Seus Olhos

Capítulo 2

Luiza acordou quase meio dia, sua cabeça ainda rodava e seu estômago parecia se contorcer dentro de si, se praguejou por ter bebido tanto na noite anterior, como pôde ser tão irresponsável e inconsequente com o próprio corpo? Não conseguia raciocinar sobre nada coerente, mas que estava com raiva de si mesma, estava. Com dificuldade virou-se para o lado e sobre o criado mudo estava alguns remédios e ela nem mesmo olhou os nomes, apenas os tomou engolindo com dificuldade. Sentia tudo ainda girar e quis morrer de novo... Estava pensando muito sobre isso ultimamente. Claro que não morrer literalmente, mas fugir do mundo seria uma ótima ideia.

Depois de -com muita dificuldade- tomar um banho, saiu do quarto e foi em direção a cozinha onde Eduarda estava preparando o almoço delas. Não disse nada apenas se sentou de frente para Eduarda. A amiga lhe encarou sobre o ombro e soltou um risinho, Luiza lhe mostrou o dedo do meio e apoiou a cabeça sobre as mãos, ela parecia que explodiria de tanta dor.

- Porque não me impediu? - Sussurrou.

- Sobre você beber que nem uma louca ou sobre você conversar com a gostosa da sua patroa? - Luiza bufou e choramingou baixinho sentindo sua cabeça doer ainda mais ao lembrar da noite anterior.

- O que ela te disse que te deixou daquele jeito? - Eduarda se aproximou e Luiza levantou a cabeça lhe encarando.

- Ela não me disse nada na verdade. Eu é que me torno a pessoa mais idiota do mundo perto dela. - Luiza disse o que atormentava sua mente. - Ela disse que estava na hora de ir e eu incapaz de controlar minha própria língua, pedi em voz alta para que não fosse. Me embaracei toda e sai que nem uma imbecil. - Concluiu com pesar e encarou a amiga novamente, Eduarda assentiu brevemente e virou-se para suas panelas.

- Você não acha que foi uma reação muito exagerada? Tipo... Você é inteligente o suficiente para ter colocado a culpa naquelas míseras três cervejas que você tomou. - Disse enquanto mexia a panela com molho. Luiza suspirou audível e respirou profundamente.

- Qual a parte que você não entendeu que meu cérebro derrete na frente daquela mulher? - Não era mentira, Luiza parecia se transformar em uma adolescente perto de Valentina. Se sentiu assim desde a primeira vez que a encontrou e se sentia assim toda a vez que a via. - Ela me paga muito bem pra ser babá da Ceci e eu amo aquela criança, mas pensei seriamente em apenas ligar para ela e dizer que não irei mais. Não sei com que cara vou olhar pra ela agora, ela deve achar que sou uma idiota e de fato eu sou.

- Amiga, calma... Ela nem deve ter levado a sério e outra você estava bebendo, ela viu e deve ter associado seu comportamento incomum a bebida. - Eduarda ponderou na intenção de deixar a amiga mais calma e mais racional.

- Aí, amigaaa... Eu sonho com aquela mulher quase toda noite, ela nem mesmo me deu um abraço na vida e eu sonho tanta coisa com ela. Isso tem que acabar se não eu vou enlouquecer... - Suspirou cansada e Eduarda riu do drama da amiga.

- Você já bateu uma pensando nela? - Eduarda perguntou e soltou uma gargalhada ao olhar para Luiza que faltou colocar os olhos para fora, seu rosto estava da cor de um tomate. Como Eduarda conseguia perguntar aquelas coisas de maneira tão natural? - Eu vou entender isso como um sim. Ah, não seja boba, Luiza, você é afim dela, claro que sente tesão naquela gostosa.

- Não a chame assim por favor e pare de insinuar essas coisas... Isso parece errado. Ela nem sabe que eu gosto dela e isso é desrespeitoso. - Estava pensando seriamente em pedir demissão, achava muito difícil conviver, mesmo que de vez enquanto, com Valentina. Sabia que não acharia ninguém que pagasse metade do que Valentina pagava em seus serviços e ela precisava do dinheiro, Luiza não aceitava ajuda dos pais e o último emprego que arrumou não foi lá grande coisa. Ainda bem que Eduarda pagava quase todas as contas do apartamento que dividiam. Ela fazia questão inclusive.