Capítulo 6

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Aemond

— Você vai entregá-lo — falei rispidamente ao estarmos sozinho e Aegon me encarou com uma careta.

Como estava sentado, apenas fiquei lá, esperando Aegon começar a dizer o que queria. Normalmente ele não pedia para conversar, nem retrucava. Ou seja, deveria haver uma razão por trás.

— Não posso entregá-lo — resmungou Aegon ao se sentar na minha frente, no estofado menor.

— Sério... Não tira minha paciência — resmunguei bufando e ele ergueu as mãos,  como um sinal de paz.

— Estou realmente falando sério, te juro — disse Aegon suspirando e isso me fez franzir as sobrancelhas em confusão.

— E por qual razão? Se não pôde devolvê-lo para família dele com o dinheiro, então apenas dê a ele o próprio dinheiro — falei sério, cruzando os braços diante dele.
— Já fizemos isso algumas vezes. Se o valor for baixo, posso acrescentar mais para dar ao garoto.

Foram poucas vezes que recorremos a este método, não por não querer e sim pelo próprio desejo das pessoas. Muitos escravos que apareciam, vez ou outra, não queriam ter virado escravos e isso era comum, muito comum na verdade.  No entanto, eles acabavam preferindo viver aqui, no castelo, como escravos. Independente das coisas que teriam que fazer para se manter.

O desejo de status e dinheiro era muito mais atraente para estes ômegas do que suas próprias famílias ou vidas independentes. Afinal, muitos eram vendidos por seus próprios maridos, pais, irmãos e por aí vai.

Até certo ponto, era compreensível.
Ser um ômega solo por aí não era fácil.

— Aemond, o problema é que ele é um escravo criança, entendeu? Ele não tem família, nunca teve — respondeu Aegon com um revirar de olhos e suas palavras me deixaram realmente estagnado.
— Por isso não posso simplesmente entregá-lo. Ele só teve senhores, nunca familiares. Além disso, ele é um ômega lúpus e...

Saber que aquele garoto era um escravo criança foi como o estopim para mim.

O desejo de alguns nobres sempre foram bem transparentes e por isso já havia visto o que essas pessoas são, já tinha ouvido relatos mesmo não querendo. Tinha presenciado o que são esses escravos.

Escravo criança era alguém que nasceu ou virou escravo desde seu nascimento.
Engana-se quem acha que há escrúpulos nas pessoas ruins, porque não tem. Era normal a mortalidade desse "tipo" de escravo, afinal muitos sequer esperavam que as crianças crescessem para praticar seus atos libidinosos, acabando por matar no meio do ato.

Era algo doentio e nojento. Repugnante ao extremo.

— E apenas por ser um lúpus, ele deve passar por um inferno? — resmunguei, cerrando os dentes e fechando os punhos com força.

A forma como lúpus eram tratados eram distintos, afinal ser um alfa como eu, é como um sonho para todos. Como ganhar o maior dos benefícios.
Se eu fosse um ômega lúpus, as coisas não seriam fáceis assim, porque a ideia de ser um ômega lúpus não era o ideal, o correto ou o esperado.

Por isso, sua existência era rara e aqueles que nasciam ômega lúpus eram mortos ou morriam logo cedo.

— Você sabe que não estou me referindo a isto. É apenas a realidade  — disse Aegon suspirando, parecendo bem cansado com assunto, o que era compreensível.
— Falei para as meninas que não o levaria para o salão dos escravos. Então, o que devo fazer se nenhuma opção é viável?

— E... Hã, se você der a alguém que cuide? Alguém que realmente seja bom — perguntei ou sugeri, mas algo parecia errado no meu tom ou em mim mesmo quando o fiz.

Meu escravo - LucemondOnde histórias criam vida. Descubra agora