Eu corria o mais rápido que pude pra alcançar a lebre, eu tentava o mais rápido que pude para poder alcança-lo, mas era em vão.
Eu parei em uma árvore mais próxima para poder pegar um pouco de fôlego, eu encostei na árvore e desabei no chão.
"Não adianta" - pensei - "não dá pra continuar desse jeito. Eu... Só vou desistir."
"NÃO" - algo bradou na minha mente, era Casper
Casper agiu por mim, se levantou e começou a correr freneticamente atrás da lebre. Ela estava muito na frente, mas com Casper no comando do meu corpo, poderíamos chegar lá, em segundos.
Enquanto corria, as árvores se inclinavam em nossa direção, como se elas quisessem nos prenderem (e realmente queriam), mas Casper as empurrava com brutalidade.
Quando nos aproximamos da lebre, Casper saltou, eu senti que esmagariamos a lebre, mas (felizmente) não aconteceu. Ele agarrou a lebre e a segurou com toda a força para que ela não se machucasse.
Rolamos por alguns metros, ficamos atordoados com a queda, mas finalmente, tomei controle da minha mente e recuperamos nossos sentidos.
- Oh, santo Deus garoto - disse a lebre rispidamente se limpando - Porque diabos você se jogou e me agarrou desse jeito??
- Argh.... Me desculpe - respondi com a voz trêmula - Eu não queria... Que isso acontecesse... Foi um acidente.
- Que "acidente" é esse de pular e agarrar um pobre animal? E eu não posso parar, estou muito atrasado!
- Espere! - falei antes que ela saísse - Eu preciso de ajuda, como eu faço pra sair... Desse lugar?
- Espera... Você é... Anthony Kingsleigh certo?
- Certo?...
- Santo Deus!! - surpreendeu a lebre - Anthony Kingsleigh?!? Filho de Alice Kingsleigh! Que derrotou o jaguadarte no Glorianday.
- Glorianday? Você conheceu a minha mãe?
- Todos aqui conhecem sua mãe garoto! Ela é uma heroína!
- Isso não pode ser real. - bufei - Só pode ser um sonho. Diga-me que estou sonhando!
- O mesmo jeito da mãe, são tão iguais. Mas diga, o que faz aqui?
- Eu... Não sei, eu só segui você.
- Como você segue uma pessoa se não sabe pra onde vai?
- Eu sei lá... Eu só quero sair desse lugar!
- Você já consultou Absolem?
- Aquela largata que fuma? Já. Mas eu não entendi nada do que ela falou.
- Não fale isso! - repreendeu a lebre - Absolem é sábio com suas palavras.
- Mas enfim, conhece alguém que pode me ajudar?
- O chapeleiro! Estou indo pra lá agora mesmo. Ele não vive sem suas festas do chá.
- Me leve até ele! - uma parte de mim dizia que eu conheço o suposto chapeleiro
- Então vamos! Suba em mim!
Seguimos pelo bosque, os galhos das árvores se contorciam em curvas que pareciam estar me tocando, os galhos, finos e pontudos, poderiam rasgar a pele facilmente de quem os encostasse.
As nuvens escuras e espessas escondiam o céu que formava um padrão xadrez como um tabuleiro. O piso escuro, mal possibilitava de ver meus pés e a lebre. De repente senti algo em minhas costas.
Eu ouvia passos entre os galhos, ventos gelidos me envolviam em espiral, e um sorriso perturbadoramente esquisito e forçado me sobrevoava.
Eu gelei por um breve momento, eu queria reagir, mas eu não sabia o que fazer. Até que a lebre reagiu:
- Cheshire seu imbecil, eu sei que é você!
A criatura apareceu, era um gato com listras cinzas e pretas, mas seus olhos, cor de oceano envolviam qualquer um que o olhasse.
- Encantado Neville, mas não é um jeito de se tratar um velho amigo!
Neville? O nome da lebre é Neville? Ok, pra mim já deu.
- Neville... Faz tempos que não ouço esse nome, como eu pude esquecer meu próprio nome?
O gato me rodeou flutuando como uma pena, me encarou no fundo dos meus olhos, me analisou de cima a baixo.
- Eu conheço você, Anthony Kingsleigh - falava o gato de modo manso e agradável - filho de Alice, que derrotara o jaguadarte no Glorianday.
- Eu não vou me admirar se mais uma pessoa me disser isso.
- Garoto, se você está aqui, é porque você é escolhido.
- Escolhido pra quê? Eu não sirvo pra nada! Eu fiquei anos naquele hospital como um defunto que esqueceram de enterrar, eu deveria estar morto!
- Se auto menosprezar não vai ajudar em nada. Você tem força Anthony, basta saber usá-la. Você sabe lutar, basta dar os golpes certos. Você tem a coragem - ele se aproximou e pôs uma das patas no meu coração delicadamente - basta se libertar!
Eu pensei por um breve momento,
- Ele não pode ficar pequeno desse jeito, vamos levar ao chapeleiro! - disse o gato
- Eu estava indo pra lá agora mesmo, vamos juntos.
E assim nós seguimos, eu em cima da lebre e o gato nos rodeando (confesso que isso é muito estranho. E ainda mais com esse sorriso perturbante).
Conforme avançamos, eu via que as árvores estavam diminuindo aos poucos, eu até vi uma em um formato "normal" de uma árvore no meu mundo. Isso é bem estranho considerado o fato de estarmos em um lugar incomum.
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Wonderland: a sucessão de Alice
Short StoryEm 1899, Anthony Kingsleigh é um garoto de 17 anos que ao mesmo tempo que luta pela sua vida, tem que lidar com seus frequentes transtornos de dupla personalidade. Um dia passeando pelo bosque do hospital, cai num buraco de coelho e se depara com Wo...