O Coelho

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Era sexta, o dia que eu mais gostava na semana. Era o dia em que podiamos sair do hospital e respirar um pouco de ar fresco. Eu gostava de ficar na colina de frente pro hospital, lá eu podia ver os pacientes, sendo eles mesmos, sorrindo e se divertindo.

Enquanto eu e o Casper na minha solitude. Vamos falar um pouco do Casper:

Casper é o extremo oposto de mim, como um todo, tipo, quando eu tenho minhas crises de ansiedade, ele surge e toma conta da minha mente. Ele age e toma decisões que são coisas que eu nunca faria se eu tivesse coragem. E quando eu me acalmo e tomo meu lugar na minha mente, eu simplesmente esqueço de tudo, tudo que eu fiz, vivi, tudo que ele fez e eu não senti. É como se ele me prendesse quando quer assumir e me soltasse quando já cansou de brincar com o meu corpo. É como um demônio que possui o meu corpo e toma o controle a hora que ele quiser.

Enquanto eu e Casper dividíamos a solidão, algo inesperado chamou minha atenção. Do canto do meu olho, avistei um pequeno movimento na grama. Me virei e vi um coelho branco, sua pelagem tão alva que quase parecia brilhar sob a luz do sol poente de outono. Ele estava parado, me observando com seus grandes olhos vermelhos, e por um momento, parecia que o tempo havia parado.

De repente ele começou a sussurrar:

- Meu Deus, eu estou atrasado! Caramba, já está tão tarde!

Como assim o coelho estava falando?? Eu exagerei na medicação? Isso é um sonho? Não, não é possível.

"Você está vendo isso?", sussurrei para mim mesmo, "isso não é real. Não é real."

Quanto mais eu pensava, mais não conseguia tirar esse coelho da cabeça. Pra onde ele iria? E se eu... Não... Então Casper reagiu, mas ele não respondia com palavras, ele respondia com ações.

O coelho, como se soubesse que era o centro das atenções, nos olhou e deu um salto repentino e começou a correr em direção à floresta, que se erguia densa e misteriosa atrás da colina. Algo em mim - ou talvez fosse Casper - sentiu a necessidade de segui-lo. Era como se o coelho fosse a chave para algo maior, algo escondido nas profundezas da minha mente, algo que Casper queria que eu visse.

Sem pensar duas vezes, me levantei e comecei a correr atrás do coelho. Uma sensação de liberdade e adrenalina misturava-se ao medo, mas eu não podia parar. Casper estava no controle agora, e ele não permitiria que eu recuasse.

O coelho se movia rapidamente, seus saltos leves e graciosos me guiavam por entre as árvores, cada vez mais fundo na floresta.

- Meu Deus!! Eu estou no caminho certo?? - falou o coelho - Aonde foi que eu entrei?

Senti uma necessidade de falar com ele. Ou, gritar:

- Espere!! POR FAVOR!! AONDE VOCÊ VAI??

- Não posso parar!! ESTOU MUITO ATRASADO!

O ar ao meu redor parecia ficar mais denso, mais pesado, como se a própria atmosfera estivesse tentando me impedir de continuar. As folhas secas estalavam sob meus pés, o som ecoando em meus ouvidos como batidas de um tambor distante. Os corvos entoavam a canção da morte.

E então, de repente, o coelho desapareceu. Parei bruscamente, ofegante, procurando por ele ao redor.

"Onde ele está?" Pensei por um breve momento enquanto eu procurava por cada canto da floresta, algo branco e felpudo.

Foi quando percebi o buraco no chão à minha frente. Uma toca. Sem hesitar - ou talvez fosse Casper que não hesitou - me agachei e olhei para dentro.

O buraco parecia fundo, muito mais fundo do que uma toca comum de coelho. Algo naquela escuridão me atraía, um convite silencioso para mergulhar no desconhecido. E foi exatamente o que fiz.

Entrei na pequena toca, (por incrível que pareça, eu parecia caber naquele pequeno buraco) quando entrei, eu percebi que o buraco era enorme.

Engatinhei até onde eu pude ir, não tive coragem de continuar. Foi quando eu senti, o chão estalar, tentei ficar parado, mas eu sentia leves rachaduras entre meus dedos. Precisava fazer algo.

Eu comecei a engatinhar para trás lentamente, quando as rachaduras aumentaram, eu percebi que a toca havia aumentado de tamanho.

Me levantei e comecei a correr até a saída, foi então, que o chão abaixo de mim desabou, e eu caí.

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