Enquanto a água escorria pela escadaria, eu vi que a porta pela qual eu atravessara, não estava acoplada em uma parede, ela estava suspensa no ar. E depois, ela desapareceu diante dos meus olhos.
Cheguei ao chão e pude sair do prato. Olhei ao meu redor e pude perceber como esse lugar é esquesito. A física não se aplica nesse lugar e o impossível é... Comum.
O ambiente é um puro mosaico de paisagens, jardins exuberantes exibiam flores maravilhosas, e falantes. Deus, elas tinham cara de enjoada.
Tentei passar discretamente entre algumas flores que não pareciam ter "vida própria", mas elas se mexeram.
- Aí, seu abusado! - retrucou uma das flores
- Perdão, eu não queria...
- Não precisa se desculpar querido - se meteu outra flor - Ela está enjoada está manhã
"Percebe-se" eu pensei.
- O que você está fazendo aqui? - falou outra flor
- Eu segui uma lebre, e acabei caindo nesse.... Lugar.
- Lebre? Eu vi uma lebre ainda pouco saltando - a flor apontou para um bosque - Por ali, mas cuidado com as árvores. Elas tem vida.
- Certo, obrigado.
Passei delicadamente pelas flores enquanto elas me olhavam com desdém e curiosidade. Eu ouvia alguns murmurinhos vindo das flores.
"É ele?" "Não é possível!" "Mas será?" "O filho dela?" "Ela teve um filho?" "O que vai acontecer?" "Ele não vai sobreviver aqui!"
Isso, é muito mais eu ouvi enquanto passava entre as flores. Finalmente, passei pelas flores cochichadoras e me aproximei da trilha indicada, que serpenteava em direção ao bosque. O lugar continuava a desafiar minha noção de realidade. No ar, o aroma doce das flores era misturado com algo mais denso, como se o próprio ambiente estivesse saturado de mistério.
Enquanto avançava, vi que as árvores se inclinavam, observando-me com olhos ocultos entre as folhas. Elas sussurravam, ramos se movendo como dedos curiosos. Mantive distância, seguindo a trilha com cuidado. Então, algo capturou minha atenção - uma espessa fumaça azul que se desenrolava no ar, serpenteando até sumir em meio às árvores.
Fui guiado pelo cheiro de incenso até encontrar uma figura estranha, descansando sobre um cogumelo gigantesco. Ele estava sentado com as patas cruzadas, olhando para mim com seus grandes olhos penetrantes. Era uma lagarta colossal, de pele azulada e com um ar de sabedoria preguiçosa. Ele segurava um narguilé, e cada baforada que soltava fazia com que a fumaça formasse padrões circulares intricados no ar.
- Quem... És... Tu? - perguntou a lagarta, com a voz arrastada e distante, enquanto observava a fumaça se dissipar.
Eu hesitei por um momento, ainda confuso com o que estava acontecendo.
- Eu sou Anthony... Anthony Kingsleigh. E estou a procura de uma lebre.
Eu olhei para a largata tentando analisá-la, ela percebeu, mas não estava ligando.
- E... Quem é você? - perguntei com a voz trêmula
A lagarta, levantou uma sobrancelha exagerada e deu mais uma tragada.
- "Quem sou eu" - repetiu - Existem várias maneiras de responder essa pergunta... Anthony Kingsleigh. Você tem certeza de quem é você?
- Eu... Sou Anthony Kingsleigh?
A largata me analisou, me olhou de cima a baixo como se eu fosse um idiota.
- Quem... É.... Você?? - repetiu - A julgar pela sua aparência, seu jeito, sua voz, você não se conhece. Não sabe quem você é. Você não sabe o seu propósito. Agora... Diga jovem... Quem você é?
- Eu não sei! - gritei - Eu só procuro uma lebre! Só isso e nada mais. Eu não tenho tempo pra jogos! Eu só quero sair daqui.
Absolem tragou o narguilé, e me olhou no fundo dos meus olhos.
- Uma lebre, diz? - ele tragou novamente o narguilé, soltando uma densa espiral de fumaça. - O que você procura... está além do que vê. Mas... siga o caminho da incerteza, garoto. E cuidado, o tempo aqui não é como você imagina.
Absolem riu suavemente e de forma debochada, o som ecoando nas árvores ao redor. Antes que eu pudesse responder, a fumaça ao redor dele se dissipou, e Absolem desapareceu, deixando apenas o eco de suas últimas palavras.
"Quem é você Anthony Kingsleigh?"
Ainda atordoado, voltei a me concentrar. Continuei a seguir o caminho, conforme a flor tinha indicado, entrando mais fundo no bosque. O ar começou a se tornar mais denso, as árvores, maiores e mais retorcidas, como se estivessem tentando capturar os viajantes desavisados.
De repente, ouvi o som de algo se movendo rapidamente entre os arbustos. Me virei e, para minha surpresa, vi o coelho que havia me levado até ali. Ele estava parada a poucos metros de distância, me encarando com seus grandes olhos curiosos.
- Ei! - gritei, tentando me aproximar. Mas ele, ágil, pulou para trás, sempre fora de alcance.
Corri atrás dele, tentando alcançá-lo, mas ele parecia saber exatamente o que estava fazendo, saltando entre as árvores vivas que tentavam me deter com galhos e raízes retorcidas. Quanto mais eu corria, mais sentia a floresta se fechar ao meu redor, como se estivesse testando minha determinação.
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Wonderland: a sucessão de Alice
Historia CortaEm 1899, Anthony Kingsleigh é um garoto de 17 anos que ao mesmo tempo que luta pela sua vida, tem que lidar com seus frequentes transtornos de dupla personalidade. Um dia passeando pelo bosque do hospital, cai num buraco de coelho e se depara com Wo...