cap 5

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Ele estava sentado no meu colo, passando a mão suavemente sobre a cicatriz no meu olho. Permanecíamos em silêncio, ainda tentando processar a estranha realidade de estarmos juntos daquela maneira. Era difícil acreditar que ele estava ali, comigo, de forma tão íntima e, surpreendentemente, sóbrio. Claro, depois do sacode que dei nele mais cedo, ele parecia ter se acalmado.

O silêncio foi interrompido por uma pergunta que poderia muito bem destruir o clima romântico que se formava.

- Como você conheceu o garoto do mercado? Qual era o nome dele mesmo? - perguntou ele, fingindo desinteresse, mas o brilho nos olhos revelava suas verdadeiras intenções.

- Isso não importa - respondi, tentando manter a leveza. Mas ele ficou sério.

- Importa sim! - falou, com uma ponta de irritação na voz.

Suspirei, sabendo que ele não deixaria passar.

- Conheci ele no bordel. O nome dele é Amora... mas é só um nome artístico.

- Artístico? - Ele arqueou uma sobrancelha, intrigado.

- Sim, porque ele é doce e rosado - tentei rir, mas ele me deu um tapa leve no ombro. - Ei!

- E como você sabe disso?

- Ah, é tipo uma apresentação que eles fazem - comecei a pensar em como explicar melhor - Hm, o Limão, por exemplo, se chama assim porque ele é amargo, mas com um pouco de bebida fica uma delícia. Entendeu?

- Hm... - Ele murmurou, claramente incomodado. - Então são dois homens? - cruzou os braços, desconfiado.

- Eu não me deitei com nenhum deles! - afirmei, tentando me antecipar às suas próximas perguntas.

- Espero que não mesmo! - Ele revirou os olhos, mas logo sua expressão suavizou. - Marimo?

- Hã? O que foi?

- Qual seria meu nome no bordel? - Seus olhos brilhavam de curiosidade.

- Você tá maluco? Você jamais pisaria num lugar daqueles, eu nunca deixaria! - Ele franziu a sobrancelha.

- Ah, mas você pode, né?

- Eu só entrei porque achei que era um bar!

- Seu safado! Responde logo a minha pergunta!

- Bom... Abacaxi?

- Por quê? - Ele perguntou, surpreso.

- Porque é gostoso, mas é mó trampo pra conseguir comer. - Comecei a rir, e apesar da cara de bravo que ele fez, não conseguiu evitar soltar um sorriso sem graça.

- Você acha que isso vai durar para sempre?

- Do que você está falando? - perguntei, enquanto alisava seu cabelo.

- Você acha que vai me amar para sempre?

- Eu te amei para sempre na minha vida passada, vou te amar para sempre nesta vida, e na próxima, eu também vou te amar para sempre - respondi, sentindo-me um verdadeiro poeta.

Ele riu suavemente e me envolveu em um abraço.

- Eu te amo, mesmo que às vezes você diga umas besteiras.

- Besteiras? - perguntei, confuso.

Ele sorriu e murmurou baixinho:

- Boa noite, Marimo.

Ele fechou os olhos, deixando-me sozinho e confuso, mas não preocupado. Eu o abracei, e então adormecemos juntos, mais uma vez na mesma cama, abraçados.

Luxúria  - Zorosan Onde histórias criam vida. Descubra agora