mas, eu ainda preferiria que minha mãe ou meu pai estivessem aqui.
E eu ainda tenho que lidar com meus transtornos de dupla personalidade, pra isso eu criei um alter ego chamado Casper. O Casper seria a parte que eu gostaria de mostrar ao mundo, se eu pudesse sair desse hospital. Ninguém sabe, porque eu gosto de esconder essa parte dos outros, já que sou muito judiado nesse lugar.
Bom, chega de falar de mim. Era agosto , meu mês favorita do ano, o outono era minha estação preferida, tons sempre alaranjados nas árvores, o clima nem quente e nem frio, sempre agradável. Alguns animais invernando ou prestes a invernar, não tem como amar essa estação?
Eu estava sentado no banco da janela, desenhando pra variar, já que era a única coisa que me acalmava, acalmava meus pensamentos pessimistas, já que eu sabia que um dia, eu iria morrer.
Eu estava ouvindo passos, eu sabia que alguém viria ao meu quarto.
- Bom dia Anthony! - disse em tom alegre - Trouxe uma surpresa pra você, direto de Londres.
Me virei e me surpreendi quando vi Leroy, e uma sacola misteriosa. Ele se aproximou, sentou na minha frente e tirou as coisas da sacola. Tinha um caderno de capa vermelha com preto a alguns lápis.
- Muito obrigado - respondi parecendo ser animado - Fico, muito grato pelo presente.
- Ah, não fica triste não. Eu soube que em algum momento desse mês, ou mês que vem, você vai ser liberado do hospital. E continuar o tratamento em casa!
- Sério?? - olhei pra ele esperançoso, dessa vez eu sabia que não era mentira
- Sim, eles estão vendo a possibilidade de contratar um médico domiciliar pra você.
Olhei pra ele com um sorrisinho, dei os ombros e voltei a olhar pra janela.
- Pensando naquilo de novo?? - perguntou ele se aproximando - Você não vai morrer Anthony!
- É universal tio Leroy, todos nós vamos morrer algum dia. E essa doença, é muito difícil de ser tratada. Quantas pessoas não morreram disso?
- Mas você não é como todo mundo, Anthony - respondeu, com uma voz firme, mas cheia de carinho. - Você é forte, mais forte do que pensa. E a medicina está avançando a cada dia. Lentamente, mas está avançando. Nós vamos enfrentar isso juntos, passo a passo. E mesmo que o caminho seja difícil, eu estarei ao seu lado, lutando com você. Não desista agora, porque ainda há muita vida pela frente. E quem sabe, podemos ser a exceção, não a regra.
Ele se aproximou mais ainda de mim e me deu um abraço, acariciou docemente meus cabelos.
- Você não vai morrer Anthony, e eu estarei ao seu lado, seja como e o que for, eu não vou abandonar você.
Olhei em seus olhos, e via vivacidade, e esperança pra continuar vivendo.
- Eu só... tenho medo, tio Leroy - confessei, a voz quase falhando. - Medo de deixar as pessoas que eu amo, medo de não ser forte o suficiente. Às vezes, parece que todo esse esforço é em vão, sabe? Que, no fim, tudo vai ser em vão.
Leroy se afastou um pouco, mas manteve as mãos nos meus ombros, seus olhos fixos nos meus, cheios de determinação.
- O medo é natural, Anthony - disse ele, sua voz firme, mas cheia de compaixão. - Todos nós temos medo em algum momento. Mas o que realmente importa é o que fazemos com esse medo. Você pode deixar que ele te consuma, ou pode usá-lo como combustível para lutar ainda mais. Cada dia que você continua, cada batalha que você vence, você prova que é mais forte do que esse medo. E não pense que está sozinho nisso, porque você não está.
Com aquelas palavras, uma nova sensação tomou conta de mim. Não era a completa ausência de medo, mas sim uma determinação renovada. Talvez eu realmente pudesse lutar mais um pouco, dar mais um passo, dia após dia. Com Leroy ao meu lado, eu sabia que não estava sozinho, e isso fazia toda a diferença.
- Obrigado, tio Leroy - sussurrei, enquanto ele me abraçava novamente, seu calor e conforto me envolvendo. Eu não sei o que faria sem você.
- E você nunca precisará descobrir, Anthony - ele respondeu, seu tom seguro e carinhoso. - Porque eu sempre estarei aqui, seja o que for. Agora, vamos nos concentrar no que podemos fazer hoje, certo? Um passo de cada vez.
O sino tocou, isso significa que está na hora do intervalo.
- Pode ir, eu estarei aqui quando você voltar!
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Wonderland: a sucessão de Alice
NouvellesEm 1899, Anthony Kingsleigh é um garoto de 17 anos que ao mesmo tempo que luta pela sua vida, tem que lidar com seus frequentes transtornos de dupla personalidade. Um dia passeando pelo bosque do hospital, cai num buraco de coelho e se depara com Wo...