Memórias do Perdão

444 42 52
                                    


Ainda me recordo da nossa conversa. Do instante em que corri até sua casa, depois da sua declaração, para dizer que seu amor era e sempre seria correspondido. Me lembro da sensação de atravessar aquela porta após dar o abraço mais sincero da minha vida. Nossa conversa não foi na sala de estar, foi no quintal. Nos sentamos cada uma em uma espreguiçadeira, de frente para a outra, com os olhos marejados e as mãos trêmulas.

“É sério?”, ela sussurrou, com a voz fraca e o tom inseguro.

“Eu não acredito que você está duvidando…”, respondi, com um leve sorriso.

Cate soltou um suspiro suave e trêmulo. Os olhos dela ainda estavam vagando pelo meu rosto como se ela não pudesse acreditar que eu estivesse ali, e ela estava apenas tentando ter certeza de que eu não desapareceria novamente.

“Você pode me culpar? Isso pode ser um sonho. Quer dizer, estou realmente cansada.”

“Isso seria uma droga.” Ela soltou uma risada curta e suave.

“Sim, seria uma droga”, admitiu, ainda com um pequeno sorriso. Os olhos dela estão grudados em mim, nem uma vez ela desviou o olhar.

“Mas eu estou aqui. Você não está delirando.”

“Eu sei. Mas não parece real. Ou pelo menos não ainda”, ela disse, soltando outro suspiro trêmulo. Ela estava olhando para o meu rosto novamente, estudando cada traço. “É só que…”, começou, engolindo o nó que se formou em sua garganta. “Eu achei que tudo tinha acabado.”

“Por um instante, eu também pensei assim, não vou mentir”, confessei, cruzando as pernas e fixando o olhar nas minhas mãos, que se moviam desajeitadamente.

“Sinto muito, S/n. Sinto muito pelo que aconteceu, pelo que eu fiz…”

“Você já se desculpou.”

“Sim, mas dizer isso cem vezes não seria o suficiente.”

“Sabe de uma coisa? Acho que entendo. Você me contou como era seu casamento, o que você passou... Eu consigo entender.”

Um pequeno sorriso triste se formou no rosto de Cate. Ela sabia que eu provavelmente entenderia, que eu tentaria entender.

“Você não precisa tentar entender ou justificar isso. Isso não muda o que eu fiz.”

“Mas…”, eu tento continuar, mas Catherine me interrompe. Ela solta um pequeno suspiro, olhando para mim com uma expressão suplicante e segura minha mão ainda mais forte.

“Por favor… apenas me escute…” Eu assenti. Ela respira fundo, soltando o ar lentamente antes de falar: “Eu sei que você entende. Eu sei que você está tentando entender, e eu sei que você está tentando ser solidária e perdoadora, mas... você não precisa. Você não precisa desculpar o que eu fiz por causa do que aconteceu comigo. Isso não muda o que eu fiz”, falou Cate, com uma voz trêmula e suave novamente. Mais uma vez, ela engoliu o nó que estava se formando em sua garganta. Ela tinha uma expressão de dor no rosto, como se estivesse lutando com essas palavras.

“Mas é compreensível, Cate.”

Ela soltou uma risada curta e amarga.

“Compreensível ou não, não muda nada, Hernández”, repetiu, fechando os olhos e suspirando, quase como se estivesse tendo uma discussão interna consigo mesma. As mãos dela ainda seguravam as minhas, agora as agarrando quase desesperadamente.

“Por que isso importa agora?”

Os olhos de Cate se abriram com a minha pergunta. Após um momento de silêncio, ela soltou um suspiro trêmulo, desviando o olhar.

Be Mine: O Próximo PassoOnde histórias criam vida. Descubra agora