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* Queimando as Pontes*

As semanas que se seguiram ao beijo tornaram-se uma espiral de jogos mentais, olhares furtivos e encontros que se escondiam nas entrelinhas da rotina escolar. Hyunjin se pegava repetidamente revivendo o momento, sentindo o gosto residual da mistura de cigarro e morango nos lábios como um lembrete constante de que algo dentro dele havia mudado. E Minho, como sempre, agia como se nada tivesse acontecido, mantendo o mesmo sorriso cretino e a postura relaxada, mas com uma tensão sutil sempre presente.

Era como se eles estivessem em uma dança silenciosa, onde nenhum dos dois estava disposto a dar o primeiro passo para quebrar o ciclo ou, talvez, levar tudo ao próximo nível. Em vez disso, ambos mantinham o jogo perigoso e intoxicante, onde provocação e incerteza se misturavam em doses que os faziam tanto odiar quanto desejar a presença um do outro.

Na escola, as interações seguiam com aquela linha tênue entre o comum e o tenso. Nos corredores, trocavam olhares carregados de significados ocultos. Nos intervalos, Minho sempre fazia questão de se posicionar onde pudesse ser visto por Hyunjin, às vezes cercado por Christopher, Changbin e os outros, às vezes sozinho, mas sempre com aquela postura indolente, como se estivesse à espera de algo.

Uma noite, depois de horas de estudos frustrantes, Hyunjin não conseguiu mais ignorar o impulso. Pegou o celular e enviou uma mensagem para Minho, a raiva e a curiosidade misturando-se em seus dedos enquanto digitava: **“Ainda jogando?”**

A resposta veio quase instantaneamente: **“Sempre. Quer entrar no jogo de novo?”**

Hyunjin hesitou por um segundo antes de responder: **“Me encontre na ponte perto do parque, às 20:00 hora.”**

A ponte mencionada era um local conhecido, uma área quase deserta durante a noite, com luzes fracas e cercada por árvores que deixavam o ambiente com uma atmosfera de abandono e mistério. Era o tipo de lugar que combinava perfeitamente com o que estava acontecendo entre eles – algo à margem do que deveria ser, envolto em sombras.

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O vento estava frio quando Hyunjin chegou à ponte, as folhas secas se amontoando nas beiradas enquanto ele olhava para o rio abaixo. A água escura refletia o brilho fraco das luzes, criando uma cena melancólica, quase onírica. Ele puxou o casaco para mais perto do corpo, tentando afastar o frio, mas a verdadeira fonte de desconforto estava na expectativa que o consumia por dentro.

Minho não demorou a aparecer. Ele surgiu das sombras com passos tranquilos, as mãos nos bolsos e um cigarro pendurado nos lábios. O brilho da ponta acesa era a única cor em seu rosto enquanto ele caminhava na direção de Hyunjin.

“Curioso você me chamar aqui,” Minho disse, parando ao lado de Hyunjin e apoiando-se na grade da ponte. “Achei que preferisse continuar evitando.”

“Eu não estou evitando nada,” Hyunjin respondeu, mas sabia que estava tentando convencer a si mesmo tanto quanto Minho.

Minho deu uma risada baixa, soltando uma nuvem de fumaça no ar. “Sério? Porque você me parece bem desconfortável.”

Hyunjin o encarou, as sobrancelhas franzidas. “Você gosta disso, não é? Deixar as pessoas inseguras, testá-las, ver até onde podem ir antes de quebrar.”

Minho virou-se para ele, a expressão suave, mas com aquele brilho perigoso nos olhos. “E você gosta de ser testado. Não estaria aqui se não gostasse, Hyunjin.”

Por um momento, nenhum dos dois disse nada. A tensão era quase palpável, carregada de palavras não ditas e emoções conflitantes. Hyunjin sabia que, a cada passo nesse jogo, ele se afundava mais em algo que o assustava, mas que também o atraía como um vício.

“Por que você faz isso?” Hyunjin finalmente perguntou, a voz mais baixa, quase derrotada. “Qual é o seu objetivo, Minho?”

Minho deu uma última tragada no cigarro antes de jogá-lo no chão e esmagá-lo com o pé. Ele se aproximou de Hyunjin, invadindo seu espaço pessoal de novo, mas dessa vez com uma calma perigosa. “Meu objetivo? Eu só gosto de descobrir o que faz as pessoas funcionarem, o que as move… e você é um enigma interessante, Hyunjin. Você tenta tanto se esconder atrás dessa fachada de perfeição, mas no fundo, quer ser destruído, não é?”

As palavras de Minho cortaram fundo, atingindo algo que Hyunjin tentava desesperadamente ignorar. Ele sentiu o corpo todo ficar tenso, mas também uma onda de calor atravessar sua espinha. Ele odiava como Minho conseguia vê-lo tão claramente, como se desvendasse suas inseguranças com uma facilidade irritante.

Hyunjin, no entanto, não se deu por vencido. Deu um passo à frente, recusando-se a recuar, mesmo que seu coração estivesse batendo descontrolado. “E você? Qual é a sua desculpa para ser tão cretino? Fica aí se escondendo atrás desse sarcasmo e joguinhos, mas talvez seja você que tenha mais medo do que qualquer um.”

Minho não se abalou com a provocação. Ao invés disso, ele sorriu, um sorriso lento e provocante, e levantou a mão para tocar o rosto de Hyunjin. O toque foi leve, quase um carinho, mas carregado de intenções dúbias. “Medo não é o que eu sinto quando olho para você, dançarino.”

O mundo pareceu parar por um segundo. Hyunjin sentiu a respiração falhar ao perceber que estavam perigosamente próximos, tão próximos que o calor do corpo de Minho o envolvia como uma nuvem. Ele queria resistir, manter o controle, mas sabia que o controle já havia escapado há muito tempo.

Foi Minho quem quebrou a tensão, afastando-se com um suspiro teatral. “Você é divertido, Hyunjin, mas está complicando demais. Isso aqui não precisa ser tão sério, sabe?” Ele acendeu outro cigarro, com a mesma calma de sempre, como se nada tivesse acontecido.

Hyunjin sentiu uma onda de frustração e raiva, mas também de desejo. Ele estava perdido nesse jogo, e o pior de tudo era que sabia que estava gostando.

“Eu devia simplesmente te deixar falando sozinho,” ele murmurou, mais para si mesmo do que para Minho.

Minho soltou a fumaça em um riso baixo. “Pode tentar, mas nós dois sabemos que você não vai.”

E ele estava certo. Hyunjin sabia que estava preso em algo que não sabia como terminar – um laço entre raiva e desejo, entre o medo de ser destruído e a excitação de descobrir até onde poderia ir. E Minho, com todo o seu cinismo e autoconfiança, era o catalisador perfeito para essa autodescoberta perigosa.

O céu acima deles estava escuro, sem estrelas visíveis, como se a própria noite estivesse guardando seus segredos. A ponte continuava deserta, exceto por eles dois, sozinhos em um universo que parecia existir apenas para aquele confronto silencioso.

Quando finalmente se afastaram e seguiram caminhos opostos para casa, Hyunjin não conseguia afastar a sensação de que algo inevitável estava por vir. Ele sentia o gosto amargo de cigarro ainda na boca, mas o que mais o incomodava era a percepção de que, em algum ponto, ele começava a esperar por esses encontros tanto quanto os temia.

E, mais uma vez, ele sabia que o jogo estava longe de acabar.

Continua...

Entre Fumaças e Batidas de CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora