Hunter's Moon

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Maia Roberts nunca havia confiado em meninos lindos, razão pela qual detestou Jeon Jungkook Wayland desde a primeira vez em que o viu.

Seu irmão, Daniel, havia nascido com a pele cor de mel e os enormes olhos escuros da mãe, e tinha se tornado o tipo de pessoa que colocava fogo nas asas de borboletas para assisti-las queimar e morrer enquanto voavam.

Ele havia a atormentado também, inicialmente de formas sutis e sem importância, beliscando-a onde os hematomas não ficassem evidentes, trocando o xampu por alvejante. Ela reclamava com os pais, mas eles não acreditavam. Ninguém acreditava ao olhar para Daniel, confundiam beleza com inocência e bondade.

Quando ele quebrou o braço dela no primeiro ano do ensino médio, ela fugiu de casa, mas os pais a levaram de volta. No segundo ano, Daniel foi nocauteado na rua por um motorista que o atropelou e fugiu, matando-o no ato. Junto aos pais do lado do túmulo, Maia sentiu vergonha da própria sensação de alívio. Deus, certamente a puniria por estar satisfeita com a morte do irmão, pensou ela.

No ano seguinte, foi o que ele fez. Ela conheceu Jordan. Cabelos longos e escuros, quadris estreitos em jeans gastos, camisetas de bandas de indie rock e cílios como os de uma menina. Ela jamais poderia imaginar que ele se interessaria por ela — meninos daquele tipo geralmente preferiam meninas pálidas, magrinhas, loiras e bonitas como super modelos —, mas ele parecia gostar de suas formas arredondadas. Disse, entre beijos, que ela era linda.

Os primeiros meses foram como um sonho, os últimos, como um pesadelo. Ele se tornou possessivo e controlador. Quando estava com raiva dela, rosnava, e dava-lhe tapas na cara, deixando marcas que se assemelhavam a excesso de blush. Quando ela tentou terminar com ele, o menino a empurrou, derrubando-a no pátio de sua própria casa, antes de correr para dentro e fechar a porta.

Mais tarde, ela beijou outro menino na frente dele, apenas para deixar claro que estava tudo acabado. Maia nem sequer se lembrava do nome do menino. Lembrava de estar andando de volta para casa naquela noite, a chuva molhando seus cabelos com gotículas, lama sujando as calças enquanto ela cortava caminho pelo parque perto de casa.

Lembrava-se da sombra escura explodindo por trás do carrossel de metal, o enorme lobo molhado jogando-a na poça, a dor horrorosa dos dentes do bicho cerrando-se sobre sua garganta. Maia gritou e se debateu, sentindo o gosto do próprio sangue quente na boca, enquanto o cérebro gritava: Isso é impossível. Impossível. Não havia lobos em Nova Jersey, não naquela vizinhança comum, não no século XXI.

Seus berros fizeram algumas luzes se acenderem nas casas da vizinhança, janelas se iluminaram, uma após a outra, como fósforos se acendendo. O lobo a soltou, deixando rastros de sangue e pele rasgada com os dentes.

Vinte e quatro pontos mais tarde, ela estava de volta ao quarto cor-de-rosa, com a mãe caminhando de um lado para o outro, ansiosa. O médico da emergência disse que a mordida parecia de um cachorro grande, mas Maia sabia que não. Antes do lobo se virar para fugir correndo, ela ouviu uma voz quente, sussurrada e familiar no ouvido.

Você é minha agora. Sempre será minha.

Ela nunca mais viu Jordan. Ele e os pais empacotaram tudo que tinham no apartamento e se mudaram, e nenhum dos amigos sabia para onde tinham ido, ou não admitiam saber.

Ela ficou apenas um pouco surpresa na lua cheia seguinte quando as dores começaram: dores cortantes que rasgavam as pernas, de cima a baixo, forçando-a ao chão, curvando-lhe a coluna do mesmo modo que um mágico dobraria uma colher. Quando os dentes explodiram para fora da gengiva e caíram no chão como chicletes, ela desmaiou. Ou pensou ter desmaiado. Acordou a quilômetros de distância de casa, nua e coberta de sangue, a cicatriz no braço pulsando como um batimento cardíaco. Naquela noite pegou o trem para Manhattan.

Shadowhunters: City of Ashes | TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora