O Cuco no Ninho

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Na primeira vez que Taehyung foi ao Instituto, ele parecia uma igreja abandonada, com o telhado quebrado, faixas da polícia amarelas manchadas selando a porta. Agora não precisava se concentrar para afastar a ilusão. Mesmo do outro lado da rua conseguia ver exatamente como era, uma catedral gótica alta, cujos pináculos pareciam perfurar o céu azul-escuro como facas.

Jin estava quieto e silencioso. Pela expressão em seu rosto estava claro que alguma espécie de luta estava sendo travada dentro dele. Enquanto subiam os degraus, Jungkook colocou a mão dentro da camisa, como que por força do hábito, mas quando a puxou de volta estava vazia. Ele riu sem humor.

— Esqueci. Maryse pegou as minhas chaves antes de eu ir embora.

— Claro que pegou. — Jin estava bem diante das portas do Instituto. Ele tocou gentilmente os símbolos esculpidos na madeira logo abaixo da arquitrave. — Essas portas são exatamente com as do Salão do Conselho em Idris. Pensei que nunca fosse voltar a ver uma do tipo.

Taehyung quase se sentiu culpado por interromper o devaneio de Jin, mas havia questões que precisavam ser resolvidas.

— Se não temos chave...

— Não precisamos de chave. Um Instituto deve estar aberto a qualquer Nephilim que não tenha intenção de machucar os habitantes.

— E se eles quiserem nos machucar? — murmurou Jungkook.

Os cantos da boca de Jin tremeram.

— Acho que não faz diferença.

— É, a Clave sempre organiza as coisas do jeito dela. — A voz de Jungkook soou abafada. O lábio inferior estava inchando, e a pálpebra esquerda ficando roxa. Por que ele não se curou?, perguntou-se Taehyung.

— Ela pegou a sua estela também? — perguntou ele.

— Não peguei nada quando saí — disse Jungkook. — Não queria levar nada que os Lightwood tinham me dado.

Jin olhou para ele com preocupação.

— Todo Caçador de Sombras precisa ter uma estela.

— Eu arrumo outra — retrucou Jungkook, e pôs a mão na porta do Instituto. — Em nome da Clave, peço entrada nesse local sagrado. E em nome do Anjo Raziel, peço suas bênçãos em minha missão contra...

As portas se abriram. Taehyung pôde ver o interior da catedral através delas, a escuridão sombria iluminada aqui e ali por velas em candelabros de ferro altos.

— Bem, isso é conveniente — disse Jungkook. — Acho que é mais fácil conseguir uma bênção do que eu tinha imaginado.

— O Anjo sabe qual é a sua missão — disse Jin. — Você não precisa pronunciar as palavras em voz alta, Jonathan.

Por um instante Taehyung pensou ter visto alguma coisa passar pelo rosto de Jungkook, incerteza, surpresa, talvez até alívio?

— Não me chame assim. Não é o meu nome. — Foi tudo o que disse no entanto.

Passaram pelo andar térreo da catedral, pelos bancos vazios e pela luz queimando eternamente no altar. Jin olhou em volta curioso e até pareceu surpreso quando o elevador, como uma gaiola dourada, chegou para transportá-los para cima.

— Isso deve ter sido ideia da Maryse — disse ao entrarem. — É a cara dela.

— Está aqui há tanto tempo quanto eu — disse Jungkook enquanto a porta se fechava atrás deles.

O trajeto de subida foi breve, e ninguém falou. Taehyung ficou mexendo nervosamente nas franjas do cachecol. Ele se sentia um pouco culpado por ter dito a Namjoon ir para casa e esperar até que ligasse mais tarde. Percebeu pelo contrair irritado dos ombros enquanto ele ia embora que ele se sentiu sumariamente dispensado. Mesmo assim, não conseguia imaginar tê-lo ali, um mundano, enquanto Jin argumentava com Maryse Lightwood a favor de Jungkook. Apenas tornaria tudo ainda mais constrangedor.

Shadowhunters: City of Ashes | TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora