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- CAPÍTULO 02 -

Viserra estava sentada no parapeito da janela de seus aposentos, os olhos perdidos na vastidão do mar de telhados e torres que compunham Porto Real. A Fortaleza Vermelha, normalmente imponente e vibrante, parecia uma prisão dourada naquela manhã. A princesa sentia a pressão crescente que se acumulava sobre seus ombros, uma sensação que a deixava inquieta e irritada.

A convocação do dia anterior ainda ecoava em sua mente. As palavras do pai, a rigidez em seu tom, a forma como ele a olhara com desdém, tudo contribuía para a sensação de que algo estava por vir. Viserra, no entanto, não estava preparada para ceder tão facilmente ao destino que parecia ter sido traçado para ela.

- Eu não vou casar - ela murmurou para si mesma - Não com quem ele escolher.

A porta de seus aposentos se abriu devagar, e Jocelyn Baratheon, sua cunhada, entrou com um sorriso acolhedor.

- Bom dia, Viserra - disse ela, aproximando-se da janela. - Você está bem?"

Viserra virou o rosto para Jocelyn, o olhar endurecido suavizando-se um pouco surpresa pela visita repentina. Aquilo nunca acontecia.

- Tão bem quanto se pode estar quando se é tratada como uma moeda de troca - respondeu ela, seu tom mordaz.

Jocelyn suspirou e sentou-se ao lado de Viserra, observando o horizonte.

- Eu sei que parece assim agora, mas... às vezes, as coisas acontecem por razões que não podemos ver de imediato.

- Você está defendendo o que meu pai quer fazer? - Viserra perguntou, a incredulidade tingindo sua voz.

- Eu não estou defendendo nada - Jocelyn respondeu calmamente - Estou apenas tentando ajudá-la a ver que, mesmo nas situações que parecem desesperadoras, ainda temos algum poder. Não somos completamente impotentes, Viserra. A questão é saber como usar esse poder.

Viserra ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras da cunhada.

- Que poder? Meu pai me odeia. Oque você sugere que eu faça? Que eu sorria e acene, como uma boa filha obediente?

- Não. Eu sugiro que você descubra o que realmente quer, e então lute por isso. Se você não quer esse casamento, Viserra, encontre uma maneira de dizer isso de uma forma que o rei não possa ignorar.

A jovem princesa respirou fundo, sentindo a revolta ainda borbulhar dentro dela. Mas talvez Jocelyn estivesse certa. Talvez houvesse uma maneira de escapar desse destino sem que ela tivesse que renunciar à sua própria dignidade.

- Eu só queria ser livre - Viserra sussurrou, a voz embargada por um desejo profundo. - Livre para fazer minhas próprias escolhas, para viver minha própria vida.

Jocelyn colocou a mão sobre a dela, apertando-a gentilmente.

- Eu sei, querida. E quem sabe, talvez um dia você encontre essa liberdade.

Viserra olhou para Jocelyn, sentindo uma faísca de esperança se acender em seu peito. Talvez ainda houvesse uma chance de que ela pudesse moldar seu próprio destino. Mas uma coisa era certa: ela não se curvaria sem lutar. Não era do seu feitio desistir tão facilmente.

- Obrigada, Jocelyn - disse ela, sorrindo pela primeira vez naquela manhã.

- Eu sabia que você diria isso. - a cunhada sorriu levantando-se - Agora, se precisar de mim, estarei por perto. Apenas não faça nada... impulsivo, está bem.

- Eu? Impulsiva? - Viserra riu levemente - Nunca! Que blasfêmia!

As duas riram juntas, mas a determinação que Viserra sentia era real. Ela não seria um peão no jogo de seu pai. Ela encontraria uma maneira de tomar as rédeas de sua própria vida, e ninguém, nem mesmo o poderoso Jaehaerys Targaryen, a impediria.

In another life | Baelon e Viserra Targaryen | Fire and BloodOnde histórias criam vida. Descubra agora