é uma lembrança ou um pesadelo?
É sempre o mesmo sonho. Sempre do mesmo jeito, na mesma ordem, a mesma chacina. Nathaniel se encontrava novamente, aos onze anos, parado no centro de uma clareira gigantesca, o ar pesado com o cheiro metálico de sangue fresco e o uivo distante de lobos ecoando através da floresta escura. Seu corpo estava coberto de sangue, uma mancha vermelha escura contrastando com sua pele pálida. Ao seu redor, corpos humanos e lobos sem vida estavam espalhados pela clareira, testemunhas silenciosas de uma noite de horror. A luz da lua cheia filtrava-se através das copas das árvores, lançando sombras sinistras sobre a cena macabra.
Nathaniel estremeceu, não só por causa do frio cortante da noite, mas também porque entendia exatamente o que havia acontecido ali.
— Cultri...
O último lobo de pé rosnou seu nome e então caiu. Sua barriga estava exposta, com as entranhas à mostra; em suas mãos, suas companheiras de toda a vida, Craobh Dùbailte e Taibhsea, as adagas que foram um presente de seu pai no dia de seu nascimento. Ele havia treinado com elas desde a primeira vez que conseguiu correr sem cair.
As responsáveis por aquela chacina.
Ao longe, um grito aterrorizante quebrou o silêncio da noite, ecoando pela floresta densa. Nathaniel instintivamente se virou na direção do som, suas adagas ainda firmemente em suas mãos, seus olhos varrendo as sombras em busca de qualquer sinal de perigo.
Um garoto emergiu das árvores, correndo em direção a Nathaniel com uma velocidade impressionante. Seus olhos estavam selvagens e desesperados, e ele parecia estar lutando contra uma força interna. A cada passo mais próximo, suas roupas se rasgavam e sua pele se contorcia em um padrão de pelos.
— Nathaniel Cultri!
Os olhos de Nathaniel se arregalaram enquanto o garoto se transformava diante de seus próprios olhos. O rosto humano deu lugar a um focinho lupino, enquanto o corpo se enchia de músculos e pelos grisalhos tomavam conta de toda a extensão de seu corpo. O garoto havia se transformado em um lobo, um lobo que agora avançava em direção a Nathaniel com feroz determinação. Estava disposto a matá-lo, disposto a rasgar seu corpo, assim como Nathaniel supostamente havia feito com todos aqueles lobos sem vida no chão.
Eles estavam prestes a ser vingados.
O coração de Nathaniel disparou em seu peito, adrenalina pulsando em suas veias.
Instintivamente, ele deu um passo para trás, adagas erguidas em uma tentativa de se defender contra o lobo que se aproximava rapidamente. A mente de Nathaniel girava com uma enxurrada de perguntas e medo, incapaz de compreender o que estava acontecendo diante de seus olhos.
Ele vai morrer.
Ele sabe que vai morrer.
O lobo se aproximou rapidamente, suas narinas dilatadas, bufando ar quente em direção a Nathaniel; ele encarou o lobo à sua frente. Seus olhos não são iguais, não são da mesma cor; um amarelo, outro vermelho. Há algo muito errado com aquele lobo. O lobo rangeu os dentes, sua mandíbula se fechando em uma ameaça silenciosa. Gotas de saliva pingavam de suas presas afiadas, formando pequenas poças no chão folhoso da clareira. A expressão do animal era selvagem e implacável, como se estivesse à beira de um ataque iminente.
No final, ele podia ouvir o lobo penetrando em sua mente, ferindo cada neurônio presente. E então, uma voz, uma voz grossa e sombria que penetra cada parte de seu corpo, arrepiando cada último fio de cabelo:
"Eu vou te matar, Nathaniel Cultri."

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Amor, Facas e Lobisomens
مستذئبO Clã Cultri escondeu seu filho mais velho, Nathan, aos onze anos, em uma pequena cidade no coração dos Estados Unidos para protegê-lo da caça implacável dos lobisomens da Clã Bowyer. Nathan Cultri desapareceu e, em seu lugar, surgiu Nathan Anthony...