Eu despertei, abri meus olhos e comecei a levantar lentamente. Olhei ao meu redor e vi que estava numa sala redonda com vários portais que levavam a diferentes salas.
Cada portal tinha um padrão de cores diferentes, mas sempre em xadrez. No teto tinha um padrão psicodélico de cores, e cada cor escondia uma palavra, que juntas, revelavam uma mensagem. Eu consegui juntar as palavras e formei a seguinte frase:
"Os espelhos não mentem, mas também não dizem a verdade."
Eu não entendi no momento, mas decidi que aquilo seria importante (mais pra frente).
Eu vi o coelho e ele estava saltitando em várias direções.
- Eu sempre confundo os portais, que droga! MEU SENHOR, É MUITO TARDE!
- Por favor espere! - tentei chamar atenção do coelho
- Não posso parar! Não posso, simplesmente não posso! Aí meu Deus.
O coelho começou a correr freneticamente em direção a um corredor. Enquanto ia atrás dele, o corredor ia tomando formas, mudando de cores repentinamente e os objetos iam mudando de lugares para outros. Eu tentava me agachar dessa troca constante de objetos, mas eu sempre acabava sendo espetado por alguma coisa.
Depois de alguns minutos correndo, eu finalmente consegui me aproximar mais do coelho e consegui entrar numa sala. Ela era enorme, mas vazia. Tinha apenas uma mesa com uma toalha de renda branca a azul com comes e bebes.
O coelho estava se aproximando de uma porta, tentei correr o mais rápido que eu pude para alcança-lo, mas ele já havia entrado.
Eu abria a porta, mas outra se revelou, eu abri, e surgiu mais outra, e outra, e mais, mais muito mais. Até que finalmente eu tentei abrir a última porta (bem pequeníssima aliás), de repente, ela começou a falar:
- AIII! - gemeu a porta - O que pensa que está fazendo jovem?
- De-desculpe! E-eu... Só queria passar!
- Passar? Mas eu estou trancado!
- Mas o coelho... Ele acabou de passar!! Como está trancada?!
- Haaa... Ele deve ter trancado do lado de fora? - respondeu com desdém
- E agora? O que vou fazer?
- Tem uma chave em cima da mesa. É só você ir lá... E tentar me abrir!
Assim eu fiz, me aproximei da mesa e vi que tinha um bolo de chocolate e uma bebida dentro de um frasco delicado. Com duas etiquetas.
"Coma-me e Beba-me"
- Pra quê serve essa coisa? - indaguei
- Se você quiser passar por mim, precisa ficar pequeno.
Eu peguei o pedaço do bolo e comi, quando comi, senti um pequeno formigamento em mim. Olhei pra baixo e percebi que estava diminuindo. Eu encolhi, encolhi, encolhi, até estar do tamanho exato da porta.
Mas eu percebi, que não estava com a chave.
- Merda! Esqueci a chave!
- O que vai fazer? - perguntou a porta
- Escalar a mesa, ou, puxar o pano!
- Mas se puxar o pano a bebida vai derramar pelo chão!
- Eu sei! Vale a pena tentar!
Eu me aproximei da mesa, (dei um salto que jamais imaginaria dar) e agarrei o pano com toda minha força. Eu fiquei pendurado segurando o pano. E a porta começou a rir.
- HAHAHAHAHAHAHAHA!! QUE HOMEM MÁSCULO!! NÃO CONSEGUE PUXAR NEM UM MÍSERO PANO HAHAHAHAHA!!! HAHAHAHAHAHAHAHA!
Calmante eu me joguei do pano, me aproximei da porta, e a chutei.
- AAAAAAAHHHHH!! - berrou ela - MEU NARIZ!!! PORQUE VOCÊ FEZ ISSO CACETE??
- E ainda pergunta?? - respondi com desdém - Posso até ser fraco, mas pelo menos eu posso ir aonde eu quiser, sem ficar aqui nessa sala sendo amigo da solidão!
Eu voltei a mesa e puxei o pano com mais força ainda. Quando puxei, todas as coisas caíram. A chave despencou ao meu lado, e o frasco se desfez em pequeníssimos cacos, eu abri a boca levemente quando uma gota do frasco pousou em minha boca.
Naquele momento, senti meu corpo mudar, olhei pra baixo e percebi que estava aumentando de tamanho, eu estiquei, e estiquei até encostar minha cabeça no teto.
"Sem pânico, sem pânico" eu pensava freneticamente "vai dar tudo certo, vai dar..." Eu comecei a chorar.
Eu desabei em lágrimas, os meus prantos se transformaram em um rio. Toda a sala estava inundada em menos de 5 minutos.
- Por que choras garoto?
- Eu... Eu não aguento mais! Eu não aguento mais essa solidão!!! Eu não aguento mais ficar na merda daquele hospital sendo tratado como um cachorro!! Eu não aguento mais ser órfão!! Eu não aguento mais não ter amigos!! EU NÃO AGUENTO MAIS VOCÊ!!
Eu senti que eu e Casper estávamos em um conflito interno, nós dois estávamos querendo tomar o controle da minha própria mente.
Eu senti Casper me dominar agora. Ele instantâneamente parou de chorar e agarrou a chave. Ele pegou o bolo e o comeu por inteiro na mais pura frieza. Eu encolhi e me agarrei ao prato que estava o bolo.
Nadei até a porta e a abri. Quando abri todas as minhas lágrimas escorreram para fora da porta, e eu vi, o lugar que estava.
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Wonderland: a sucessão de Alice
Short StoryEm 1899, Anthony Kingsleigh é um garoto de 17 anos que ao mesmo tempo que luta pela sua vida, tem que lidar com seus frequentes transtornos de dupla personalidade. Um dia passeando pelo bosque do hospital, cai num buraco de coelho e se depara com Wo...